Invertida Pt.2

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Não demorou muito para eu perceber que havia trocado meus velhos problemas com Kim Sunoo, por um novo conjunto de problemas com Kim Sunoo. Eu podia sentir sua raiva a um quilômetro de distância. E pra ser sincero, não gostei nenhum pouco disso.

Na verdade, era pior ter ele bravo comigo do que ter ele me assediando. A forma como ele me ignorava, ou tão obviamente me evitava, era um gritante lembrete para mim de que eu tinha sido um idiota. Um idiota real com cara de bunda. Então um dia quando eu voltava para casa após sair com Jake depois da escola, eu vi Sunoo em seu jardim da frente, cortando um arbusto. Ele estava muito impaciente, e enquanto jogava os ramos para a pilha de folhas e galhos sem ao menos olhar para trás, eu podia ouvi-lo grunhir e rosnar e dizer coisas como, ─ Não... Você... Não! Você vai sair... Se você gosta ou... Não!

Eu me senti bem com isso? Não, meu amigo, eu não. Sim, o jardim deles era uma bagunça, e já era hora de alguém fazer algo sobre isso, mas porque tinha que ser Sunoo? onde está o pai? E quanto a Seojun? Isso não era responsabilidade de Sunoo, isso me irritou. Principalmente, porque acima de tudo, eu sabia que a culpa era minha, porque eu o tinha envergonhado e debochado da sua casa, é por isso.

Então eu me esgueirei para dentro de casa e tentei ignorar o fato de que bem em frente a minha janela, e do outro lado da rua estava Sunoo, brigando com arbustos. Por minha causa. Foi inútil tentar me concentrar nos estudos, eu só conseguia olhar para ele e me sentir mal por cada palavra que eu disse.

Na escola, eu decidi que era hora de me atrever a dizer algo para ele, mas nunca tive a chance. Ele não me deixou chegar perto uma vez sequer! quando eu me aproximava ele corria, ou apressava o passo com uma expressão irritada. Quando eu tentei me sentar perto dele durante o almoço para termos uma conversa, ele saiu do meu lado como se eu estivesse pegando fogo. Então eu percebi que não adiantaria tentar me aproximar dele para voltarmos ao que éramos antes, se é que éramos alguma coisa. Eu queria agir como se nada tivesse acontecido, mas estava bem óbvio o que faltava. Era um pedido de desculpas que faltava. Mas só dizer não iria surtir efeito. Eu precisava pensar em alguma coisa.

Então na volta para casa eu tive este pensamento. Ele meio que me assustou no começo, mas quanto mais eu brincava com ele, mais eu achava que, sim, ajudá-lo com o quintal iria compensar eu ter sido um idiota. Eu não iria ajudá-lo a reconstruir todo o quintal, eu iria até lá e apenas diria que me sentia mal por ser um imbecil completo e que queria me desculpar, ajudando-o a cortar alguns arbustos. Pronto. Fim da história. E se ele ainda quisesse ficar bravo comigo depois disso, então tudo bem. Não seria mais problema meu. No entanto, eu nunca tive a chance. Eu vim correndo do ponto de ônibus animado para me oferecer como ajudante, só para encontrar meu primo fazendo a boa ação que deveria ser minha.

Agora, deixando todo o meu plano de me desculpar de lado. A ideia de ter meu primo sendo amigo de Kim Sunoo não foi algo que eu pudesse absorver imediatamente. Eles apenas não... Combinavam. Quero dizer, eles têm personalidades completamente diferentes. Sunoo costumava ser animado e falador antes do sicômoro, já meu primo, não trocava ao menos cinco palavras comigo. Heeseung não fazia trabalho no nosso quintal. Pelo menos, ele nunca se ofereceu para me ajudar. Ele vivia de chinelos em casa, onde ele conseguiu aquelas botas de trabalho? E aquelas calças jeans e aquela camisa de flanela, o que aconteceu com elas?

Eu me agachei atrás da cerca de um vizinho e os observei por dez ou quinze minutos, e cara, quanto mais eu assistia, mais louco eu ficava. Meu primo já havia dito mais a ele nessa pequena fatia de tempo do que já me dissera em quase dois anos de convivência. Qual era o lance dele com Kim Sunoo? Eu não sabia o porque de meu primo estar tão interessado nele, Sunoo era... Pensando bem, nunca parei para pensar sobre Sunoo, eu só o via sob uma perspectiva defeituosa, o garoto que sempre queria ficar próximo demais de mim e não conhecia a palavra limites. Mas de uma coisa eu sabia, e tinha que concordar com todos que o conheciam, seja por bem ou por mal, ele não era nem de longe igual a todos.

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