Avalanche

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Todos os dias desde o jantar tem sido muito esclarecedores para mim, é como se eu não precisasse mais me sentir ansioso por simplesmente estar perto de Sunghoon. Eu não me sentia mais nervoso, de fato. Devo isso a todas as minhas expectativas quebradas.

De certa forma a culpa nem é totalmente dele! Quem criou uma ideia sobre uma pessoa que não existia fui eu. Fui eu também que imaginei coisas e ações inexistentes, e sentimentos que ele nunca sentiu.

Na verdade ele é comum, mas não no sentido de aparência. Ele continua incrivelmente lindo, não poderia negar isso nem se fosse cego, os olhos dele ainda tinha o brilho das estrelas, e ainda me deixava atônito. Mas algo em sua essência, algo em seu jeito de ser, suas companhias e tudo que o rodeava pareciam tão... mesquinhos, tão decepcionantes. Não havia nada que realmente valesse a pena destacar em suas ações. Me pergunto se Sunghoon sempre foi assim, e meus sentimentos eram o que me faziam enxergá-lo de outra forma.

Quando eu contei para Jungwon o que aconteceu no jantar, eu meio que acabei desencadeando um longo e consistente falatório diário sobre o quanto Sunghoon era covarde, sem vergonha, sonso, mentiroso, arrogante, cara de pau, sem caráter e cínico. Jungwon não maneirava nas palavras, e por mais que Sunghoon supostamente fosse tudo isso mesmo, eu ainda me sentia incomodado com tantas coisas ruins sendo despejadas sobre ele.

Mas eu me calei, porque se Jungwon me ouvisse defendê-lo depois de tudo o que aconteceu, eu certamente seria o próximo alvo das suas palavras não tão agradáveis.

Fala sério, garoto! Como alguém pode ser tão cara de pau? Ele falava e falava. Ele que não se atreva a se aproximar de você.

Todos os dias eu tinha que ouvir sobre como Sunghoon era uma pessoa horrível, e sobre como ele nunca mais o deixaria chegar perto de mim, mas... É verdade que se não fosse por ele, eu certamente estaria conversando com Sunghoon normalmente. De certa forma ele sempre estava ali, pedindo algo emprestado ao primo, ou cruzando meu caminho nos corredores, nesses momentos Jungwon me puxava para dar meia volta.

O que me irritava realmente não era ele estar agindo como meu protetor ou algo do tipo, pra ser sincero eu adorava esse lado do meu amigo. Mas com isso eu não conseguia não pensar em Sunghoon. Quando estávamos entretidos em uma conversa interessante, e de repente Sunghoon chegava pedindo algo emprestado para Heeseung, Jungwon simplesmente esquecia sobre o que estávamos conversando e ficava falando sobre o quanto Sunghoon era cara de pau. Em uma dessas vezes ele até se desentendeu com o Hyung, que disse para pegar leve com as palavras. Então os dois discutiram brevemente, mas acabaram fazendo as pazes quando eu ameacei ir embora dali. Eu já estava farto dessa situação, que se perdurou por semanas.

Então um dia quando Jungwon e eu estávamos sentados nos corredores das prateleiras de livros na biblioteca durante o intervalo, eu estava cheio de tanto ouvir sobre Sunghoon, bem ou mal. Eu apenas queria esquecer tudo que tinha acontecido. E querendo ou não, Jungwon não estava contribuindo para que isso acontecesse. Então eu dei um basta.

— Jungwonnie! Por favor, chega de falar sobre Park Sunghoon. — Implorei quase choroso. — Já sei que ele não vale nada. Vamos apenas aceitar o que ele fez e conviver com essa realidade. De nada vale continuar o martirizando. Ele se desculpou, cabe a mim aceitar as desculpas, e eu aceitei. — Segurei sua mão. — Não vou mais falar com ele como antes, mas também não vou ignorar sua existência. Então, Jungwonie, por favor. Vamos esquecer ele e falar sobre outras coisas.

Ele respirou fundo e me olhou compreensivo. Por mais que estivesse odiando Sunghoon e xingá-lo fosse sua forma de desabafar, ele entendia que nossa relação era mais do que falar sobre garotos e suas atitudes estúpidas, então apertou minha mão e disse: — Sunoo, não deixe outras pessoas brincarem com o seu coração. — Me deu um tapa leve na cabeça. — Você é bom demais para qualquer um nesse mundo. Mas aposto que se ele viesse rastejando te pedir em namoro você aceitaria sem nem pestanejar. — Falou brincalhão.

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