𝚃𝚛𝚘𝚒𝚜

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Sign of the times

Apenas pare de chorar
É um sinal dos tempos
Bem-vindo ao show final
Espero que você esteja vestindo suas melhores roupas



Je te laisserai des mots
En-dessous de ta porte
En-dessous de la lune qui chante

 
Fecho meu caderno, e o coloco em cima da mesa da cafeteria. Seguro a pequena louça de porcelana em minhas mãos e a levo em direção a minha boca. Solto um suspiro quando o líquido quente entra em contato com aminha língua, e o meu paladar sente o gosto amargo do café.

  Faz exatamente 3 dias desde que cheguei no País, 3 dias que eu a vi pela primeira vez, depois de demasiado tempo.

Eu e Emily somos órfãs, fomos mandadas para um convento no sul da Inglaterra. Crescemos juntas, aprendemos a fazer tudo uma com a outra. Emily sendo 2 anos mais velha que eu. Desde pequenas sempre fomos muito grudadas uma na outra, o que me levou a várias noites ajoelha na frente do altar de Cristo, por pecar diante dele e em sua casa. A dona do orfanato, Doberman, sempre dizia que meninas não poderiam ter o tipo de intimidade que eu e Emily tínhamos. Se os céus falassem, ela seria a última profetisa verdadeira. Cada domingo ficava mais sombrio, um veneno fresco a cada semana. "Vocês nasceram doentes", a escutava dizer. "Minha igreja não oferece absolvições, louvre entre quatro paredes". O único paraíso onde eu seria enviada, seria aquele que eu estaria sozinha com Emily. Eu nasci doente, mas eu adoro isso. Leve-me à igreja, e eu louvarei como um cão, no santuario de tantas mentiras. Vou confessar todos os meus pecados, para enfiarem uma faca nas minhas contas, bom Jesus.

Você não pode subornar a porta em seu caminho para o céu
Você parece estar muito bem aqui embaixo
Mas você não está realmente bem

Ambas apenas duas crianças, ingênuas. Eu nunca entenderia que, o frio na barriga que eu sentia quando minha amiga segurava em minha mão, era por nutrir sentimos por ela. Sentimentos esses que eram os mais puros que já existiram. Depois que eu cresci, e a adolescência chegou para nós duas, eu pude perceber que eu sempre, verdadeiramente amei Emily Elizabeth Dickinson. Com todo o meu coração. Cada parte do meu corpo sempre vai amar cada parte dela, até as piores.

  O convento era grande, tinha a parte da capela em baixo, como qualquer outra igreja, e na parte superior uma casa normal, com quartos e banheiros. A cozinha ficava em outra parte, junto com a estufa, que era o meu lugar favorito. Eu e Emily sempre passávamos a tarde lá, ela lendo ou escrevendo poemas bonitos sobre flores, joaninhas, árvores, plantas coloridas. E poemas para mim. Ela escreveu os mais belos poemas sentada no chão da casa de vidro, e eu apreciei cada verso, cada simples palavra. Sempre. Emily me trazia paz, ela era minha família.

Até ela me deixar, sem nenhuma explicação.

  Arrumo minhas coisas na mochila, e vou em direção ao caixa. Pago minha conta e saio da cafeteria, rumo ao meu hotel.

  Nunca cheguei ao ponto de demorar tanto para executar um serviço. Sempre fora muito fácil, quando não se tinha envolvimento pessoal com a vítima. E por mais que a raiva me consuma inteiramente, aquela mágoa, por ter se decepcionado com a última pessoa que você pensou que um dia iria te ferir desse jeito, eu nunca seria capaz de machucá-la . A Sue de um capítulo anterior era uma outra personalidade minha.

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