A fúria do castelo

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Tedros sai a galope do massacre acontecendo em Camelot, enquanto isso um turbilhão de pensamentos passavam pela sua cabeça, seu reino... seu povo queria-o morto, junto com toda sua família, já que o povo andava insatisfeito com a liderança do atual monarca, na verdade agora morto, Arthur Pendragon. Tedros tinha sua parcela de culpa, afinal ele era um pouco esnobe, materialista e cabeça dura, e talvez... um pouco namorador demais, mas ei! Não é culpa dele que ele é tão irresistível e romântico que as garotas o querem para si.
Depois de muito galopar, com diversas feridas, muito cansaço e uma fome voraz, Tedros se depara com um castelo. Castelo esse sombrio e coberto pelas nuvens de chuva da atual tempestade ocorrida. Ele então decide tentar entrar e pedir abrigo, só por aquela noite. Mal sabia o ex-príncipe que era naquele palácio que vivia um monstro sedento por sangue, que se escondia nas sombras, porém, que o vigiava da escuridão.
O cavalo relinchava, assustado. Porém Tedros não sabia se era por conta dos trovões e raios ou por causa do castelo que se erguia furiosamente sobre o morro.
O castelo tinha torres pontudas que lembravam um chapéu de bruxa, telhados e tijolos negros revestiam as paredes enquanto vinhas serpenteavam malignamente por entre os muros. O castelo também aparentava ter um jardim grande, com muitas rosas vermelhas e outras flores que Tedros não saberia identificar, afinal; ele não era botânico.
Seus cabelos dourados roçavam na sua testa e Tedros bateu no portão alto de ferro.
— Olá? Eu poderia passar a noite? Não sou perigoso!- Depois de proferir essas palavras, Tedros pensou ter escutado uma risada grave vindo de trás dele, porém lá só havia uma escura floresta e seu fiel cavalo Perseu, que ainda parecia inquieto.
Até que, com um arrepio na espinha de Tedros, o portão se abriu. Sozinho; e com um rangido agudo.
Perseu começou a se inquietar ainda mais, Tedros tentou segurar a rédea dele, porém seu cavalo partiu floresta a dentro, como se qualquer coisa fosse melhor que entrar no castelo escuro. Parece que Perseu não era tão leal assim, afinal.
Ele correu para chegar na porta de entrada e bateu, a mesma rapidamente se abriu, revelando um confortável hall de entrada com lustres brilhantes, e mobília cor de carmim.
'Meu castelo era maior' Tedros pensou. Porém seus olhos chegaram numa escada de madeira de carvalho lindíssima,  na qual ele devagar se deu o privilégio de subir.
A casa parecia estar vazia, o que era estranho, afinal, quem abriu o portão e a porta para ele? Mas a casa continuava silenciosa.
Até que Tedros ouviu um barulho; aliás, um miado. Quando ele se virou, um gato careca o encarava, com olhos de cores diferentes, um verde o outro azul, o gato não parecia contente em ver Tedros, nem vice-versa.
O gato andou alguns passos ficando na frente de Tedros, bem na entrada de um corredor cheio de portas, feitas do mesmos material da escada. Porém também tinham diversos quadros. Tedros não pôde deixar de dar uma 'espiadinha' em cada um deles. Na primeira pintura, um homem de bigode e terno junto com uma mulher e uma criança, a mulher tinha a pele clara como porcelana e cabelos pretos curtos, a criança era quase uma cópia exata da mulher, Tedros supôs que seriam a família que morava lá.
Em outro quadro, apenas a criança e o homem estavam lá, a criança parecia abatida, o homem também, a criança porém já era uma pré adolescente, devia ter seus treze anos nessa pintura.
E em outra, apenas uma jovem de pele clara, cabelos negros curtos e olhos castanhos, num vestido azul escuro de gola alta, com o tal gato careca em seu colo. Provavelmente era a criança, era estranho como a feição dela mudou em alguns anos, ela tinha ficado com a postura severa e assustadora, mas a garota em si não era horrível.
O gato cutucou seu pé, miando e apontando a cabeça para uma porta específica. 
— Eu vou dormir aí?- ele perguntou.
O gato miou em resposta.
— Espero que seja um sim.- disse, então entrou no quarto. Uma luxuosa suíte com uma cama enorme com colcha cor de safira, móveis de madeira escura, como sofás; estantes de livros. O quarto possuía até lareira. E entrando por outra porta, um banheiro digno de realeza, (que era o que ele era) com uma banheira, piso de mármore negro e cortinhas vermelho sangue.
Tedros entrou e fechou a porta, sentindo-se a vontade. Tirou as roupas e foi tomar banho, se procuparia com o que ele iria vestir mais tarde.
A água relaxou seus músculos. Ele passava a mão pelo seu corpo nu, completamente embriagado com as velas aromáticas presentes no banheiro. Respirou fundo um milhão de vezes. Passou as mãos nos cabelos, e depois de limpo pôs uma toalha e saiu da banheira. Até que alguém bateu na porta.
— senhor, colocamos suas roupas encima da cama, o jantar está servido na mesinha em frente à lareira. Aconselho não sair mais por hoje. Fique no quarto e descanse. Sinta-se em casa.
Tedros sorriu com o acolhimento que estava recebendo, e saiu do banheiro para descobrir quem estava falando com ele. Mas não vou ninguém.
Na cama estava um pijama de algodão branco extremamente confortável. E na mesinha perto da lareira descansava um prato ainda fumegante, nele tinha uma sopa que cheirava muito bem, e do lado um pouco de pudim. Tedros se sentiu feliz por um momento. Pelo menos teria algo hoje para poder se alegrar.
Enquanto terminava de comer o pudim, em frente a lareira, ele se lembrou de algo. Falaram a ele que não era aconselhado sair do quarto. Por qual motivo esse alarme? Tedros se pegou pensando em um milhão de possibilidades possíveis.  Até sua cabeça parar na mais plausível.
— Talvez eles só não queiram uma visita andando por aí, eu entendo até, de certa forma.- falou dando de ombros. Deu uma última garfada no doce que enfim tinha acabado. E foi dormir.
A cama era tão macia, que quando Tedros se deitou ele afundou. Soltou um suspiro.
— Quem dera eu ter uma bela dama para dormir comigo agora!- falou rindo, então pensou na garota da pintura. Será que ela ainda morava nesse lugar? Talvez sim.
Tedros se enrolou, afinal estava frio por causa da tempestade.
Antes de dormir, ele pensou em tudo. Em seu pai, seu reino; agora já não tão seu assim, seus amigos, se atreveu até a pensar em Perseu, que agora devia estar com fome e frio em algum lugar. Tedros ficou um pouco triste por isso, gostava de Perseu.
Mas então ele caiu no sono.
Tedros sentiu algo chegando perto dele enquanto ele dormia, uma mão longa e fria acariciava seu peito e pescoço. Ouviu também uma risada, parecida até demais com a risada grave da floresta. Mas ele não conseguia acordar.

Lady DráculaOnde histórias criam vida. Descubra agora