Tortilhas de maçã e pele branca como neve

29 2 1
                                    

Tedros abriu lentamente os olhos. Sentia seu corpo pesado, mas não entendia o motivo. Os lençóis pareciam puxa-lo para mais perto da cama, naquele momento, os travesseiros pareciam mais fofos, a cama estava cheirando a lavanda. Deviam ser umas nove da manhã, percebendo pela intensidade da luz que surgia das frestas da janela, confirmou olhando para o relógio na parede da cama.
Nove e trinta e sete.
Tedros percebeu a janela aberta, e o café da manhã na mesinha em frente à lareira. 'Alguém esteve aqui.' Tedros pensou, provavelmente algum empregado.
Se levantou ainda meio grogue, sentou no sofá e observou o café, estava frio. Tortilhas com recheio de geléia de maçã, acompanhado de leite, e uvas. Tedros comeu, tentando ignorar as natas que se formavam no leite pelo tempo parado. Depois, entrou no banheiro e viu uma elegante camisa de algodão e linho branca, uma calça negra de alfaiataria e sapatos.
-
Um tempo de reflexão e Tedros decidiu por explorar o castelo, afinal devia ser falta de educação não cumprimentar seus anfitriões tão gentis, porque, se naquela casa existiam servos, certamente existiam anfitriões.
Andando por aí, observando a arquitetura antiga do castelo, que não parecia mais tão assustador a luz do dia, paceria apenas frio e triste, se deparou com uma porta.
Porta essa que irradiava uma energia sombria estranha, fazendo Tedros querer se aventurar por lá.
Com muito cuidado, ele abriu a porta daquela câmara, e colocou a cabeça para dentro. Breu.
Muito breu.
Tedros não conseguia enxergar nada, então tateou os objetos e móveis do quarto até chegar na janela, e quase tropeçar em algo grande e duro.
Ao abrir as cortinas, ele se deparou com uma sala com uma coisa curiosa nela, um caixão de madeira.
Olhou para o chão, e o gato careca estava lá de novo, mas agora, parecia arrisco, quanto mais perto do caixão chegava, mais miava o gato, talvez numa tentativa falha de o tirar de perto do artefato de aparência antiga.
Tedros olhou para os lados, imaginando se seria punido por entrar nessa parte do castelo, sentia algo estranho.
Suas entranhas se reviravam afoitas, suas mãos estavam suadas, sua respiração pesada.
Quando ia levantar a tampa do caixão, pensou melhor, fechou as cortinas, para não correr o risco de ser visto, e acendeu uma vela, vela essa que era escarlate, como sangue.
Agora sim, com uma mistura de curiosidade, confiança e nervosismo,  abriu o caixão com uma mão, pois a outra segurava a vela cor de plasma.
Iluminou com ela o interior do caixão e lá viu a criatura.
Pele clara como a geada, cabelos curtos cor de ônix caíam lustrosos sobre os ombros finos, assim como o corpo. As mãos longas e de aparência tão nobre com unhas longas e pontudas. Suas bochechas eram rosadas, o que trazia uma sensação infantil em meio a tantos traços finos e maquiavélicos.
Tedros então percebeu que essa era a menina que posava para um daqueles retratos do corredor na noite passada.
Uma gota da cera de vela caiu, bem na área desnuda do seu busto, no instante que a traiçoeira vela derreteu-se, a garota abriu os olhos.
Ele deu um solavanco para trás, pensava que a dama estava morta, inclusive ia começar a lamentar sua perda, mas não deu tempo, antes mesmo de Tedros abrir a boca, ele estava encostado na parede com a mão fria da mulher em sua garganta.
Seu rosto ficava cada vez mais vermelho, sua voz não queria sair, a mulher a sua frente o encarava olhando cada centímetro com escárnio.
Tedros se sentiu inferior, coisa que não acontecia com muita frequência.
Devagar, ela o conduziu até a porta, segurando ainda em seu pescoço, olhou para ele de forma torta.
— Não entre mais aqui.- a voz rouca falou pausadamente, ele a encarou, ela e aquele pijama branco e fino que usava, pelo qual era visível sua silhueta esbelta. Tedros sentia-se cálido, por diversos motivos passados hoje.
Ela abriu devagar a porta com sua mão livre, e o arremessou pelo pescoço para o corredor, depois fechou a porta, e o deixou lá, pairando, com a cabeça nas nuvens, em corpo no chão.
-
Após o ocorrido, Tedros decidiu procurar algum empregado. O Sol brilhava no topo do céu, já era meio-dia.
Depois de muito andar, achou a sala de jantar, com uma grande mesa de madeira escura, cadeiras forradas de um tecido vermelho, cortinas vinho longas roçavam o chão. Uma lareira queimava, perto de um sofá. E uma refeição estava posta.
Peru assado com batatas, vinho tinto, salada, essa sim era uma refeição digna da realeza.
—Espero que seja para mim.- conversou Tedros, sozinho.
—Não gostaria de irritar a já muito irritada dona deste castelinho.- riu, ignorando o medo que sentiu da moça horas atrás.
— É sim para você! Espero que goste, Tristan fez com muito carinho.- Falou a mesma voz que antes o atendera, Tedros girou a cabeça, procurando a origem da voz, que parecia vir de lugar nenhum.
— Eu sou Kiko, aliás. Não me procure, alteza; não conseguirá me ver. Eu sou o que chamam de 'criada invisível'.- ela riu.
— E por qual motivo és invisível?- Perguntou Tedros.
— Eu e todos os criados somos invisíveis a muito tempo, por uma maldição lançada aqui por uma feiticeira, Hester, seu nome, mas não se preocupe, estamos acostumados, é até bom porque nos deixa jovens e sadios!- Riu a tal Kiko.
— Mas por que se preocupar em ser jovem se não vai poder ver seu rosto sem rugas?- Tedros perguntava enquanto comia.
— Porque nem sempre aparência importa, alteza, jovens podem fazer coisas que os mais velhos não conseguem, e por isso é bom.- respondeu.
— Entendo, mas vocês trabalham para aquela moça no caixão? Qual o nome dela?
— Oh, alteza, você olhou a moça no caixão?- espantou-se Kiko.
— Sim, existe algum problema nisso?
— Ah, sim. E como existe! A Senhorita detesta ser incomodada ou vista, principalmente por olhos humanos.
— Olhos humanos? Como assim?- Tedros aguardou a resposta, mas pelo visto, Kiko já tinha deixado o cômodo.
-
Ele descudiu passear no jardim um pouco.
O sol da tardinha banhava seu rosto e o trazia lembranças de momentos tão felizes.
Lembrou-se de quando aprendeu a cavalgar.
Doze anos, era sua idade quando galopou pela primeira vez em Stella, uma égua já muito velha, andava devagar, com medo de cair, seu pai atrás ria, o chamando de covarde. Tedros estava um pouco vermelho, tanto de suor quanto de nervosismo.
Lembrar disso doeu. Lembrar de seu pai doía. Doía muitíssimo.
Observava as plantas do jardim, tantas com tantos nomes, tantas coisas que ele não conhecia. Os criados invisíveis, o castelo, a dona dele...
Tedros deu um sorriso ao se lembrar da moçoila, ou pelo menos aparentava ser moça feita. Mesmo sendo um pouco agressiva.
Ele conversaria com ela. Conversa casual, é claro. Queria interagir e conversar com alguém que pudesse ver. Era o mínimo para alguém normal, não é verdade?













-------
Oii! Perdão a demora para atualizar, eu esqueci que essa fic existia sem querer querendo😔
Bom, o intuito desse capítulo foi basicamente fazer o mini querido do Tedros conhecer a tal da Senhorita 😍
Perdoem os erros ortográficos, e se você gosta da história, favorite e comente! Um beijo, até o próximo capítulo 👋

Ps: entra no meu perfil que tem outra história de sge mto legal lá tbm🫶

Lady DráculaOnde histórias criam vida. Descubra agora