01. Infância

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A família Lan era uma das mais renomadas da cidade, quiçá do Estado! Envolvida em política há gerações, se mantinha dessa forma até a atual. Os dois irmãos tinham uma boa fama, o mais novo deles vendia a imagem de casto e justo, sempre focado no trabalho, sem tempo a perder com romances, enquanto o mais velho, demonstrava ser um homem de família, casado com uma bela mulher do mesmo ramo, com um filho de já 5 anos, esperando o próximo que estava para nascer.

Lan Zhan era bastante aguardado por sua família, inclusive pelo irmão mais velho que conversava com a barriga como se já pudesse ver o bebezinho que estava ali. Entretanto, seu nascimento não trouxe todas as felicitações imaginadas.

Por algum motivo, o pré-natal não identificou uma série de problemas que o garoto tinha, fisicamente, ele era completamente normal, mas havia nascido privado de três dos cinco sentidos comuns dos seres humanos, ele não podia enxergar, falar nem ouvir. Isso deixou a família devastada.

Não demorou até a mídia descobrir e isso se tornar um caos, o casal Lan não conseguiu esconder o fato e abandoná-lo àquela altura seria muito ruim para suas reputações, dessa forma, eles decidiram criar o garoto.

Antes do primeiro ano de vida, descobriram que um par de aparelhos auditivos reparariam sua audição, ao longo dos anos, seus pais não pouparam gastos com fonoaudiólogos caros e famosos para tentar fazê-lo falar e de nada adiantava.

Lan Huan, o irmão mais velho, ficava o tempo todo com seu irmãozinho, de todas as pessoas da família, podia-se considerar que apenas ele era quem realmente se importava com o bem-estar da criança, mesmo tendo praticamente a mesma idade. Seus pais quase nunca estavam em casa, as babás não os tratavam com zelo, principalmente ao mais novo, as que não tinham pena, eram desleixadas, ou seja, ele nunca recebia o cuidado e atenção necessários dos adultos.

O garotinho aprendeu a ler com o irmão mais velho quando tinha cerca de 6 anos, então, os pais contrataram professores particulares para ensiná-lo, ninguém acreditava que ele fosse realmente aprender algo, até os professores desconfiavam, ele era tratado como uma criança com algum problema mental grave, mesmo que seu problema não fosse esse, por esse motivo, se tornava mais difícil fazer as coisas, os adultos não lhe ensinavam como deveria ser.

Lan Zhan era sempre muito cuidadoso, como seus pais simplesmente não aceitavam que precisava de um pouco mais de atenção, não o deixavam usar nenhum tipo de guia, também era difícil para ele se comunicar, já que não sabia escrever e não havia nenhum aparelho que pudesse ajudá-lo, seu irmão era o único que parecia entendê-lo.

Certa vez, ao descer as escadarias da casa sozinho, ele tropeçou e caiu rolando, quebrando os aparelhos auditivos, machucou a testa, os braços e as pernas, se enchendo de arranhões.

-A-Zhan! - Lan Huan foi o primeiro a correr até ele, o garoto fazia aula de piano no andar de baixo quando aconteceu, nenhum de seus pais estava presente, mas os empregados da casa ficaram enlouquecidos com medo do que pudesse acontecer - A-Zhan, você está bem?

-Não toque nele, se ele tiver quebrado algo, vai ser pior. - disse uma das babás.

-Mas… Ele está assustado… - Lan Huan estava apreensivo, àquela altura só tinha 12 anos, contudo, seu senso de responsabilidade era bastante alto.

-Vou ligar para a emergência. Ninguém toca nele! - disse o mordomo da família correndo até o telefone.

Lan Zhan não estava entendendo coisa alguma, sua cabeça doía, tudo girava e ele não conseguia ouvir, tateou ao redor e percebeu que estava no chão, usou suas mãozinhas para empurrar a superfície dura, erguendo o corpo. Completamente confuso, até sentir mãos que não eram de adultos, segurando seus braços, de alguma forma, ele sabia que era seu irmão, e estendeu as mãozinhas para buscar o rosto alheio, uma das outras mãos segurou a sua e colocou no rosto. Lan Zhan ainda não sabia bem reconhecer as pessoas, então sempre que precisava reconhecer seu irmão, ele tocava seu rosto e o alheio simultaneamente, seus traços eram semelhantes, o nariz, o queixo e os olhos, eram muito parecidos para ele. Ao ter a certeza de quem era, ele abraçou o irmão e chorou silenciosamente enquanto o outro afagava suas costas em silêncio também.

Por Você [concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora