— Vista algo atraente, querida. Sarah volta hoje, de acordo com Lizzie, e não quero que ela desista do casamento. — Hannah sorriu internamente pensando na hipótese, mas logo lembrou que se não casasse com Sarah seria com outra pessoa.
Dois dias haviam se passado desde que Sarah partira e Hannah nunca se viu tão feliz depois que soube que seu ex-namorado a enganava. Não que ela tivesse repulsa ou algo assim por Sarah, ela apenas não conseguia encarar o fato de que se casariam. Teria passado dias conversando com a moça do rio, mas não suportava dez minutos ao lado de sua noiva. Eram a mesma pessoa, mas na primeira conversa delas não havia o peso de um casamento.
—Você sabe que após o casamento terão que se mudar, não é? — Hannah perguntou. — Só está aqui para confirmar de que Sarah não fará nada comigo antes do casamento, mas pelas tradições vocês não deveriam morar conosco. — Grace a olhou séria.
— A casa é enorme... mas eu sei. Vou pedir à Sarah para comprar uma casa aqui pela cidade para mim.
— Sarah não é seu banco. — Hannah alegou irritada.
— Que bom que pensa assim, pelo menos sorrirá quando te parabenizarem pelo casamento, assim mostra não ser por interesse.
— Por que fazem isso? Só nos povoados as moças têm idade para casar. Aqui a maioria é livre para decidir com quem e quando se casar.
— Estamos fazendo isso pelo seu bem, filha.
— Meu bem? Eu só aceitei essa droga de casamento porque poderia ser algum tarado, grosso, bruto e nojento. Se você não me ameaçasse eu não teria aceitado me casar com Sarah. Eu não a amo!
— Ela te proporcionará uma vida de rainha. Depois que essa sua fase de sonhadora apaixonada acabar e você amadurecer você me agradecerá pelo que estou fazendo. — Hannah bufou.
— Onde está papai? — Decidiu mudar de assunto para não se irritar mais.
— Com o antigo administrador.
— Oscar?
— Sim. Eles parecem ter assuntos intermináveis. — A mulher disse rindo satisfeita.
— Hannah. — A voz de Lizzie preencheu o grande salão.
— Eu vou passear no jardim para que fiquem à vontade. Com licença. — Grace disse antes de se retirar.
— Rosália fez uns biscoitos deliciosos e roubei alguns para nós. — Ela disse revelando a caixinha de biscoitos em suas mãos. A risadinha de Hannah foi adorável.
— Você é maluca. Senta aqui, quero provar. — Falou animada.
Nesses dois dias de ausência de Sarah, Lizzie e Hannah ficaram bem próximas, pois passavam o dia conversando e rindo de coisas aleatórias. Hannah se sentia bem à vontade com a baixinha e sentia que podia confiar nela.
— Hey, não coma tudo. Trouxe para nós duas. — Lizzie reclamou, vendo Hannah devorar os biscoitos.
—Desculpe. — Disse com a boca cheia, usando sua mão direita tampar a boca. Terminou de comer e continuou. — Eu sou viciada por qualquer coisa doce.
— Sarah também. Se matarão para ver quem fica com os doces então. — Disse e Hannah parou de sorrir na hora. O simples escutar do nome de sua noiva a trazia a sua realidade. — Não deveria ficar tão chateada por se casar com ela. Ela é maravilhosa e te tratará como uma rainha.
— Já me disseram isso, mas... — Suspirou. — Eu não a amo.
— Hannah... — Lizzie foi interrompida pelo barulho de algo se quebrando. — Acho que Sarah chegou.
— Como sabe?
— Tem coisas sendo quebradas dentro da biblioteca. Só pode ser ela.
— Por que ela quebraria coisas lá dentro?
— Quer ir descobrir? — Hannah gostaria de dizer que não, que não queria correr o risco, mas sua curiosidade falou mais alto. Se levantou e acenou para Lizzie, para então seguir para a biblioteca. Lizzie já havia lhe apresentado toda a casa, então não teria problemas em achar nada por ali.
— Sarah? — Chamou sutilmente após deixar três batidas na porta. — Posso entrar?
— Não acho... que seja uma boa ideia, Hannah. — Pelo tom de voz, Hannah percebeu que Sarah chorava e, sem entender bem o que lhe deu, abriu a porta mesmo assim.
Se deparou com vasos quebrados e livros jogados para todos os lados, mas o que lhe chamou a atenção foi a morena debruçada sobre sua mesa, apoiada em seus punhos. Sarah ergueu a cabeça ao ouvir a porta sendo fechada e se deparou com Hannah. A maior percebeu os olhos inchados, as bochechas avermelhadas e lágrimas na face de Sarah.
— O que houve? — Perguntou se aproximando.
— Algo no trabalho. Desculpe, não deveria me ver assim. — Disse enxugando suas próprias lágrimas. — Como está? Já se acostumou com a casa? — Forçou um sorriso.
— Sim, mas não vim para falarmos de mim. O que houve com você? Por que chorava? — Perguntou, agora já de frente para sua noiva.
— Foi pela pequena batalha que tivemos. — Confessou.
— Perderam?
— Não a batalha. — Hannah franziu o cenho.
— Como assim?
— Dois de meus homens morreram. Eles eram... eram boas pessoas. — Disse em um fio de voz. — Eles não deveriam... Foi tudo minha... a culpa foi... — Soluços começaram a escapar de Sarah, inevitavelmente. — Eu não pude fazer nada para ajudá-los, Hannah. Absolutamente nada. — Hannah sentiu seu coração se apertar ao ver a fragilidade da garota em relação a isso.
— Hey... — Tomou hesitante as mãos de Sarah. — A culpa não foi sua. Você não pode levar todos os seus homens nas costas. Eles sabiam o que poderia acontecer quando se alistaram.
— Mas eles m-morreram para salvar a minha vida. — Sarah disse aos prantos. Hannah não resistiu e puxou Sarah para seu colo, começando um carinho leve em seus cabelos, no intuito de acalmá-la.
— Eles estavam cientes disso e se o fizeram era porque acreditavam em você como líder. — Sarah levantou seu olhar para Hannah quem nesse momento só queria que Sarah parasse de chorar.
— V-você acha? — Hannah deu um leve sorriso e assentiu.
— Claro que sim. — E depois disso nada mais disseram. Ficaram na mesma posição por alguns minutos, Hannah acariciando os cabelos de Sarah enquanto a morena se permitia chorar no colo de sua noiva.
— Sarah? — algumas batidas na porta foram ouvidas e um baixo "pode entrar" de Sarah permitiu a entrada de Abigail. — Desculpe interromper. Só vim perguntar se quer que eu vá anunciar à família deles sobre... Você sabe. — Abigail odiava isso tudo. Sabia que Sarah ficava arrasada sempre que algum deles morria. Sarah sempre negava e sempre dizia que ela mesma iria anunciar à família. Se sentia na obrigação de fazer isso.
— Não. — Sarah negou, levemente mais calma. — Eu mesma vou. É o mínimo que posso... — Sua garganta se fechou e mais lágrimas desceram de seus olhos.
— Você não vai à lugar nenhum. — Hannah, em um golpe de coragem, disse de pronto. — Pode ir avisá-los, Abigail. Digo, se não for incomodo.
— De maneira alguma. — Abigail respondeu.
— Mas eu...
— Mas nada. Você está exausta, tanto fisicamente quanto emocionalmente. — Hannah falou. — Então você vai deitar no meu colo e eu vou continuar fazendo carinho em você até que se acalme. Depois você vai subir e tomar um banho para ir comer algo e depois descansar. — Hannah não sabia de onde tinha vindo isso, só sentiu necessidade de proteger Sarah.
— Tudo bem. — Sarah disse deitando sua cabeça no colo da mais nova novamente. Abigail sorriu com a cena. Essa garota definitivamente faria bem à Sarah e ver isso confortou seu coração.
— Ok. Com licença. — Abigail disse, deixando ambas à sós novamente. Hannah continuou sua carícia e minutos depois escutou o leve ressonar da morena, percebendo que ela tinha caído no sono finalmente.
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Over the Rainbow
FanfictionOver the Rainbow é uma história romântica que se passa no século XX. A protagonista Hannah Miller, contrariando as regras da aristocracia a que pertence, se apaixona por Jeremy Quint, um camponês de classe baixa, mas sua mãe, Grace, deseja que a fil...