Capítulo 17

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Hannah levava, naquele momento, sua xícara de chá até os lábios e provava o sabor forte de café recém preparado. Antes disso se permitiu inalar o aroma e soprar vagarosamente o vapor que saía do líquido.

-- Está calma demais. -- Lizzie disse desconfiada. -- Parece até deslumbrada.

-- Minha melhor amiga está a caminho, claro que estou feliz. -- Hannah disse, colocando a xícara sobre o pires e os colocou na mesa de centro.

-- Não gosta de nossa companhia? -- Lizzie fingiu tristeza e Hannah sorriu.

-- Não seja boba, Lizz. É só que ela é como uma irmã para mim e gosto de tê-la presente em minha vida.

-- Ela deveria ter vindo antes. Estou ansiosa para conhecê-la. -- Alice disse.

-- Só você. -- Flora falou secamente.

-- Ela já deve estar chegando. -- Lizzie disse, ignorando, como sempre, as malcriações de sua irmã.

-- Eu ainda acho que ela não vem. -- Abigail disse verificando seu relógio de pulso. Era um domingo, então todas ali estavam de folga. Hannah convidou Eleonora para almoçar em sua casa cinco dias após ter visto sua amiga e ela aceitou o convite com gosto, no entanto, Hannah pedira que ela fosse mais cedo para que conversassem e para apresentá-la para suas amigas.

-- É claro que virá. -- Sarah disse se sentando ao lado de Hannah no sofá.

-- Falando no demônio... -- Flora disse, desviando seus olhos de suas unhas ao ouvir o barulho da carroceria parando em frente ao local. A imagem de Eleonora fez Hannah sorrir animada. Estava imensamente feliz por Sarah não fazer ela ter que abrir mão de suas amizades. Se levantou e foi em direção à sua amiga. -- Ela se veste assim? Que horror! -- Flora censurou ao ver a amiga de Hannah vestida em uma roupa humilde.

-- Respeito, Flora. -- Lizzie pediu censurando-a com veemência e a garota bufou.

-- Gente, quero que conheçam minha melhor amiga, Eleonora. -- Hannah disse com o maior dos sorrisos.

-- Um prazer, meninas. -- A garota disse sorrindo despojada, nunca foi do tipo de pessoa tímida. Os olhos de Hannah foram para Flora, quem se levantou na hora.

-- O prazer é nosso, sente-se, por favor. -- Flora disse em um tom extremamente educado e gentil. Hannah olhou surpresa para Flora; a garota oferecer seu lugar para alguém era mais do que um milagre.

-- Obrigada. -- Lele agradeceu. Hannah finalmente entendeu o propósito do ato ao ver Florq caminhando e se sentando ao lado de Sarah, para logo em seguida deitar sua cabeça sobre as pernas da garota.

Hannah odiava o fato de Sarah nunca dizer não para Flora. Claro que a moça tampouco pedia beijos ou algo assim, mas mesmo assim, Sarah permitia Flora lhe abraçar do nada, deitar em seu colo, acariciar seus cabelos.

Não é que sentisse ciúmes, mas era sua esposa ali. Não era bom experimentar a sensação de todos estarem te olhando como se você fosse uma corna ciente.

Hannah queria pedir a Sarah que parasse de deixar que Flora fizesse o que lhe desse vontade, contudo não se sentia no direito. Não exercia o papel de esposa, portanto não achava correto cobrar algo de Sarah. Se sua esposa quisesse ter um caso com Flora poderia ela reclamar? Claro que não.

Sarah havia deixado claro que via Flora como irmã, mas e se a carência lhe batesse a porta qualquer dia? Hannah não esperava que Sarah nunca mais voltasse a beijar alguém, afinal, o casamento delas era uma fachada. Sarah, em um ato de piedade, lhe salvara das garras de algum tarado por aí, mas deveria ela abrir mão de sua vida assim?

Hannah só queria que uma barreira magnética fosse capaz de mandar Flora para o mais longe possível de Sarah. Que tipo de idiota se insinua para alguém casado? E, pior... na frente de todos.

Flora. Esse tipo de idiota, pois naquele exato momento a garota brincava com a bainha de sua blusa, deixando sua barriga completamente exposta. A garota tampouco usava sutiã, deixando à mostra o formato dos seios e do bico do mesmo.

Sarah não se atreveria a olhar, pensou ela, mas quase morreu entalada na própria saliva ao ver os olhos de Sarah desviarem para a região. Poderia jurar que estava vermelha, mas quem se importava? Sarah estava olhando para seios alheios.

Os de Flora.

Na frente de Hannah.

Descaradamente.

-- ...E foi isso, Hannah. -- Ouviu a voz de Lele e voltou a realidade.

-- Eu?

-- Não ouviu nada do que eu disse, certo? -- A garota perguntou rindo e Hannah assentiu, envergonhada.

-- Desculpe. É que estava pensando... -- Falou caminhando até Sarah. -- Poderia dar licença, querida? -- Perguntou sorrindo falsamente para Flora, quem se sentou novamente, mas não deixou lugar para Hannah se sentar no sofá, sorrindo cinicamente.

-- Creio que não cabe. -- Flora disse com uma falsa ingenuidade.

-- Não tem problema. Para isso tenho o colo da minha esposa. -- disse se sentando no colo de Sarah, enlaçando seus braços no pescoço da mais velha, pegando a garota de surpresa. -- Obrigada mesmo assim. -- Deu um sorriso triunfante antes de continuar. -- Como eu dizia... Conversamos horas aquele dia, mas minha esposa nem sequer te deu atenção.

-- Oh, eu entendo totalmente que ela seja uma mulher ocupada. -- Eleonora disse e Hannah negou com a cabeça.

-- De jeito nenhum. -- Falou se inclinando e deixando um beijo no rosto de sua esposa. Sarah se viu um tanto aturdida ao inalar o cheiro do shampoo de Hannah. O aroma adentrava-lhe as narinas fazendo-a se perguntar como Hannah conseguia ser tão cheirosa. -- Sarah é a mulher mais atenciosa que conheço. Faço questão que se conheçam, afinal ela adora dar atenção para as pessoas, não é, amor?

Sarah engoliu em seco diante do apelido, mas não por alegria, igual deveria ser, e sim por medo. Algo no jeito de Hannah lhe dizia que ela havia feito algo muito, muito errado.

-- Sinto muito, senhorita. No outro dia quis apenas deixar vocês conversarem no sossego do ambiente para colocarem os assuntos em dia. -- Se retratou. -- Minha esposa fala muito bem da senhorita e pensei que deveriam querer matar a saudade. Em momento algum quis parecer desinteressada de conhecer as amizades de minha esposa e perdoe-me se assim fiz parecer.

-- Não tem problema, não há necessidade para desculpar-se. -- Lele disse e Sarah sorriu-lhe, porém, algo na expressão solene de Hannah lhe dizia que as coisas ainda não estavam bem.

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