Capítulo 2

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O palácio da corte outonal era enorme, repleto de galerias e corredores, e uma ala com inúmeros quartos. Azriel e Elain caminhavam em silêncio em direção aos aposentos designados para a corte Noturna. Os aposentos ficavam todos próximos, Feyre e Rhysand já haviam se recolhido há muito tempo, Nyx havia começado a chorar devido ao barulho e excesso de pessoas no baile após algumas horas, e Cassian e Nestha, como sempre, após algumas danças e vinho, preferiram a companhia um do outro. A feérica que trabalhava ali indicou os aposentos destinados a eles. Azriel ficou na porta do quarto de Elain, enquanto a feérica indicava tudo que Elain precisaria para passar a noite. A fêmea deu uma última olhada para Azriel enquanto ele saia do aposento com a senhora que lhe indicava o aposento ao lado, e deu um leve sorriso, acompanhado de um sussurro de "Boa noite", os quais ele retribuiu e saiu com a cabeça levemente abaixada, como se estivesse imerso em pensamentos.

O sol já brilhava do lado de fora, mas Elain decidiu que precisava de um banho antes de cair na cama, e a agitação da noite ainda não havia deixado sua mente. Ela realmente precisava esfriar a cabeça. No quarto ao lado, a mente de Azriel poderia explodir de tantos pensamentos. Ele teve um momento perfeito para esclarecer tudo, havia dito o quanto ela significava para ele, mas ela não quis ouvir. Ela tinha dito que sentia o mesmo, mas como poderia? Aquela urgência que corria nas veias dele, de sentir o corpo dela, o cheiro dela, estar com o rosto entre suas pernas, provar o gosto do corpo de Elain, ouvir aquela voz suave sussurrando coisas maliciosas para ele, será que ela faria isso? Ela não poderia sentir essa urgência que ele sentia e, ainda assim, sorrir tão calmamente. Um banho, era tudo que ele precisava, assim, talvez, conseguisse relaxar e dormir algumas horas, se apenas conseguisse manter Elain longe dos seus pensamentos...

O banheiro do quarto de Elain era lindo, decorado com tons de laranja suaves, bege e castanho, alguns detalhes em branco, bem típico da corte outonal, pensou ela. A enorme banheira branca com detalhes em dourado poderia facilmente caber duas pessoas, agora estava quase cheia de água morna e sais de banho, com um cheiro convidativo. O banho de fato era maravilhoso, mas nada conseguia afastar os acontecimentos da noite da mente, que trabalhava freneticamente. Ela não sabia como expressar o que sentia em palavras, se sentia uma confusão ambulante de sentimentos, para ser honesta. Eris despertara um lado diferente nela, algo que atraiu e cativou, e Azriel, bom, ele sempre tinha sido especial, e desde o solstício, ela achava que compreendia o que se passava na mente dele, mas depois daquilo ficou claro que não. Ela não sabia como deveria se sentir. Talvez fosse melhor ficar sozinha, colocar as ideias no lugar sem envolver nenhum deles. Algo no peito de Elain gritava para que ela fosse ao quarto dele, contasse tudo, como se sentiu naquela noite, há semanas atrás, que mais pareciam décadas, como se sentiu mais cedo, quando ele disse tudo que ela precisava e queria ouvir..., Mas não. Era melhor encontrar outra forma de esfriar a cabeça. Talvez andar pelos corredores, que provavelmente estariam vazios, visto que todos estariam dormindo, pudesse distrai-la e permitir que ela tivesse algum sono depois. Ela saiu do banho, se vestiu com uma camisola de tecido leve, quase transparente, colocou um robe de cetim por cima, da mesma cor da camisola, e abriu a porta do quarto, observando o lado de fora. Nenhum ruído, nem os criados passavam por ali, certamente eles estavam entre os últimos convidados a se dirigirem aos aposentos. Aquela sensação de vazio a preencheu juntamente com a luz dourada do alvorecer que entrava pelas janelas e ela tomou coragem para seguir o corredor, na direção que mais cedo ela acreditava ter visto uma galeria de quadros e esculturas. Os próprios passos, quase silenciosos, eram o único som que ela ouvia ecoando no corredor e nas galerias que saiam dele, e apesar de não ser uma grande artista, ela sempre fora uma apreciadora de pinturas, em parte por observar o trabalho da irmã. Ao chegar na primeira galeria, ela analisou minuciosamente inúmeros quadros, de diversos estilos, retratando paisagens, grão-feéricos, deuses, e criaturas que ela jamais ousara imaginar, nem nos mais loucos devaneios. Depois de um tempo, que ela não soube precisar, Elain teve a sensação de estar sendo observada. Vagarosamente ela girou no salão, mas não viu nada, não escutou nada. Talvez fosse apenas uma sensação.

Corte de Fogo, Flores e SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora