06| living the moment

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O movimento na rodovia ao lado estava calmo, com um ou outro carro passando a cada aproximadamente dez minutos. Conforme as horas passando, o clima parecia ficar mais gelado e o ar mais úmido que o de costume para a estação atual. Não haviam animais selvagens pela região, mas era possível escutar à distância corujas se comunicando em alguma linguagem enigmática de sílabas "uh-uh".

— Nem sei a razão d'eu estar confiando em você — Kihyun disse tentando desviar de um galho caído na lateral da rodovia, pisando em uma grama baixa e molhada — É bom que tenha algumas explicações quando chegarmos onde quer que seja onde está me levando.

— Ei, relaxa sr. Oficial — Changkyun disse sem olhar para trás, caminhando com bastante confiança em uma trilha que parecia conhecer bem — Só quero bater um papo com você, nada demais. Até te deixei me revistar mais cedo, não é?

— Hum... — Kihyun grunhiu um pouco descontente — Isso não faz muito sentido, sabe.

— Eu te levar para uma trilha no meio do mato, durante a noite? — Changkyun olhou rapidamente para trás, sobre seu ombro direito — Ainda mais quando sou um suspeito sendo investigado por você.

— Exatamente.

— Talvez eu vá confessar meus prováveis crimes para você.

— Eu espero.

— Você nem mesmo é o responsável pelo caso que estou acusado.

— Como você sabe disso?! — Kihyun ergueu a voz — As vezes, você sabe coisas demais. E eu não faço ideia de como consegue isso.

— Só confie em mim, Kihyun.

A caminhada durou aproximadamente dez minutos após entrarem em uma estrada de terra à esquerda da rodovia. Caminharam um pouco através de uma trilha em meio a uma mata alta, até chegarem em um pequeno galpão em frente a um lago. Sobre o lago havia um píer de madeira com um pouco de musgo nas laterais, mas ainda parecia firme os suficiente quando os dois rapazes caminharam sobre ele e sentaram-se na beirada com as pernas pendendo sobre a água.

— Vou permanecer um metro de distância de você por segurança — Kihyun segurou a pistola dentro do coldre em sua cintura — Qualquer movimento brusco irei reagir. E acho que você pode se machucar feio com isso.

Changkyun estranhamente sempre estava com um sorriso de canto no rosto. Ele sempre parecia descontraído, misterioso e que provavelmente sabia de mais coisas que você poderia imaginar. Era como uma incógnita ambulante, que estranhamente parecia se teletransportar e estar em dois lugares ao mesmo tempo — ao menos era o que Kihyun supunha no segredo de sua mente.

— Então... — Changkyun balançava os pés e olhava para bem longe. Talvez para lugar nenhum — Qual sua teoria sobre mim?

— Você tem um irmão gêmeo criminoso — Kihyun respondeu rápido — Ou habilidades sobrenaturais de teletransporte. Eu sei lá. E isso me irrita muito.

— Talvez eu seja um fantasma.

— Pode ser — Kihyun ergueu uma das sobrancelhas e deu uma breve risada nasalada — Vagando pelos lugares e cometendo crimes. Apanhando e dormindo em becos sujos. Parece bem convincente pra' mim.

Changkyun espreguiçou seus braços antes de deitar-se com as costas contra o píer e observar o céu estrelado. Kihyun repetiu o movimento e respirou fundo, relaxando um pouco mesmo que não devendo.

— Você é bonitinho — Changkyun disse olhando para Kihyun — Por que decidiu ser policial?

— Eu queria que minha família sentisse orgulho de mim — Kihyun disse ainda olhando para o céu — Sempre quis isso. Ser reconhecido como alguém bom, apesar dos pesares. Mas o que isso importa para você? Não muita coisa. Talvez nada. Por que estou falando tudo isso?

— Você se sente confortável perto de mim, Kihyun — Changkyun voltou a observar o céu — Eu posso te irritar por te deixar confuso demais, misturando seus pensamentos. Mas você sente uma estranha força gravitacional te puxando para perto de mim.

Kihyun riu. Tudo parecia estranho e calmo demais, confuso demais, esclarecedor demais. A mente do investigador poderia estar confusa, mas não haviam palpitações em  seu peito nem tremedeira nas mãos. Estava confortável e não entendia o motivo disso. Talvez fosse verdade, uma força gravitacional o atraía para o moreno misterioso e relaxante.

— Não tente encontrar respostas — Changkyun disse — Apenas viva o momento.

— E como eu deveria fazer isso?

— O que seu coração mandar, chefia.

Kihyun virou seu rosto para o lado e observou o semblante de Im Changkyun observando o nada na direção do céu. Seguindo o conselho, parou de tentar procurar respostas e apenas sentiu o momento em que estavam compartilhando. O único som dominando o ambiente era da água movendo-se com a brisa, junto da mata tombando suavemente na direção onde o vento a empurrava.

Não haviam luzes piscando, buzinas tocando, pessoas falando. Era a calmaria que Kihyun havia ansiando por tantos anos de trabalho árduo, seja para agradar a corporação, ou para agradar sua família rígida que morava mais ao interior ao norte dali. Seu corpo estava tão relaxado que precisou bocejar, como se pudesse tirar um cochilo ali mesmo naquele píer molhado no meio do nada. E ainda por cima, ao lado de um desconhecido que provavelmente era também um criminoso.

Yoo Kihyun parecia estar em transe. Como se houvesse bebido boas doses de bebida destilada mais cedo, no lugar do refrigerante gelado. Não saberia dizer se essa era a sensação de estar chapado, pois era certinho demais e nunca havia consumido drogas desse tipo. Entretanto, não estava percebendo o tempo passar nem mesmo o movimento das coisas ao seu redor. Estava absorto na própria mente ou no próprio momento, esquecendo da vida lá fora.

No momento rendeu-se, mas só foi perceber o que estava acontecendo depois que Changkyun, o provável criminoso, estava apoiado sobre si o beijando nos lábios. A sensação era boa. Era leve. Era como ser abraçado gentilmente por uma nuvem em seu rosto, em seus lábios, em sua língua. Sua mão estava ao redor do pescoço do outro, acariciando seu pescoço com sutileza e o mantendo perto por mais tempo. Depois disso, Kihyun o empurrou com força para o lado e se ergueu de forma agitada.

— O-O que tá' acontecendo aqui? — Kihyun segurou a arma no coldre e o olhou para os lados. Seu cabelo estava bagunçado e seus olhos estavam inchados — O que eu...

— Você estava vivendo, Kihyun — Changkyun ergueu-se e pôs-se de pé — Só isso.

— Espera — Kihyun estava tentando levantar, mas ainda parecia desnorteado — Pra' onde você vai?

—Lugar algum.

Kihyun sentiu sua visão escurecer rapidamente, provavelmente sua pressão caiu um pouco quando levantou-se com pressa. Pode ver Changkyun caminhando pela trilha em meio ao matagal, e depois desapareceu. Mais tarde, Kihyun voltou para casa e deitou-se em sua cama  — mas não conseguiu pregar os olhos durante a noite toda.

the probable crimes of changkyun | changkiOnde histórias criam vida. Descubra agora