03| night rest

51 14 2
                                    

— O que eu não daria por um lámen desses uma hora atrás... — Wonho salivava com a tigela diante de si, estava separando os hashis pronto para devorar tudo.

— O que eu não daria para poder ter chego mais cedo e cozinhado uma belezinha dessas — Kihyun suspirou e provou o caldo com uma colher branca de plástico.

— Credo, o espírito de dona de casa nunca sai de você, hein? — Hyungwon recolheu as tigelas vazias que ele e Shownu usaram anteriormente. — Mesmo se tornando investigador, surpreendente mesmo.

Kihyun e Hyungwon entraram em uma pequena disputa de caretas debochadas por alguns minutos, antes que o mais alto se retirasse e fosse até a cozinha lavar a última louça que deveria naquela semana. Shownu estava sentado no chão da sala, mexendo em uma sacola com estampa de alguma loja de souvenir. Wonho foi até o seu lado, mas se sentando no sofá.

— O que é isso? — Wonho se inclinou tentando espiar dentro da sacola. — Presentes para mim?

— Ah, sim! — Shownu riu. — São animais entalhados em madeira, que eu vi numa lojinha no centro da cidade. Escolhi um urso, porque parece comigo — Shownu tirou o objeto da sacola e exibiu. — Toda vez que eu for para o centro, vou comprar um bicho desses até que cada um de nós quatro seja representado.

Hyungwon, que estava ouvindo toda a conversa da cozinha, se aproximou com as luvas amarelas de plástico pigando água e sabão.

— Para o Kihyun você tem que trazer um entalhe de hamster! — Hyungwon disse com um sorriso grande no rosto e apontou na direção do Yoo que ainda estava na mesa, comendo. — Vai ser praticamente em tamanho real!

Todos riram, menos Yoo Kihyun, que estava se controlando para não dar uns tabefes no escrivão e colega de apartamento que se chamava Chae Hyungwon. Depois disso as coisas no local ficaram mais tranquilas, os quatro se reuniram e assistiram um filme que estava passando na televisão. Em meio à algumas risadas quando Wonho derrubou chá gelado na calça do Shownu, o celular de Kihyun tocou. Ele verificou e na tela estava escrito "Delegacia (pessoal)".

— Alô? Aconteceu alguma coisa? — Kihyun foi até a, pequena, sacada do apartamento. Fechou a porta de arrastar de vidro para isolar o som das risadas e sentiu a brisa gelada do céu de quase meia-noite.

Desculpe te incomodar esse horário, Kihyun... Sei que seu turno já acabou — Era a voz de Park Chanyeol, um colega de trabalho alto e meio desengonçado, de cabelos ondulados um tanto volumosos. — Mas eu estava atendendo um chamado com o novo oficial do turno da noite, e aconteceu uma coisa meio esquisita.

 — Tá' tudo bem, pode dizer — Kihyun disse debruçando-se contra a grade e observando o movimento da rua oito andares para baixo.

Certo, então... — O tom de voz de Chanyeol pareceu mais animado. — Fizeram uma denúncia de que havia um carro estranho entrando naquela propriedade com cercas de ferro, acho que tem um barracão, atrás do viaduto perto da rodovia estadual, sabe? Então eu e meu novo parceiro fomos lá checar. Quando chegamos vimos luzes e ouvimos vozes dentro do barracão, então mesmo sem mandato abrimos as grades. O cadeado estava solto, então foi fácil. Gritamos que éramos da polícia e mandamos os indivíduos abrirem as... porteiras? Acho que esse é o nome. Eles se recusaram, então usamos a forçar para entrar. Lá dentro estava um Hyundai Sonata vermelho, que se não me engano, pela placa, estava com queixa de roubo de hoje mesmo.

— Oh, sim. É verdade — Kihyun disse erguendo a coluna, surpreso — Eu e Wonho fizemos a ocorrência umas quatro horas atrás.

Mas essa não é a parte surpreendente! — Chanyeol parecia estar contando uma daquelas histórias de pescador, que pareciam chocantes demais para serem verdadeiras. — Mandamos os suspeitos colocarem as mãos na cabeça, então desistiram de fugir. Se ajoelharam e fomos os verificar. Eram dois rapazes, um moreno com hematomas no rosto e um meio loiro, acho que é tingido. Pedimos os documentos mas eles não estavam com eles, então meu parceiro foi avisar a central para mandar uma viatura de apoio quando eu ouvi o moreno dizer: "Que pena, estava contando que fosse o Oficial Kihyun". Eu achei tão esquisito! Então resolvi te ligar agora, depois que eles foram levados até a delegacia.

Kihyun segurou a respiração por alguns segundos. Era a terceira vez no mesmo dia que aquele rapaz entrava em algum contexto em determinada situação da sua rotina, o que era no mínimo incomum para o investigador. Yoo não estava dando a mínima se estava esperando fazia dias pela folga noturna, precisava verificar aquela situação pessoalmente. Se despediu de Chanyeol pelo telefone e disse que logo chegaria na delegacia.

Seus colegas de apartamento, e também policiais, estranharam a atitude do detetive de voltar para a delegacia no seu horário de folga. Shownu se ofereceu para levá-lo até lá, alegando precisar passar em uma farmácia antes de voltar, o que provavelmente era mentira e só estava tentando ajudar o amigo. Os dois entraram no carro de Shownu, um Kia Sorento prata confortável, e chegaram na delegacia cerca de dez minutos depois.

Yoo achava esquisito entrar na delegacia sem uniforme, mas na emoção do momento não se lembrou de vestí-lo só para seus caprichos. Shownu não chegou a entrar, apenas o deixou na porta e saiu, estava cansado o suficiente para dormir umas doze horas seguidas de sono pesado em sua cama macia, longe de corpos e vestígios de bala que seu trabalho mostravam todos os dias.

Logo em seguida o guincho passou pelo portão da central, trazendo o Hyundai Sonata vermelho até o estacionamento de veículos apreendidos. Instantaneamente Lee Jooheon apareceu na mente de Yoo Kihyun, reagindo com felicidade e alívio ao saber que seu carro havia sido recuperado tão rápido e ainda inteiro. Estava se tornando comum naquele bairro o roubo de carros, que eram depenados e tinham suas peças vendidas para terceiros caracterizando receptação.

 — Yoo Kihyun! — Park Chaneyol surgiu de trás da recepção, acenando. As calças do uniforme o deixavam mais alto ainda, um tanto cômico. — Os suspeitos estão na sala do interrogatório, quer participar?

the probable crimes of changkyun | changkiOnde histórias criam vida. Descubra agora