02| the suspect reappears

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Shownu estava com as pernas em cima da mesa dentro do escritório principal da delegacia, relaxado e exalando confiança. Kihyun entrou na sala e observou a cena, com uma sobrancelha arqueada enquanto dava um gole rápido no café — se arrependeu de não ter tentado esfriá-lo antes depois de sentir sua língua queimando. Hyungwon entrou logo atrás com uma pilha de papéis nas mãos, quase caindo e a espalhando pelo piso escuro e escorregadio ao qual nenhum dos três policiais sabiam dizer o material que era feito.

— Que folga é essa, hein? — Kihyun deu uma breve risada arrastada que, secretamente, Shownu achava fofa. — Imagina se o delegado te encontra desse jeito, perdeu o medo?

— Meu querido — Shownu levou a mão até por dentro da gola de seu uniforme e puxou um distintivo, reluzente parecendo ser novo. — Você está conversando com o mais novo, e ilustre, chefe da perícia criminal dessa delegacia. Por favor, mais respeito diante da autoridade.

— Beleza, autoridade.  — Hyungwon parou ao lado de Kihyun, fazendo esforço para equilibrar a pilha de papéis. — Agora você poderia dar o fora da minha mesa, pra' que eu possa transcrever toda essa papelada antes das sete e meia? Prezo muito pelo meu emprego e não estou aceitando descontos no meu salário ultimamente.

Shownu, com um suspiro, tirou seus pés da mesa e deixou a cadeira livre para o colega. Kihyun deu de ombros e tomou mais um gole de café, ao que se dirigia na direção da recepção. O oficial passou alguns minutos apoiado no balcão, vendo o movimento de pessoas entrando e saindo até que o céu estivesse quase completamente escuro, restando alguns borrões em cores quentes que lembravam uma pintura tropical abstrata que viu em algum lugar — provavelmente na internet. O clima estava bom, e o oficial desejou estar com fones ouvido naquele momento escutando uma música legal e tranquila.

As coisas permaneceram relativamente calmas até que o telefone, na central de atendimento na primeira porta à direita, tocasse e Kihyun se dirigiu até lá. Era comum na corporação que os oficiais, e não funcionários diretos, atendessem as ligações da população. O oficial Yoo deixou a xícara em cima da mesa, brigando por espaço em meio à pastas acinzentadas e tirou o telefone do suporte.

— Central de atendimento da delegacia do distrito de Yongsan-gu, qual a ocorrência? — A voz de Kihyun parecia monótona repetindo a frase decorada.

— Alguns malditos adolescentes roubaram o meu carro! — Era um homem, aparentemente jovem, do outro lado da linha. — Eu estava fazendo compras de manhã e quando voltei ele tinha desaparecido. Bem que fiquei com medo quando uns dois caras, nem sei se eram adolescentes, de moletom passaram do outro lado da rua quando estacionei lá pelas onze horas da manhã. Usando touca na cabeça, mãos nos bolsos, ah... Eu fui um idiota mesmo de estacionar naquela rua!

— Senhor, mas isso caracteriza um furto e não um roubo...

— Não me importa a diferença! — Ele gritou. — Só recuperem meu veículo, por favor.

— Tudo bem senhor, nós iremos enviar uma viatura. Preciso que me informe o endereço que está, seu nome e alguns dados pessoais.

Cerca de onze minutos depois a viatura parou na esquina de uma loja de departamento de roupas, que se encontrava justamente com uma ruela de pouco movimento e iluminação precária. Antes mesmo de descerem da viatura, um homem de cabelos pretos e olhos pequenos abordou o oficial Kihyun e o oficial Wonho.

— Sou eu! Eu quem os chamou. — Era jovem, provavelmente de uma idade próxima a dos policiais. — Me chamo Lee Jooheon.

— Investigador Yoo Kihyun. — Kihyun apertou sua mão e apontou para o colega. — E esse é meu parceiro, Oficial Wonho. Pode repetir o que disse ter acontecido? — Ambos os oficiais desceram do veículo, e os três se reuniram sob a calçada.

— Bom, eu estacionei aqui por volta das onze horas da manhã. Era um Hyundai Sonata vermelho, acredito que informei a placa pela ligação. — Lee Jooheon dizia com as mãos dentro dos bolsos da calça jeans com rasgos. — Enfim, me encontrei com alguns amigos e passamos a tarde toda por aqui, na praça de alimentação, vendo vitrines, fazendo compras, essas coisas. Então, quando percebi que estava anoitecendo me despedi dos meus amigos e vim caminhando até onde eu havia estacionado meu carro, e adivinhem? Pois é, não estava mais aqui.

— Entendido... — Wonho fazia anotações em um pequeno bloco de papel. — Pode falar sobre os suspeitos que disse na ligação?

— Certo. Eram dois rapazes, de moletom escuro, não sei dizer se eram pretos ou algo bem próximo. Usavam toucas na cabeça, mas deu para ver um pouco. O mais alto dos dois tinha o cabelo mais claro, acho que era tingido, e um rosto bem fino pelo que me lembro. O outro tinha cabelos castanhos, sobrancelhas mais grossas e parecia estar com o rosto machucado. — Lee Jooheon fez uma pausa, olhando para o chão. — Ah, sim! Usava um curativo adesivo na bochecha... Direita, acho.

Os policiais se entreolharam por alguns segundos, estranhando as descrições que batiam exatamente com um sujeito que haviam abordado mais cedo. Kihyun fez um sinal discreto, sinalizando para Wonho que não falasse nada.

— Mas o senhor tem como afirmar que foram mesmo esses rapazes que furtaram seu veículo? — Kihyun disse enquanto observava a rua mal iluminada por detrás de Jooheon.

— Esse bairro é tranquilo, oficial. Dois rapazes suspeitos fazem muita diferença...

— Não se preocupe. — Wonho disse guardando seu bloco de notas no bolso traseiro da calça de uniforme. — Nós vamos investigar e encontraremos seu veículo e os responsáveis pelo furto. O senhor quer que eu peça um táxi para que possa voltar para casa?

Lee Jooheon aceitou o táxi, que apareceu cerca de cinco minutos depois, e o levou para casa em segurança. Os dois policiais permaneceram no local um pouco mais, observando o movimento e mapeando possíveis testemunhas, evidências ou o que quer que fosse que ajudasse na elucidação do caso.

— Você também achou estranho, não foi? — Wonho se aproximou de Kihyun, que estava com os cotovelos apoiados na viatura e olhava para o horizonte.

— O quê? — Kihyun permaneceu com o olhar longe, estava pensando em como desejava chegar em casa e verificar se Hyungwon havia mesmo lavado a louça, ou se Shownu tivesse pedido algo para o jantar.

— As descrições do suspeito número dois batem exatamente com o rapaz que encontramos no beco de manhã. — Wonho disse e Kihyun balançou a cabeça, concordando. — Mas, pense comigo: encontramos o rapaz por volta das onze horas perto do segundo bairro das rondas de quinta-feira, e também pelas onze horas da manhã ele foi supostamente visto aqui furtando um carro com um comparsa. Mas, até você fazer o curativo nele e irmos embora levaram alguns minutos, como diabos então ele veio parar aqui tão rápido, uns bairros de distância?

the probable crimes of changkyun | changkiOnde histórias criam vida. Descubra agora