IARAS- Em Guerra Com O Atro

PRÓLOGO

POV MARIA

-Eu disse que a gente ia se perder!

Se tem uma coisa que Ana Beatriz não tem é paciência. Não que as outras sejam diferentes, mas ela avisou desde o início que todas iríamos nos perder, e foi exatamente isso que aconteceu. Ela sempre acerta, e às vezes isso é muito triste, como agora.

-E olha que eu nem queria vim pra esse mato!

Ingrid sempre foi contra passarmos nossas férias no Amazonas. Ela não gosta muito de florestas, a vibe dela é mais cidade grande. Mas eu a convenci, afinal, nossas férias nunca coincidem, tínhamos que aproveitar.

-Tudo culpa de Maria Isabel! Não sei pra que inventou essa porcaria!

Winnyele está com medo, não que eu esteja diferente, estou apavorada também. Vejo os brilhos das lágrimas contidas nos seus olhos, mas ela já tá botando a culpa em mim!

-Eu não obriguei ninguém a vir!

Eu estou com medo e com frio, a ponto de chorar. Já me sinto responsável o suficiente por nos trazer para o camping e insistir na ideia de procurar a lenha para a fogueira, sem um instrutor.

-Não adianta a gente brigar agora. Vamos tentar voltar, antes que escureça.

Byanca, é sempre sensata. Sei que ela está louca para me chamar de vagabunda, por nos colocar nessa situação, mas ela consegue se acalmar. Queria ser assim, estou bem perto de surtar.

Após concordamos em deixar as discussões de lado, começamos a andar pela mata. Se eu não estivesse à beira do desespero, pararia e contemplaria a natureza. É uma visão tão linda, as árvores sendo iluminadas pelo laranja do pôr do sol, acho que a visão mais linda da minha vida e a mais triste, já que ficará de noite logo.

-Não aguento mais andar...

Já faz um tempo que andamos sem rumo, e pela décima vez, Ingrid protesta para pararmos. Não nego que também estava cansada, mas me preocupa as cores, agora, rosa e azul no céu. Está ficando escuro, e se de noite nós ainda estivermos no meio da floresta, não vamos enxergar nada, a mata é muito fechada para isso.

-Ali tem um rio! Vamos parar lá, talvez passe algum barco e resgate a gente.

Winnyele fala em alívio, apontando na direção às águas do rio. Agora, me permito suspirar em esperança. Eu realmente não quero morrer no meio da floresta. Talvez nem encontrem meu corpo, então não terei nem um enterro, ou meu corpo serviria de comida para as onças, ou de adubo para a terra...

-Vai ser bom, se ficar de noite, pelo menos dá pra lua iluminar.

Falo em voz alta que temos salvação, já que esses pensamentos sombrios insistem em me perturbar. Eu só não quero morrer...

-Sei não viu... e se tiver jacaré?

Quando estamos a alguns passos do rio, Bia fala desconfiada, fazendo todas nós pararmos de andar. Por favor Bia! Por favor! Esteja errada dessa vez!

-Vejam pelo lado bom. Se a gente morrer, vai ser com essa visão... o céu está lindo.

O humor negro de Byanca geralmente nos faz rir, mas agora eu só penso em chorar, assim como winny a meu lado, que não aguentou as palavras que acabaram de ser pronunciadas. Agarro-me nela, abraçando para confortá-la. Eu quero chorar tbm, mas devo me manter forte, pelas meninas. Só não sei quanto tempo vou aguentar...

-Tudo bem... hora errada.

Fala Byanca preocupada, vendo que sua descarga de tensão não deu muito certo.

-Então, o plano é esperar um barco passar aqui é?

Concordamos com a cabeça, a pergunta de Ingrid, que dita em voz alta, só faz parecer muito ridícula. Sua careta denuncia que acabou de perceber isso, mas não diz nada. Além do que, não temos o que fazer, estamos de mãos atadas... perdida à noite, no meio da Floresta Amazônica e exposta a morte constante. O que nos resta é sentar e esperar alguém nos encontrar, de preferência, antes de morrermos atacadas pelos jacarés do rio, como Bia já disse.