• Capitulo 3 •

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Harry sempre dava um jeito de fugir do hospital. O pior é que sempre o pegavam e o traziam de volta, todo sujo, com o olhar ensandecido de quem enxergou a liberdade.

Ele amaldiçoava seus captores, e nem mesmo as enfermeira veteranas mais irredutíveis conseguiam conter o riso diante dos xingamentos que inventava.

"Boceta de bacalhau!"

Ou então, outro dos seus favoritos:

"Seu morcego esquizofrênico!"

Geralmente encontravam-no antes do fim do dia. A pé e sem dinheiro, ele não conseguia ir muito longe.

Reconhecer Harry na certa não era difícil. Ele raramente comia e nunca dormia, de forma que era magro, pálido e tinha bolsas enormes sob os seus grandes olhos verdes. Suas roupas quase sempre chamavam atenção, religiosamente com cores provocantes e brilhos em excesso. Prendia os cabelos castanhos e ondulados com um elástico que mantinha no pulso esquerdo, e cultivava longas unhas cuidadosamente esmaltadas.

Como Harry não dormia havia dois anos, os enfermeiros desistiram de mandá-lo para a cama. Em vez disso, havia uma cadeira só sua no corredor, como a da equipe da noite, onde ficava sentado fazendo as unhas.

À noite ele costumava ficar mais calmo e certa vez lhe fora perguntado:

"Harry, como é que à noite você não fica andando de um lado para o outro, e nem grita?"

"Também preciso descansar." Ele respondeu. "Só porque não durmo, não quer dizer que eu não descanse."

Profundo, não?

Harry nunca fora muito de assistir à televisão, e para os que assistiam, mostrava seu desprezo. "É tudo uma bosta!", berrava, enfiando a cabeça pelo corredor em direção a sala de TV. "Vocês já parecem robôs. Desse jeito vão piorar."

Às vezes ele, desligava a TV ou se plantava diante da tela, desafiando alguém a ligá-la de novo. A plateia, porém, era quase toda formada por catatônicos e depressivos que não estavam a fim de se mexer. Passados cinco minutos, ou seja, mais ou menos o tempo que ele conseguia ficar parado, ele saía para fazer outra coisa; e, quando a encarregada da ronda se aproximava, voltava a ligar o aparelho.

Louis já estava a aproximadamente quatro horas na frente da pequena televisão ruidosa que exibia um filme qualquer. Ele apenas ficou lá, o mais imóvel quanto possível em uma poltrona isolada tentando não pensar muito sobre a rapidez dos acontecimentos naquele lugar, pois tinha a plena consciência que isso não o ajudaria a sair antes dali.

Ele nunca se envergonhou de seu corpo, muito pelo contrário, se orgulhava até, mas seu primeiro banho em sua nova instalação não foi dos mais confortáveis. Após cinco minutos de negociação conseguiu convencer a Malcom que não havia necessidade de dois enfermeiros o olhando durante seus lavatórios mais íntimos, e apenas um foi autorizado a permanecer na vigília.

O jantar havia sido sopa, e foi um show de horrores. Você alguma vez teve a chance de presenciar cerca de trinta homens completamente drogados em um nível preocupante tentando se alimentar? Não queira.

Mais cedo naquele dia, Liam apresentou o restante da instalação, o apoiou durante a negociação com Malcom, e passou o jantar inteiro calado. O que fez que Louis quase se ajoelhasse em agradecimento.

Ele realmente não queria ter que fingir simpatia e Liam o entendia, afinal.

Fumando mais que o normal, Louis alternava entre escrever em seu diário e notar as nuances dos transtornos mentais de seus novos colegas.

Tinha um cara, o chamavam de 'Namorado da Marciana'. Ele era baixinho e rechonchudo, sempre andando por aí propondo aos outros que dessem uma olhada na vagina de sua namorada, a extraterrestre 'Marciana', e então colocava o pênis para fora rindo como uma criança.

A cada segundo, grito e declaração chorosa Louis dizia para si mesmo que era tudo por pouco tempo. Apenas um descanso. Mas o sentimento de não pertencimento crescia em seu peito quase o partindo no meio, se transformando em dor física.

- Medicamentos. - Uma voz feminina soou pelo lugar e logo todos rapidamente se direcionaram para a enfermaria. - Michael Brown.

- Louis Tomlinson. - E Louis levanta confuso indo em direção a aglomeração. - Louis Tomlinson.

- Sim?

- Sou a Sra. Mc Miller, e estes são para você. - Explica a enfermeira o entregando um pequeno copo de papel com dois comprimidos dentro.

- Pra quê serve isso? - Questiona temeroso.

- Vão ajuda-lo a dormir. - Explica a mulher.

- É que são dez e trinta eu não vou-

- Anda logo pelo amor de deus. - Solta Zayn que está escorado na parede ao lado de Louis.

O moreno estava visivelmente ansioso por sua vez, pois não parava quieto, sempre trocando o peso das pernas, arrumando o cabelo intacto e retirando o excesso de cinzas não existente de seu cigarro.

- Pode falar sobre isso amanhã com o seu médico, querido. Aqui só pode concordar ou discordar. - Enfatiza secamente empurrando o copo na direção de Louis mais uma vez, logo em seguida o dando um outro copo cheio com água.

- Pode ir agora. - A enfermeira diz após Louis engolir os comprimidos. - Niall Horan. - E Niall surge entre as pessoas logo ocupando o lugar onde Louis estava, recebendo de bom grado sua medicação.

Mais nomes são chamados enquanto Louis caminha em direção a seu quarto, ele pode sentir perfeitamente o momento em que se pescoço não tem mais tanta firmeza, o que o faz lembrar o dia em que cometeu a tentativa ridícula de suicídio.

Naquele dia após acordar, percebeu que seu corpo não respondia como deveria, e os braços pesavam o quádruplo, o que dava a sensação de que não possuía mais ossos nos mesmos.

Louis se escorou na parede por um momento tentando se firmar e mudar a frequência de seus pensamentos frouxos. Seus joelhos estavam duros e as pernas pesavam como se estivesse calçando enormes tijolos de barro.

No fim do corredor da direita, era possível ver a porta de uma das solitárias abertas. Dois enfermeiros examinavam Harry, que estava sentado ao chão, encolhido e com a aparência frágil, se movendo quase que em câmera lenta.

Ele vestia uma enorme bata branca, estava descalço e seus longos cabelos encaracolados estavam uma completa bagunça cobrindo pescoço e ombros. Harry não possuía força para manter a cabeça erguida então um dos enfermeiros o ajudava enquanto o segundo homem examinava o reflexo de suas pupilas.

Louis sentiu ânsia ao ver aquilo. Harry parecia assustadoramente miserável.

Sua visão foi gradativamente ficando turva, o que não o permitia mais focar no que acontecia dentro da solitária de Harry. Então caminhou o mais rápido que pode para seu quarto, se cobriu e fingiu dormir até de fato pegar no sono.


Garoto, interrompido {versão Larry Stylinson}Onde histórias criam vida. Descubra agora