(POV HARRY)
O cabelo esvoaçante, um sorriso angelical e contagiante, daqueles que mostram todos os dentes, um pôr do sol deslumbrante e uma mota vespa azul bebé sob ele.
Esta é a minha rotina matinal. Ver as fotos feias do meu ex, sério nunca vi ninguém usar tanto photoshop, ele nem sequer tem esta mota! Mas está tudo bem, eu prometi a mim mesmo que nunca mais sofreria por ele nem pelo que ele me fez. Não deve ser assim tão difícil não é? Afinal, eu é que me livrei dele... Eu não sou o errado da história, não preciso de ficar mal por isto tudo eu só preciso de me distrair um pouco, apenas isso.
Olhei pela janela do meu quarto e tanto o sorriso como a minha motivação desapareceram. Mais um dia comum em Londres onde a única coisa que vês no céu são nuvens acinzentadas a derramar gotículas de chuva e resquícios de raios solares a atravessar a névoa.
Voltei a olhar para o meu computador, atualizei-o e apareceu uma foto do Shawn Mendes postada a apenas 23 segundos. Como eu adoro quando isso acontece, mas apenas se for com um famoso, têm noção do quão horrível é dar like numa foto de um colega de turma, com quem, aliás, não falas assim tanto, acabada de postar? Tenho inveja de quem não sabe, porque eu sei bem como é. E se a pessoa pensa que estou a stalkear? Nem a conheço direito, como iria eu fazer isso? A única pessoa que pode reclamar de eu estar a stalkear é o Shawn e eu acho que ele já está habituado a isso e nunca nem vai saber que eu existo, então está tudo bem. E já que já falei sobre isto, acho que não tem mal nenhum dar uma olhadinha no seu perfil... ai que homem gostoso. Acredito que já tenham chegado a essa conclusão mas para quem tem dúvidas sim, eu sou bissexual e sim já me assumi para os meus pais.
A minha mãe, Anne, apoiou-me bastante disse que estava tudo bem, que ama-me muito independentemente da minha orientação sexual. Ela até perguntou-me se eu estou interessado em alguém, na altura fui demasiado iludido para dizer que talvez gostasse do Alex, o meu ex, mas vamos evitar falar disso. O meu pai, Desmond, é que foi o problema, ele só fechou a cara e saiu de casa voltando só de madrugada. De certeza que ficou o tempo todo num café qualquer a torrar o dinheiro todo em bebida e cigarro. Eram quatro da manhã quando ele chegou e começou a discutir com a minha mãe. Disse que a culpa era dela por eu ser assim, que ela não me educou direito e que agora eu era uma aberração, defeituoso. Nessa noite não consegui dormir, deitei-me na minha cama e chorei, nunca tinha chorado tanto na minha vida. Em todo o tempo pensava no que ele disse. Eu sei que não estou errado em apenas ser eu mesmo, essa era de "a comunidade LGBT é do demônio", já meio que passou, agora só é preconceituoso quem for maldoso, antes era tudo um bando de desinformados que preferia matar do que aceitar que as outras pessoas se amem, agora as pessoas têm informação, só não vê quem não quer. Apesar de eu saber isso tudo, não deixou de ser horrível ouvir aquelas palavras duras, logo vindo da pessoa que deveria apoiar-me e proteger-me.
Depois de me assumir tudo piorou, Anne e Desmond só discutiam, ele até passou a dormir no quarto de hóspedes para evitar mais confusão. Eu acordava diversas vezes pelos gritos de ambos, ou ele implicava que o café estava horrível ou ele dizia que sentia vergonha de mim e voltava tudo ao assunto e como a minha mãe defendia-me ele discutia com ela. Por vezes até tentou expulsar-me de casa, a minha salvação foi na maioria delas a minha mãe chegar em cima da hora e não permiti-lo fazer isso. Mas houve uma vez em que não tive essa sorte, ele disse que não me queria mais lá e que não se importava se eu fosse para baixo da ponte, só não queria aquela vergonha na sua família. Fiquei por volta de cinco horas ao relento até Anne chegar e voltar a pôr-me dentro de casa. Eu queria conseguir enfrentá-lo como ela faz, mas eu não consigo. As minhas pernas começam logo a tremer, o meu coração acelera, suo frio e cada palavra que ou sai a gaguejar ou nem chega a sair em voz alta o suficiente.
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-LOST- l.s.
RandomO vento esbofeteia a minha face, a noite sombria estraga a minha visão e tudo o que consigo fazer é correr. Corro como se a minha vida dependesse disso, até porque realmente depende.