quinque

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(POV HARRY)

Sábado já começou da pior forma possível. Para além de todos os sonhos estranhos que tenho, hoje acordei ao som da trovoada e do barulho da chuva a despencar torrencialmente no chão, nem um resquício de luz solar é visto no céu. Apenas te deparas com a escuridão causada pela imensa quantidade de nuvens que libertam cada gotícula de água derramada na terra.

Às vezes penso que um dia chuvoso é bastante poético, tudo fica com um ar tão profundo e dramático. Desde as folhas das árvores e das florzinhas que choram aquela água da chuva que outrora fora derramada nelas, até
ao brilho da relva umedecida e traiçoeira. Penso em como o mar deve estar revolto, com aquelas ondas enormes, o reflexo do céu escuro fornecendo uma tonalidade mais carregada à água. Depois penso nos trovões, soam como gritos desesperados, gritos consecutivos que tentam mostrar-nos o óbvio, aquilo que não vemos porque não queremos. E porque será que não queremos ver? Bem... normalmente se não sabemos não tememos. Para as pessoas é mais fácil ignorar e viver as suas vidinhas sujas e falsas do que apenas olhar ao redor e reparar o caos que poderiam ter evitado. Sim, as pessoas podem ser egoístas a esse ponto!

Levanto-me da cama e desço as escadas, ainda de pijama, para tomar o pequeno-almoço. Chegando à cozinha vejo a minha mãe e a minha avó completamente absortas ao seu redor.

-Isso é só uma história para assustar criancinhas, mãe.- ouvi Anne dizer enquanto levava uma chávena, provavelmente com café, à boca.

-Olha que eu não sei, já vi... Ah, olá querido nem tinha reparado que estavas aí- disse ela sobressaltada interrompendo o assunto anterior.

-Deu para perceber.- retorqui de uma forma risonha, indo direto dar um forte abraço em cada uma delas.- do quê que estavam a falar?- perguntei bastante curioso.

-É a tua avó que gosta de histórias de terror, meu filho.- riu-se da própria frase e de canto de olho pude ver a avó a fazer uma careta na direção da mãe.- não ligues, são apenas histórias de assustar crianças.

-Tá bem.- disse meio confuso e risonho.

-A nossa vizinha da frente, a Karen, até nos trouxe um bolinho.- disse Anne apontando para o bolo em cima da mesa.

-Que bom, realmente seria bom conseguires fazer novas amigas por aqui.- eu disse com um sorriso e ela logo abanou a cabeça em concordância.

-É, tu já conseguiste fazer uma amiguinha, também preciso, assim poderei participar das reuniões do bairro.- brincou ela fazendo todos rirem.- Mas agora anda comer um pouco.- continuou ela.

Tomei o pequeno almoço, ficamos os três numa conversa boa, fui para o meu quarto novamente. Sem muito para fazer limitei-me a ver as minhas redes sociais. Fui ao Twitter ver alguma polémica e ler o quanto as pessoas odeiam alguma coisa e também aproveitei para comentar um pouco, espero que nunca ninguém descubra esta conta, iria ser super constrangedor. Imaginem uma conta onde até quando vais à casa de banho postas algo, falas sobre coisas de famosos em que os de fora que não entendem do assunto iriam, no mínimo, achar maluquice. E esta mesma conta, ser descoberta por pessoas com quem ainda não tem intimidade nenhuma. Seria desesperador e totalmente vergonhoso.

Alguns minutos depois fartei-me, então fui buscar um livro à minha estante para ler. A leitura vai para sempre ser a minha maior amiga, nunca me deixa entediado. Mergulhei naquela história encantadora onde tudo é um jogo de pura impureza e sadomasoquismo, onde quem entra nunca mais quer sair. Onde até a alma mais pura é corrompida e é levada para o pecado do prazer mais agitado e intenso. Se um dia a minha mãe descobrir...

Eu juro que tento, mas é impossível, nem uma imagem pode detalhar tanto quanto estas palavras, apenas eu e a imaginação. Depois de chegar ao limite pela terceira vez em pouco tempo, aliás, bati o recorde, decidi que era melhor descansar um pouco e deixar o livro de lado. Olhei para o relógio e marcava onze e meia da manhã. Fui tomar um banho rápido, acho que fiquei demasiado soado.

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⏰ Última atualização: Feb 27, 2022 ⏰

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