Capítulo Vinte e Dois

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ELENA


Na mesa ao lado da grande janela de vidro, nos fundos da padaria, estávamos Ben e eu: sentados frente a frente, gargalhando feito duas crianças sobre alguns acontecimentos do passado — especialmente das ceninhas de ciúmes — enquanto esperávamos o nosso pedido chegar. Gesticulávamos feito dois malucos, e as nossas caras e bocas eram as mais jocosas.

Um casal que ocupava uma mesa ao nosso lado, de quando em quando nos olhava e ria da nossa conversa nada convencional.

Naquele momento, era como se nada estivesse acontecido.

Naquele instante, estávamos nos tornando, pela primeira vez, o que na verdade nunca fomos — e deveríamos ter sido —, antes de mais nada: amigos!

— Sabe qual é a maior ironia de toda essa história? — Perguntei retoricamente ao Ben enquanto esticava as pernas, colocando-as em cima das suas coxas. — No final das contas, a sua ex-namorada acabou ficando com o meu melhor amigo.

— Ufa, menos mal! — Ben suspirou aliviado de um jeito divertido, desatando o laço das minhas sandálias, retirando-as. — Achei que você ia dizer "com meu ex-namorado".

Dei um peteleco na orelha dele.

— Deixa de ser bocó, seu.... seu... seu boboca! — Caímos na gargalhada novamente.

A garçonete entregou o nosso pedido: pães torrados na chapa com azeite e orégano e café com leite vegetal para mim; sanduíche natural com frango desfiado e café descafeinado para o Ben.

Descafeinado. Qual o sentido?

Assim que a garçonete se retirou, gentilmente, o Ben pigarreou:

— Achei que você estaria usando aquele colar da noite do jantar.

— Aquele que tem um pingente com a letra "B"? — Ele assentiu. — Há um fato curioso sobre ele que você não faz ideia... eu acho.

— Qual? — Perguntou curioso, e logo em seguida mordeu o seu sanduíche.

— Ganhei-o de presente do Austin. — E tomei um gole do meu café.

Ben olhou para mim com os olhos arregalados e quase se engasgou com a comida.

— Fala sério, amor.

"Amor".

Dessa vez, quem quase se engasgou fui eu.

Quis vomitar arco-íris, mas dissimulei o meu estado e foquei em tirar um pouquinho de sarro do bobão que estava sentado bem na minha frente.

— É a mais pura verdade! — Encolhi os ombros e sorri convencida.

— Isso não faz o menor sentido, Elena. — Declarou, ainda confuso... feito um menino. — O cara era completamente apaixonado por você! Como ele vai te presentar com um colar cujo pingente contém a inicial da pessoa que você ama... e que não é ele?

— Ei! — Entrecerrei o olhar. — Quem disse que eu te amo? — Ele revirou os olhos e riu. — Pois é, baby. Acredite se quiser, mas ele realmente me presenteou com isso.

— Não entendo... — Falou enquanto mastigava outro pedaço do sanduíche — por quê ele fez isso? Quando aconteceu? Foi recente?

— San Francisco. Austin viajou para resolver a papelada da faculdade. Papai e eu fomos buscá-lo no aeroporto... — Ri baixinho ao lembrar daquele dia — apesar do drama, foi engraçado.

— Engraçado? — Ben fez uma careta engraçado.

— Quando o Austin veio caminhando na nossa direção, ele trazia uma caixinha vermelha na mão e o papai brincou comigo dizendo que ele ia me pedir em casamento.

— Hmm... — Bebeu um gole do seu descafé — e o que ele disse?

Naquele instante, endireitei-me na cadeira e um sorriso bobo se formara nos meus lábios involuntariamente. Segurei uma das mãos livres do Benjamin que estava em cima da mesa e senti o meu rosto ruborizar por completo.

Eu não estava mais acostumada a sentir o seu toque.

Era como se fosse a primeira vez.

— O que foi, Elena? — Ben falou baixinho, com a voz estremecida.

— "Naquela música da Taylor Swift que a Olivia tanto gosta de ouvir, o Romeu que vai te salvar no fim da história, não sou eu." — Repeti as palavras do Austin, mas o Ben pareceu ainda não compreender....

Bobão.

Até que...

— Não entendo nada das músicas da Taylor Swift, mas eu conheço a história de Romeu e Julieta, então... — Encolheu os ombros, sem graça — suponho que, na verdade, eu sou esse Romeu de quem ele falou de modo implícito?

— Você ainda pergunta? — Sussurrei, e os seus olhos brilharam.

Entreolhamo-nos em silêncio, cada um com o seu sorriso bobo impregnado nos lábios feito cola permanente.

Benjamin se aproximou um pouco mais e sussurrou:

— Seria má ideia se eu beijasse você aqui e agora?

Senti a minha frequência cardíaca aumentar freneticamente.

— Talvez. — Mantive a compostura. — Mas... fecha os olhos. — Benjamin lançou um olhar confuso. — Vai, fecha. — Apesar do receio, ele fechou os olhos... lentamente.

Respirou fundo e falou divertidamente:

— Tô pronto!

Palhaço.

Aproximei-me do seu rosto e deixei que ele pudesse sentir a minha respiração quente perto dos seus lábios. Ao perceber que Ben umedecia os lábios, subi lentamente e beijei a ponta do seu nariz, com carinho e ternura.

Benjamin ficou com os lábios entreabertos.

— Oh, Elena! — Grunhiu. — Isso vai ter volta, mocinha!

— Você está me desafiando? — Encostei-me novamente na cadeira, e mordi um pedaço camarada dos meus pães torrados. Quando Benjamin abriu a boca para responder, cutuquei a sua perna de leve. — Olha lá... — Inclinei o queixo para frente. Ben virou o pescoço para trás e fez uma careta engraçada.

— Caramba, temos uma boquinha abençoada, hein?

Era Austin e Beatrice entrando juntos na padaria.

— Eles parecem bem juntos. — Prosseguiu.

— É, eles parecem mesmo. — Sorri ao ver o sorriso tímido, de longe, estampado nos lábios do Austin.

— Beatrice merecia um cara melhor do que eu. — Afirmou enquanto retornava o seu olhar para mim. Repreendi-o com um chute leve na canela. — Você entendeu o que eu quis dizer.

— Austin é um cara bacana. Fique tranquilo, ela está em boas mãos... assim como eu.

Benjamin ficou cabisbaixo e sorriu de lado, feito menino.

— Eu sou muito sortudo por ter você na minha vida. — Começou. — Obrigado.

— Pelo quê está me agradecendo?

Ao erguer a cabeça, os seus olhos estavam marejados.

— No meio de toda essa escuridão, você foi a única luz que eu consegui enxergar.

FINE LINE: Do Outro Lado Da Linha | LIVRO #2Onde histórias criam vida. Descubra agora