ELENA
Na mesa ao lado da grande janela de vidro, nos fundos da padaria, estávamos Ben e eu: sentados frente a frente, gargalhando feito duas crianças sobre alguns acontecimentos do passado — especialmente das ceninhas de ciúmes — enquanto esperávamos o nosso pedido chegar. Gesticulávamos feito dois malucos, e as nossas caras e bocas eram as mais jocosas.
Um casal que ocupava uma mesa ao nosso lado, de quando em quando nos olhava e ria da nossa conversa nada convencional.
Naquele momento, era como se nada estivesse acontecido.
Naquele instante, estávamos nos tornando, pela primeira vez, o que na verdade nunca fomos — e deveríamos ter sido —, antes de mais nada: amigos!
— Sabe qual é a maior ironia de toda essa história? — Perguntei retoricamente ao Ben enquanto esticava as pernas, colocando-as em cima das suas coxas. — No final das contas, a sua ex-namorada acabou ficando com o meu melhor amigo.
— Ufa, menos mal! — Ben suspirou aliviado de um jeito divertido, desatando o laço das minhas sandálias, retirando-as. — Achei que você ia dizer "com meu ex-namorado".
Dei um peteleco na orelha dele.
— Deixa de ser bocó, seu.... seu... seu boboca! — Caímos na gargalhada novamente.
A garçonete entregou o nosso pedido: pães torrados na chapa com azeite e orégano e café com leite vegetal para mim; sanduíche natural com frango desfiado e café descafeinado para o Ben.
Descafeinado. Qual o sentido?
Assim que a garçonete se retirou, gentilmente, o Ben pigarreou:
— Achei que você estaria usando aquele colar da noite do jantar.
— Aquele que tem um pingente com a letra "B"? — Ele assentiu. — Há um fato curioso sobre ele que você não faz ideia... eu acho.
— Qual? — Perguntou curioso, e logo em seguida mordeu o seu sanduíche.
— Ganhei-o de presente do Austin. — E tomei um gole do meu café.
Ben olhou para mim com os olhos arregalados e quase se engasgou com a comida.
— Fala sério, amor.
"Amor".
Dessa vez, quem quase se engasgou fui eu.
Quis vomitar arco-íris, mas dissimulei o meu estado e foquei em tirar um pouquinho de sarro do bobão que estava sentado bem na minha frente.
— É a mais pura verdade! — Encolhi os ombros e sorri convencida.
— Isso não faz o menor sentido, Elena. — Declarou, ainda confuso... feito um menino. — O cara era completamente apaixonado por você! Como ele vai te presentar com um colar cujo pingente contém a inicial da pessoa que você ama... e que não é ele?
— Ei! — Entrecerrei o olhar. — Quem disse que eu te amo? — Ele revirou os olhos e riu. — Pois é, baby. Acredite se quiser, mas ele realmente me presenteou com isso.
— Não entendo... — Falou enquanto mastigava outro pedaço do sanduíche — por quê ele fez isso? Quando aconteceu? Foi recente?
— San Francisco. Austin viajou para resolver a papelada da faculdade. Papai e eu fomos buscá-lo no aeroporto... — Ri baixinho ao lembrar daquele dia — apesar do drama, foi engraçado.
— Engraçado? — Ben fez uma careta engraçado.
— Quando o Austin veio caminhando na nossa direção, ele trazia uma caixinha vermelha na mão e o papai brincou comigo dizendo que ele ia me pedir em casamento.
— Hmm... — Bebeu um gole do seu descafé — e o que ele disse?
Naquele instante, endireitei-me na cadeira e um sorriso bobo se formara nos meus lábios involuntariamente. Segurei uma das mãos livres do Benjamin que estava em cima da mesa e senti o meu rosto ruborizar por completo.
Eu não estava mais acostumada a sentir o seu toque.
Era como se fosse a primeira vez.
— O que foi, Elena? — Ben falou baixinho, com a voz estremecida.
— "Naquela música da Taylor Swift que a Olivia tanto gosta de ouvir, o Romeu que vai te salvar no fim da história, não sou eu." — Repeti as palavras do Austin, mas o Ben pareceu ainda não compreender....
Bobão.
Até que...
— Não entendo nada das músicas da Taylor Swift, mas eu conheço a história de Romeu e Julieta, então... — Encolheu os ombros, sem graça — suponho que, na verdade, eu sou esse Romeu de quem ele falou de modo implícito?
— Você ainda pergunta? — Sussurrei, e os seus olhos brilharam.
Entreolhamo-nos em silêncio, cada um com o seu sorriso bobo impregnado nos lábios feito cola permanente.
Benjamin se aproximou um pouco mais e sussurrou:
— Seria má ideia se eu beijasse você aqui e agora?
Senti a minha frequência cardíaca aumentar freneticamente.
— Talvez. — Mantive a compostura. — Mas... fecha os olhos. — Benjamin lançou um olhar confuso. — Vai, fecha. — Apesar do receio, ele fechou os olhos... lentamente.
Respirou fundo e falou divertidamente:
— Tô pronto!
Palhaço.
Aproximei-me do seu rosto e deixei que ele pudesse sentir a minha respiração quente perto dos seus lábios. Ao perceber que Ben umedecia os lábios, subi lentamente e beijei a ponta do seu nariz, com carinho e ternura.
Benjamin ficou com os lábios entreabertos.
— Oh, Elena! — Grunhiu. — Isso vai ter volta, mocinha!
— Você está me desafiando? — Encostei-me novamente na cadeira, e mordi um pedaço camarada dos meus pães torrados. Quando Benjamin abriu a boca para responder, cutuquei a sua perna de leve. — Olha lá... — Inclinei o queixo para frente. Ben virou o pescoço para trás e fez uma careta engraçada.
— Caramba, temos uma boquinha abençoada, hein?
Era Austin e Beatrice entrando juntos na padaria.
— Eles parecem bem juntos. — Prosseguiu.
— É, eles parecem mesmo. — Sorri ao ver o sorriso tímido, de longe, estampado nos lábios do Austin.
— Beatrice merecia um cara melhor do que eu. — Afirmou enquanto retornava o seu olhar para mim. Repreendi-o com um chute leve na canela. — Você entendeu o que eu quis dizer.
— Austin é um cara bacana. Fique tranquilo, ela está em boas mãos... assim como eu.
Benjamin ficou cabisbaixo e sorriu de lado, feito menino.
— Eu sou muito sortudo por ter você na minha vida. — Começou. — Obrigado.
— Pelo quê está me agradecendo?
Ao erguer a cabeça, os seus olhos estavam marejados.
— No meio de toda essa escuridão, você foi a única luz que eu consegui enxergar.
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FINE LINE: Do Outro Lado Da Linha | LIVRO #2
RomanceAtravessar a linha tênue não tem sido fácil para Ben e Elena, pois os caminhos diferentes também se tornaram caminhos separados. Talvez a linha de chegada esteja tão distante quanto a Terra está de Saturno, e nunca haverá como saber o que está por v...