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- Já jogou Ddakji?

Carol se sentiu confusa. Não fazia ideia de que jogo era esse. O estranho percebendo sua confusão acrescentou.

- Você precisa virar meu cartão, com o seu cartão. Assim. - O estranho se levantou e posicionou um cartão no chão e jogou o cartão que estava em sua mão com força. Mas o cartão não virou.

- Você não virou o cartão...

- Pois é - disse o estranho com uma risada fraca.

- Isso é realmente possível? - Carol suspeitava de quanto essa brincadeira funcionava. Mas se lembrou de uma velha brincadeira chamada bafo em que seus amigos de escola brincavam de virar cards.

- Cada vez que você virar eu te dou 100 mil wons.

- 100 mil wons!?

- 100 mil wons.

Carol exitou por um instante. Mas logo se levantou. O estranho iria pegar o cartão para ela. Mas ela mesmo pegou o cartão azul do chão.

Ele apenas sorriu.

- Vamos começar.

Carol posicionou o cartão dele no chão e jogou com todas as suas forças seu cartão em direção ao outro.

- Virou!

- Parabéns!- o estranho foi até a maleta e lhe entregou 100 mil wons. - Quer jogar mais uma vez?

- Claro que sim!

Carol  ia ajeitar o cartão de seu inusitado adversário. Quando ele próprio o pegou. Carol o encarou confusa e ele apenas sorriu minimamente.

- Minha vez.

Carol sentiu a tensão no ar.

- Se eu virar seu cartão. Você me deve 100 mil wons. - disse o estranho.

O estranho jogou mais uma vez seu cartão e falhou. Carol não resistiu de sorrir minimamente. Logo em seguida foi sua vez. E ela ganhou novamente. Não podia se conter e cantou vitória. Enquanto o estranho aceitava sua derrota.

- Minha vez. - dessa vez o estranho conseguiu virar o cartão.

Carol ainda se sentia segura, por ter vencido duas vezes mas entregou a contragosto o dinheiro.

- Vamos lá. - Carol  jogou com todas as suas forças novamente. Mas o cartão não virou.

O estranho voltou a jogar e como se ele tivesse pegado uma prática surreal, virou o cartão.

De 100 mil wons para zero. A maioria das pessoas teria parado por aí, poderiam até dizer que isso é um golpe. Mas não Carol. Carol estava de madrugada no metrô. Prestes a voltar para seu quartinho alugado que estava com dois meses de atraso por causa da maldita empresa. E com fome. E o restante do dinheiro de meses que tinha havia gastado em bebida.

- Vamos de novo! - Dessa vez havia um certo desespero em Carol. Uma adrenalina de não saber o que estava por vir. Mas ela estava tão confiante ao mesmo tempo apavorada. Que quando jogou vacilou sua força, e o cartão não virou.

O estranho ajeitou rapidamente seu cartão e jogou sem cerimônias. Ele virou o cartão.
Carol olhou para ele um pouco perdida. Seus olhos delataram. Não tenho 100 mil wons.

O estranho a olhou com mais atenção enquanto sorria cordialmente. E seu sorriso morreu para uma expressão pensativa.

- Você não tem 100 mil wons não é?

Carol  olhou para baixo envergonhada.

- Tudo bem, você pode me pagar com o seu corpo.

Carol sentiu um alerta de perigo iminente. Mas só conseguiu raciocinar uma ardência no rosto. Ela imediatamente colocou a mão onde o rosto ardia e olhou para o estranho com a respiração um pouco ofegante.

- Cada tapa vale 100 mil wons.

Carol ainda o olhava assustada, mas ao perceber que o único perigo a vista era um tapa sentiu alívio.
O homem cortês que a olhava cordialmente não sentiu emoção alguma e ainda estava com seu sorriso cordial.

- Porque parece que você está aliviada? - Disse o estranho após tocar levemente a recém machucada face de Carol.

Isso era novidade, ele estava indo contra os protocolos. E isso estava ficando perigoso.

- Um tapa é bem menos traumatizante do que uma violência sexual.

O estranho a olhou surpresa e sorriu envergonhado. O contato de cuidado no rosto vermelho de Carol se acabou.

Ele se lembrou de uma jovem mulher que ao dizer "Você pode pagar com o seu corpo" ela pareceu mais animada do que quando ganhou 100 mil wons.
Han Mi-nyeo era seu nome. Ela fumava excessivamente. Era um pouco agressiva e manipuladora. Mas a maioria dos jogadores tinham essas características.

O medo de alguém de alguma forma violar seu corpo era instintivo e habitual. Fazia parte do jogo de introdução dos jogadores. Até onde eles iriam.

Se bem que diante do medo disso acontecer nos rostos dos homens que entrevistou havia raiva, mas raramente medo. Enquanto no rosto das mulheres...

- Vamos jogar mais uma vez!

Seu objetivo já estava cumprindo. Agora era só chama- lá aos jogos. Carol , 23 anos. Uma trainee idol endividada pela empresa. Treinou a vida inteira para ser substituída por uma garota que mal começou o ensino médio. Lamentável...

Seu trabalho não era pensar sobre a história de vida das pessoas convidadas a jogar. Seu trabalho era simplesmente convidá-las a jogar.
Mais protocolos quebrados... Uma ligação soou no seu telefone silencioso através de discretas vibrações. Mas ele não atendeu. Não era para atender. Era apenas mais um protocolo. Um aviso. Mais uma ligação... Duas ligações encerradas era um aviso, do tipo "continue". Estava demorando mais do que o habitual.

- Vamos jogar. - ele sorriu.

- Se eu vencer- disse com a voz embriagada que a pouco tempo tentava esconder. - Seu corpo é meu?

O olhar de Carol era de uma súplica quase manhosa.

O estranho a olhou com um olhar inexpressivo. Talvez de dúvida sobre o que dizer quanto a isso.

- 100 mil wons. - ele disse mostrando o cartão. Ele preparou para jogar o cartão. Acertou de novo. Mas Carol não estava disposta a voltar pra casa sem antes vencer o suficiente para pagar o aluguel, mais bebida e um bom hotel. Talvez fosse loucura ela pensar nessa possibilidade. Mas ela simplesmente pensou. Culpou a bebida por ter deixado ela tão sem filtro. Seus pensamentos foram interrompidos com um discreto riso e um bater de palmas.

- Sua vez. O estranho disse lhe sorrindo.

O estranho ouviu os murmúrios que Carol achava que estavam secretamente escondidos em seus pensamentos. Ele se divertiu ao perceber as intenções dela. "Será engraçado se por acaso ela ver isso mais tarde". Ele a olhou vendo o quão concentrada estava. "Se eu não estivesse trabalhando", "Se eu não estivesse sendo gravado" pensou. "Talvez...".

Mas a sempre uma possibilidade. E o estranho mesmo sabendo que seguiria todo o protocolo de recrutamento a risca. Pensou na loucura de uma possibilidade. Ambos esperavam algo que talvez nunca fosse acontecer.
Mas que em suas mentes era algo vivido, eles caminhando em direção a saída do metrô juntos.

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Autora:
Pra quem não se lembra da Han Mi-nyeo ela é mais conhecida como 212 na série.

O Recrutador Squid Game/ Round 6Onde histórias criam vida. Descubra agora