Vicio e Desejo.

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  A estação ainda não mudou. Continuo na minha paixão outonal, apegando-me aos tons quentes para escapar deste frio que me rodeia. Mas há um clima que mudara. O clima entre mim e meu príncipe dos meus belos sonhos que tenho ao anoitecer.

  Logo que expus meus sentimentos a ti, ficara sem reação. Sem nenhuma palavra por minutos a fio. Olhar-te com teus olhos nublados e parecendo agitado era como uma linha tenue para mim, em que eu ficava nervoso, quase ansioso, ao que você continuava em silêncio, e a tua falta de palavras era como uma tortura para mim.

  A cada segundo que passava ficava cada vez mais difícil para eu me lembrar que precisava respirar, de tentar não entrar em pânico enquanto você punha a abaixar teus olhos e mordiscar os cantos dos lábios, pensativo. Meu coração estava acelerado, a culpa era sua, com toda a certeza, mas de certo modo era minha por ter-te surpreendido tão cedo.

  Chegara um momento que fiquei impaciente, louco de ansiedade, não suportava mais aquele silêncio estando na tua presença. Me levantei para me retirar, queria conseguir pensar sem ter de sentir teu perfume suave que era-me soprado pelo vento, entretanto, toda via, tu não me deixaras ir. Prendeu-me com tua mão em volta de meu pulso, como uma fria algema prateada.

  Comprimi os lábios e fechei os olhos, esperando tu começar a me dizer.

— Doyummie, senta aqui — pediu, tua voz não sendo mais que um barulhinho sendo levado pelo vento. Permaneci imóvel. — por favor... — teu tom suplicante pediu-me, e amoleci quase que instantaneamente, deixando tu me puxar, para me sentar bem pertinho, nossos joelhos se encostavam, teu aroma me embriagava.

  Tu segurou minha mão, eu olhei-o nos olhos. Deixei-lhe sem graça, pois riu gentil e desviou o olhar por um milisegundo, deixando-me inquieto quando, como da água para o vinho, tu vestiu tua face séria.

— Deixa eu lhe mostrar uma coisa? —mais um pedido, sussurrante. Uma brisa fria soprou e estremeci, mas firme eu assenti. — Certo, um segundinho.

  Virou-se para a própria bolsa e de lá tirou um caderninho cinza. Era como o seu caderno preto a qual utilizava para desenhar, só que de cor diferente e menorzinho. Passou-o para mim e mandou-me abri-lo. Na primeira página haviam traços tão delicados quanto a pequena poesia escrita no canto.

— "A dias lhe vi e minha inspiração pela arte, que a muito não vinha me visitar, acendeu como um vulcão, quente e viva, explosiva! Assim como a minha mais fervorosa curiosidade sobre você, pequeno escritor que exala bela poesia viva." — li em voz alta, e conclui sentindo meu estômago numa festa de borboletas, não, uma festa não, talvez um carnaval agitado e fervoroso?

  Ora, estava me sentindo tão bobo. Sorria como um bobo. Uma poesia e um desenho meu. Tu havia desenhando-me e escrito para mim assim como eu passava horas e horas a escrever bobagens endereçadas ao teu ser.

  Encarei-lhe de soslaio, tu parecia tão perdido e inquieto quanto eu, chegava a parecer tímido, o que me era engraçado, você não parecia tímido ao me chamar de seu ou sequer os outros tantos mais apelidos que já me chamara tão carinhosamente.

  Sorri ladino, uma pequena elevação em minha bochecha esquerda, o lado a qual tu estava sentado esperando que eu continuasse, porém, acho que minha covinha denuncio-me o sorriso, pois tu percebeu e pediu nervosamente para que eu olhasse as mais infinitas páginas do teu caderninho... Todas estampadas com desenheus meus, vários deles eu me questionava como eu nunca havia percebido que tu me desenhavas.

  Estava sem palavras, embasbacado. A forma a qual tu me vias era tão suave como uma nuvem, eu parecia adorável e doce em todos eles, assim como você parecia terno e gentil para mim. Mas de alguma forma, tu ainda conseguia captar a minha expressão de nuvem cumulus, melancólica.

— Você também é a minha inspiração, pequeno poeta. — confessou baixinho, próximo ao meu ouvido, colado ao meu ser, com tua mão por cima do meu joelho, sorrateiro. Pegou-me de surpresa, pois estava concentrado nos desenhos, mas agora com os meus pelos arrepiados, era impossível não prestar atenção nos teus dizeres.

  Eu sabia o que tu tinha dito significava, sabia que havia percebido que minha respiração estava entrecortada por mais que eu tentasse, incansavelmente, esconder, respirando fundo esse teu aroma, que de nada adiantava, pois vossa majestade, eu sou completamente e inteiramente rendido a ti! E quanto mais tu se aproxima, mas sem jeito, sem controle, eu fico.

  Encarei-lhe nos olhos, má escolha, pois perdi totalmente o fôlego. Vidrado era o que definia-me, e definia você, pois estávamos, de uma forma tão clichê, perdidos nos olhos um do outro.

  Teus olhos que desde sempre eram de uma profundidade rasa e clara, agora me eram profundos, profundos demais, de tão profundos penetravam na alma do meu individuo e por mais intimidado que eu estivesse não conseguia por meus olhos em outro canto. Talvez aqueles pequeninos pontos de luz cintilante em meio as profundezas me prendessem, e por isso agora me afogava tentando pensar no que dizer.

  Mas então, tão leve e tão lentamente quanto o passo incerto de um gato desconfiado, tu passou o polegar pelo meu lábio. Do início, até o fim, até encaixar-lhe ao fim de minha bochecha, segurando o meu rosto num toque delicado.

  Via tudo em câmera lenta, lenta demais. Não gostava de vagareza, eu era apressado. Mas tu me puxava devargazinho, com calma, me fazia ir na tua onda em slow.

  "Um beijo, só um beijo, pare de me torturar" pedia, impaciente, em pensamento, já quase totalmente sem controle.

— Você é esperto, Yummie, então... — meu coração saltiva em meu peito, pois tu me dizia isso com os teus lábios a um centímetro dos meus. Eu estava enlouquecendo. — você deve sab-

— Você me enlouquece completamente, príncipe cinzento, de todos as formas possíveis. — disse assim que o calei, com meu indicador sobre os seus lábios. Tu ficou surpreso, mais nada disse, e nada fez.

  Pois quase como imãs, os lábios, enfim, se tocaram. Era um toque quente em meio a aquela friagem de outubro, inocente, e extremamente... Uau. Meu príncipe me acariava a bochecha, num toque de pluma sobre vidro, enquanto, sutilmente, pousava tua mão em minha cintura, numa posse absoluta.

  Era delicado, precioso de certo, pois nossas bocas se encaixavam perfeitamente, assim como esta mão em minha cintura, tudo era proporcional. Entretanto, proporcional não era o meu grandioso vicio em beijar-lhe, teus lábios divinos que com um toque já me deixavam tão inquieto, e que simplesmente completavam os meus.

  E por fim, percebi então que meu príncipe eram o meu vício e desejo obscuros, que escondia-os de mim mesmo com medo de nunca ter uma chance de me aproximar de ti, e finalmente, poder tocar-te, da maneira suave como sempre imaginei.

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⏰ Última atualização: Dec 07, 2021 ⏰

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