Manual para românticos incorrigíveis.

Futuro: Perfeito.

— Jimin, você está atrasado, pelo amor de Deus, e nós mal temos tempo para essa reunião.

Era manhã de segunda-feira, o que significava que a reunião semanal de planejamento de Futuro: perfeito transcorria a pleno vapor. Futuro: perfeito era um programa de reforma que ocupava uma brecha à tarde na tevê a cabo. Jimin era o designer de interiores, um emprego que ele amava e odiava em iguais proporções. Amava porque para ele cada reforma representava um pequeno conto de fadas, no qual um sapo era beijado e se transformava num príncipe, ou então uma cinderela era resgatada das trevas e mandada para um baile; odiava porque o orçamento era ridículo e a maior parte dos seus colegas era um desastre. Magda era a diretora/produtora do programa (Futuro: perfeito não podia se dar ao luxo de ter uma pessoa diferente para cada função) que tinha tanto interesse em reformas de conto de fadas quanto paciência com os que chegavam atrasados.

Jimin deu um enorme sorriso e rapidamente encontrou uma cadeira vazia.

— Imagino que você já esteja com tudo planejado para o programa da próxima semana — Magda continuou, sem tirar os olhos de Jimin. — Sabe que tudo vai girar em torno da casa, não é mesmo? Por que não nos passa as suas ideias para os Jones, Jimin? Conte-nos o que vai fazer para prender as pessoas no nosso canal.

Jimin vasculhou as anotações, confuso devido à explosão de Magda. À dona de casa, disse para si própria, lentamente. Claro. Com cuidado, pegou o seu bloco de notas e revisou suas caóticas anotações. Dona de casa sem autoestima, ele leu. Doméstico. Atmosfera acolhedora de refeições em família. Revigorar casamento. Na parte de baixo da folha estavam alguns esboços que Jimin havia desenhado, apresentando uma imagem para “antes” e outra para “depois” da cozinha em questão. Cada episódio do programa tinha que ter um assunto — o atual era, tentar fazer com que o marido, acostumado à cansada mulher dona de casa, voltasse a prestar atenção nela.

Futuro: perfeito era conhecido, para desgosto de Magda, como o primo pobre de programas como Extreme Makeover, apesar de ter começado antes, conforme ela lembrava a absolutamente qualquer pessoa assim que uma oportunidade se apresentasse. À premissa do programa era bastante simples: a cada semana, uma pessoa ou casal seria refeito pela equipe — a casa, o rosto, as roupas —, com tudo sendo registrado pela câmera e tudo conduzindo à grande revelação, quando a pessoa ou o casal, conhecidos por toda a equipe do programa como as vítimas, veriam sua nova aparência em um espelho e, esperava que debulhasen-se em lágrimas de alegria. O problema era que, com o risivelmente insignificante orçamento de Futuro: perfeito, as vítimas em geral não choravam; na verdade, pouco conseguiam fazer além de lançar a si próprios e às suas casas olhares atônitos, que sugeriam uma vaga decepção:

O que era talvez a razão para Magda estar tão agitada, Jimin concluiu. Sarah Jones, a vítima da próxima semana, havia sido cuidadosamente escolhida, e Magda deixara claro para todos que tinha grandes expectativas em relação ao episódio. Queria as pessoas Grudadas às Telas de Suas Tevês.

-Eu ia fazer uma tomada com um look Cath Kidston — Jimin disse, confiante. — Muito chintz, mas de um jeito moderno, não interiorano demais. Quero mostrá-la sexy na cozinha. Trazer à tona a sexualidade do ato de cozinhar, colocando ela no centro das atenções. Talvez até mesmo com alguns pequenos toques S&M... — Os toques S&M não faziam parte dos seus planos, mas de repente ela sentira vontade de cometer alguma irresponsabilidade.

Magda balançava a cabeça com fúria.

—. Toques S&M? Adoro. O que mais? Talvez pudéssemos convencê-la a largar aquele marido estúpido? Apresentá-la a outro homem?

Jimin olhou para ela, incrédulo.

— Ou então — disse —, poderíamos reaquecer o casamento deles. — Ele sorriu, repentinamente tocada por uma inspiração. — Talvez no final eles pudessem refazer os votos do casamento! Poderiam refazê-los ali, na cozinha, com os filhos como pajens e...