4. Um convite

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Remus estava extasiado.

Era como se, de repente, uma maré de sorte resolvesse o ajudar. Como era possível que as coisas começassem de maneira tão certa assim?

Ele estava no castelo. No castelo inimigo. Havia entrado com sucesso, conhecido o príncipe por acidente, e agora recebera um convite para integrar a guarda pessoal dele. As coisas estavam acontecendo mais rápido do que ele esperava, e isso era ótimo. Quanto mais rápido ele concluísse a missão, mais rápido estaria de volta em casa, com sua família.

Mas por enquanto, Remus não se sentia melancólico de saudades, nem nervoso sobre a execução do plano. Por enquanto, ele se sentia apenas incrivelmente orgulhoso de si mesmo. Sua atuação fora perfeita, suspirando nos momentos certos, parecendo um pouco perdido e nervoso, exatamente como ficaria um soldado que encontrasse o príncipe em seu primeiro dia no palácio. Falando sobre ter saudades sua mãe, e o melhor de tudo – falando que todos os guardas estavam lá para fazer sua parte. Era uma mentira descarada, obviamente. A maioria dos soldados queria apenas o dinheiro, e não poderiam se importar menos com o bem-estar da família real. Por que se importariam com um reino que só lhe deu traumas?

A maior ironia de todas, no entanto, era que Remus estava ali para fazer sua parte, sendo essa envenenar e matar a família real. E até agora, estava seguindo os passos de sua missão muito bem.

Quando chegou ao alojamento, onde cinco soldados dormiam em beliches, subiu pela escada até sua cama – a beliche de cima, a única que havia sobrado. Desembalou com cuidado seus pertences, todos em uma bolsa de mão. Até mesmo os venenos estavam ali, guardados em garrafas de bebida alcoólica que foram novamente lacradas para não levantar suspeitas. Os sargentos nunca revistariam garrafas lacradas, porque o único lugar em que elas eram fechadas dessa maneira eram nas fábricas que as produziam. Mas Remus era um príncipe, seu padrasto era um rei, e as fábricas dos nebelvir serviam a eles.

Era surpreendentemente satisfatório, sentir que ele estava fazendo tudo debaixo dos narizes da monarquia Spendat, e eles não perceberiam nada até que fosse tarde demais. Até mesmo seu nome, John, o dava a sensação de ser invencível, porque ele poderia ter adotado qualquer nome, mas escolhera seu nome do meio. Um nome que era verdadeiramente seu. Porque ele era um príncipe sem sangue real, um príncipe protegido pela mãe das câmeras e dos jornais desde pequeno. Ninguém sabia quem ele era, ninguém ao menos sabia que havia um príncipe, em algum lugar, chamado Remus John Lupin, e que esse príncipe traria a glória aos nebelvir.

Eram como tapas na cara dos spendat, aqueles pequenos pontos soltos planejados para eles serem incapazes de ligar. Isso é pelo meu padrasto, que perdeu seu irmão. Isso é por Lily, que perdeu o pai. Isso é o troco que eu vim trazer a vocês. Se karma existe, o karma do reino Spendat é Remus Lupin.


Antes de completar uma semana no castelo, Remus já sentia saudades de Lily. Ela havia deixado uma carta na mala dele, uma que facilmente passaria pela revista dos sargentos. "Você consegue. Sua família tem orgulho de você. Vá salvar a todos nós agora, e quando voltar, eu e Nina o encheremos de carinho por três dias inteiros"

Seu peito apertou ao imaginar a voz dela enquanto lia a carta. Remus se lembrava de tudo, lembrava daqueles primeiros dias em que eles se tornaram inseparáveis, de como Lily escondia a tristeza por trás da teimosia e de como seus olhos ficavam ainda mais verdes quando estava prestes a chorar. Lembrava deles crescendo juntos, passando por cada uma de suas fases, e lembrava do dia em que Lily anunciou que se casaria com ele. Remus sorriu ao lembrar daquele momento – era impossível não sorrir.

Eles tinham por volta dos quatorze anos, na época, e estavam deitados na cama da princesa. Remus lia um livro, e Lily estava agarrada em sua poodle, Nina.

Don't Blame MeOnde histórias criam vida. Descubra agora