XXII - Entregou-se

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Yashiro não conseguiu pensar em seus próximos passos. Agiu impulsivamente. Instintivamente.

Para proteger quem amava.

Enquanto Sakura queria ter certeza absoluta de que a flecha de chamas azuladas fincaria-se naquele que iniciou todo o seu tormento, Yashiro se jogou em cima dela.

Com o susto repentino, a flecha foi disparada.

Teria acertado seu alvo?

Não importava.

Não mais.

O sentimento de satisfação por, finalmente, poder abraçar a morte trazia-lhe alívio. Ainda que de forma tão repentina e inesperada.

A vida era uma caixinha de surpresas.

Enquanto as lágrimas escorriam por seus canais e eram levadas pelo ar, Nanamine sentiu algo macio e quentinho forrar suas costas com delicadeza.

Aquela era a morte? Aquela que tanto desejou?

Indescritível.

Quando abriu seus olhos esmeralda, viu Yashiro sentada à sua frente em um corpo iluminado: uma raposa dourada.

— Ora, menina irresponsável! Louca! Mais um pouco e eu teria de adiantar seu salário pra pagar as despesas de um hospital!

Sakura ficou confusa quando Yashiro gargalhou e uma mulher loira surgiu flutuando à frente delas, visivelmente furiosa.

— Muito obrigada, Sra. Misaki! — Yashiro a abraçou e Yako se debateu em seus braços.

Sakura ignorou a cena peculiar e voltou sua atenção ao combate nos céus. Tsukasa lutava e Hanako ainda não havia se movido. Seus olhos verdes encontraram as costas douradas do animal no qual estava repousada e chorou lágrimas incrustadas em uma decepção corrosiva.

Ela só tinha um dever: atirar nele. Tsukasa queria isso, ela tinha de ter feito isso. Agora ele nunca daria-lhe paz, nunca daria-lhe a morte e a liberdade daquele sangue amaldiçoado. Afinal, ela era neta dele.

Neta de Yugi Tsukasa.

Uma descendente direta dos Yugi, da tragédia que foram os Yugi. E a desgraça foi tudo o que herdou deles.

Sem que esperasse por isso, sentiu seu corpo ser envolvido por uma aura quente e afetuosa. Quando se deu conta, percebeu que Yashiro a abraçava. E ela podia ver na alma translúcida de Nene que naquele ato não havia pena, não havia perversidade, havia apenas…

Compaixão?

Seu coração retumbou contra suas costelas e ela se permitiu receber aquele contato tão íntimo e agradável.

O abraço daquela ingênua sacerdotisa estava lhe purificando.

Ela pareceu não se importar, não relutou: entregou-se. Entregou sua alma cansada nos braços dela. No momento, aquele conforto era tudo o que precisava. Um conforto que não recebeu dos braços de seus poucos familiares ou de Natsuhiko; apenas dela, ali.

— Vamos fazer isso do jeito certo — um sorriso casto iluminava o rosto de Nene, que ergueu o queixo de Sakura e enxugou-lhe as lágrimas. — Você sabe como, não sabe?

A Yugi encarou aquele espírito tão iluminado e perguntou-se:

Como alguém como Yashiro havia necessitado de um homem tão torpe como Hanako?

Mas assentiu vagarosamente, sentindo uma estranha energia aquecer seu peito frio.

— Conto com você! — Nene saltou em outra raposa dourada que Sakura não percebeu se aproximar. E, enquanto ela se afastava, a mulher loira se dirigiu à jovem Yugi com um sorriso recluso por detrás de seu leque.

— Eu também não entendo a razão, mas ela não vai descansar enquanto o menino não for liberto do castigo. É a cabeça de vento mais desastrada, desajeitada e determinada que eu já vi.

Sakura criou um arco de energia e sequer contestou a declaração bipolar da loira: estava ocupada demais observando a aura de Yashiro brilhar mais do que qualquer uma que já havia visto antes.

𝑂 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎𝑡𝑜 - Hananene fanficOnde histórias criam vida. Descubra agora