XXIV - Esperanças

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Hanako estava de pé, em frente à sua antiga casa. Sabia que seu irmão tentaria manipular sua mente dessa forma, pois Tsukasa tinha consciência de sua culpa. Colocá-lo para vivenciar suas piores memórias era uma tortura cruel e imperdoável.

Mas ele o amava demais para tentar puni-lo.

E não queria sair dali. Sentia que não conseguia entender a própria história. Portanto, procuraria fazer isso naquele momento. Não daria o sofrimento que Tsukasa queria dele, veria aquilo como uma chance de encarar seus fantasmas. De enfrentá-los.

E destruí-los.

Com a visão otimista, adentrou na casa escura. Seu pai, bêbado, batia em Tsukasa com a perna de uma cadeira quebrada. Ele não conseguiu memorar o motivo, mas lembrava daquela cena. Ele apareceu segundos depois, acertando a cabeça do pai com uma garrafa de alguma bebida alcoólica que também não conseguia lembrar especificamente qual.

Os dois irmãos correram para longe daquela casa o máximo que puderam. Fugiram. Voltaram duas semanas depois, quando o pai os encontrou a três cidades de distância.

Observando o velho Yugi com atenção, ele era deplorável. Um homem completamente deturpado, frustrado, medíocre e possuído.

O corpo de Hanako estremeceu ao rever o rosto daquele ser, era impossível não se sentir assim. Entretanto, nele não havia mais medo. Apenas nojo e pena daquela criatura ridícula. Sim, seu pai era uma criatura ridícula. Um homem esdrúxulo, como milhares de outros exatamente iguais.

Ergueu sua cabeça, observando o próprio sofrimento. Os estupros, as agressões, a fome... E engoliu em seco ao entender que o irmão também passou pelo mesmo. Uma lágrima escorreu em sua bochecha e ele continuou.

Agora, jazia naquela noite. Aquela noite que sempre atormentava seu espírito e torturava sua alma. A noite da morte de Tsukasa, da morte de seu pai, da sua morte.

Seus olhos observavam tristemente o modo como Tsukasa o induziu a sofrer por também estar naquele abismo. Ele escolheu um caminho e puxou sua mão para trilhá-lo com ele. O irmão provocando sangue em suas roupas depois de ter o coração perfurado, depois de agonizar por intermináveis minutos e pintar o chão com seu sangue, era uma das memórias mais vívidas que tinha.

Chorou, tocando o próprio peito. Apertou o tecido de sua blusa com força, tentando arrancar a dor de seu coração.

Quando seu pai apareceu, ele se deteve a observar sua própria imagem selvagem perfurar o crânio do velho Yugi com ódio. Não sentiu prazer naquilo. Não se sentiu satisfeito por ver o seu agressor morrer por suas próprias mãos com toda aquela brutalidade, coisa tão típica dele.

Observou suas próprias mãos tingidas de sangue. Sua alma enegrecida.

Amane o observou e ele o olhou de volta. Ambos se encararam e, quando sua garganta foi cortada, ele não se sentiu mais aliviado. O sangue do corpo daquele Amane o cobriu completamente.

Sentia-se triste. Não mais odiava, não.

Estava triste com aquele destino. O que ele tinha feito para pagar um preço tão caro?

Assistiu todas as lutas que travou como Hanako, todas as mortes que causou e todo o ódio que disseminou. Não apenas a sua parte, mas também o sofrimento das famílias de suas vítimas. Todos também tinham demônios e ele não tinha o direito de destruí-los pelos seus próprios.

Nunca mais tiraria nenhuma vida.

Observou com tristeza a exorcista Minamoto lhe aprisionar no próprio túmulo. Naquele breu, naquela dor.

𝑂 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎𝑡𝑜 - Hananene fanficOnde histórias criam vida. Descubra agora