X - Suéter.

401 55 19
                                    

— Neninha! — Aoi abraçou-a. — Onde você esteve? — Girou a amiga, fazendo uma breve vistoria. 

Não viu nenhum machucado ou coisa do tipo e, então, acalmou-se um pouco mais.  

— Está tão bonita! Nem parece a Neninha que conheço — Sorriu, fazendo brincadeira com a aparência zumbificada da amiga nas manhãs de aulas.

— Obrigada — Riu sem jeito. — Espero que mais alguém diga isso além de você hoje — Coçou a cabeça, com um sorriso amarelo. 

— Seja persistente que hoje você desencalha — Akane resolveu também brincar, aparecendo detrás do balcão com uma icônica camiseta florida e uma bermuda esverdeada. — E eu consigo de vez o coração da minha deusa perfeita! — Ajoelhou-se na frente de Aoi, oferecendo-lhe um coquetel. 

Nene segurou o riso, seus amigos eram um casal fofo. Ou, quase, um casal fofo. 

Olhou ao redor, procurando Mitsuba. Ficará surpresa com o quão rápido ele sumira. 

Caminhou um pouco entre os jovens esbeltos que estavam sentados ao redor da fogueira, tocando músicas no violão e bebendo até encherem seus estômagos. Acabou encontrando-se com Natsuhiko, que partilhava do mesmo estilo que os outros. Mas, o questionamento de ele não estar sentindo frio estando sem camisa sequer passou pela cabeça dela: Yashiro estava extremamente corada e embaraçada com os músculos torneados dele tão próximos assim.

— E aí, Ya-ya! — Envolveu seu braço no pescoço dela, dando um abraço apertado que quase sufocou-a. 

E seu hálito tinha cheiro de álcool puro.

— Você veio mesmo, né? — Ele balançou a garrafa que tinha na outra mão, dando goles grandes de seu conteúdo. E, pela sua voz grogue, aquela dali talvez não era a primeira. — Seguinte, vou te apresentar meus amigos. 

Nene foi praticamente arrastada até o centro do círculo de jovens, onde um Natsuhiko bêbado gritou seu nome e anunciou que ela estava "à disposição".

Obviamente, a situação fora bem desagradável. Como assim "à disposição"? Ela realmente não entendera e também não gostara nem um pouco dessa afirmação. 

Resolveu dar de ombros, afastando-se do constrangimento ali causado. Acabou encontrando Mitsuba sentado no porto, distante dali. Ele chorava novamente, como se tivesse apenas mudado do chão do beco escuro para a passarela amadeirada do cais, na qual estava sentado. Nene resolveu caminhar até lá, Mitsuba não parecia bem mesmo. 

Correu pela areia, observando o colega distante. Desviou de algumas conchas no caminho e, ao erguer seu olhar novamente, viu que alguém já estava sentado com ele. 

Continou caminhando. Aquela silhueta não era-lhe nada estranha. Mas, afinal, quem poderia ser?

Eles abraçaram-se, aconchegando-se um no outro. O maior beijou a cabeça de Mitsuba e só então Yashiro pôde perceber o familiar cajado nas costas desse incógnita.

— Kou? — Ela perguntou, já no cais.

— Yashiro? — Ele indagou, apoiando sua bochecha na cabeça de Mitsuba. — Oi! — Sorriu, surpreso. 

— Não esperava vê-lo aqui! — Nene exclamou, extasiada. Estava alegre, seu amigo estava bem. Mas, por que ele foi aparecer justamente agora? Hoje? E, o mais estranho ainda: ele também conhecia o Mitsuba? Pelo visto sim e eram bem íntimos.

— Estava resolvendo uns problemas na casa da família, sabe? — Acariciou os cabelos rosados do Sousuke, que sorriu para ele. 

— Não esperava que conhecesse a testuda — Disse Mitsuba, ainda sorrindo. 

Yashiro quase teve um infarto.

— T-testuda?! — Seu rosto empalideceu. 

— Não seja maldoso, Mitsuba! — Kou esbravejou e deu um peteleco na testa dele, que caía em gargalhadas perversas.

Nene ainda estava paralisada, pensando no apelido. Sabia que suas pernas eram roliças, mas nunca imaginou o mesmo de sua testa! Saber de mais um defeito alarmante era terrível. Talvez mais. 

Enquanto estava afundada em sua melancolia e Kou discutia com Mitsuba a respeito de sua índole…

Uma criatura estranha saltou de dentro do mar e abocanhou-a pelo pescoço. 

Seus olhos arregalaram e ela sentiu um baque frio. Seu corpo fora submergido na água gelada. Suas roupas, maquiagem e cabelos haviam molhado no processo. 

A criatura que a abocanhara era um peixe. Um peixe massivamente grande, que estava levando-a para o fundo. 

Após o choque momentâneo passar, Nene tentou de todas as maneiras fazê-lo soltá-la. Estava asfixiando-a.

Mas ele só nadava cada vez mais fundo. 

— O QUE DIABOS?! — Mitsuba gritou. 

Kou não pensou duas vezes e pulou na água. Nadou o mais rápido que pôde e retornou à superfície para buscar oxigênio.

— FAÇA ALGO, MITSUBA! — Gritou em plenos pulmões, desesperado. Seus braços e pernas tremiam com as possibilidades que imaginava. Ou melhor, a possibilidade que imaginava. Aquela angústia veio à tona novamente: não pôde salvar sua amiga de ser capturada. Ela estava bem na sua frente, tudo aconteceu em sua presença. 

Mitsuba perguntava a si mesmo a razão de Yashiro ser tão importante para Kou. Apesar da estranheza no momento, aquela expressão dolorida no rosto dele era algo que o Sousuke odiava ver. 

Tudo bem, ele molharia seu suéter bacana. Era por um motivo de igual nível: pelo Kou. 

Quatro tentáculos negros, com diversas pontas de vidro afiadas, surgiram de suas costas.

— Vai se secar, seu idiota — Mitsuba disse, erguendo-se por meio de seus quatro tentáculos. — Vou salvar a testuda — Colocou seu capuz e pulou na água. 

Kou sorriu. Não sabia como ambos haviam se conhecido, mas sabia que o Sousuke importava-se sim com ela. Afinal…

Ele molhou seu tão amado suéter. 

O mesmo suéter que Kou havia presenteado-o em seu aniversário de dezoito anos.

O mesmo suéter que Mitsuba usou no dia em que cometeu suicídio.

𝑂 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎𝑡𝑜 - Hananene fanficOnde histórias criam vida. Descubra agora