– Elain.
Por um instante a feérica vacilou em seu trabalho no jardim. Ela não sentiu o macho se aproximando, muito menos sentiu seu cheiro - já tão presente nos seus dias desde que chegaram ali. Mesmo pega de surpresa, Elain não tirou os olhos das plantas que tentava salvar.
– Elain, eu... é... - o macho pigarreou, como se tentando escolher as palavras certas para dizer. – Me desculpe. Eu não pretendia...
– Rosnar para mim? – a voz de Elain cortou a distância entre eles como gelo, fazendo o macho estremecer.
A Archeron podia ser interpretada como a mais doce e frágil, mas ele já sabia que ela estava longe de ser isso.
– Lucien, eu não sou um de seus encarregados - Elain se levantou de súbito, largando o canteiro remexido de qualquer jeito. – Não posso aceitar que rosne para mim como se fosse um animal.
Os olhos de Lucien brilharam em arrependimento, lembrando do que havia acontecido mais cedo, depois do macho ter tido um péssimo encontro com Tamlin.
Ele sabia que estava errado em rosnar para sua parceira, principalmente por ela apenas estar tentando ajudar. Mas tinha dias - mais do que ele gostaria de admitir - que administrar a Corte Primaveril não era uma tarefa fácil. E mesmo com Elain ao seu lado, dividindo seus compromissos em estabilizar a corte, ver e lidar com o seu antigo Grão-Senhor e, infelizmente, amigo, não era moleza.
– Eu sei - os olhos de Lucien abaixaram, demonstrando arrependimento.
Elain aproveitou o gesto e deixou seus olhos passearem pelo feérico.
Com a luz do entardecer sobre ele, era quase como se brilhasse. Seu cabelo ruivo e sua pele de tom amarronzado pareciam querer extravasar um brilho que ela jamais tinha notado. Como se cada centímetro de Lucien implorasse por mais da luz do sol.
Elain quase esqueceu do porquê estar chateada com ele, seu parceiro – como todos insistiam em dizer – era simplesmente lindo.
– Trouxe isto – Lucien ergueu as mãos, voltando a olhá-la –, como prova de meu arrependimento.
Elain quase perdeu o fôlego ao ver o que estava nas mãos do feérico. Um pequeno vaso, com a planta de folhas mais escuras que Elain já tinha visto.
Ela conhecia aquela espécie e, desde quando foram enviados para a Primaveril, não havia conseguido encontrar uma muda sequer dela.
– Uma dama-da-noite - os olhos da feérica encontrando os de Lucien.
Felicidade brilhou ali.
Lucien sentiu o coração descompassar ao ver aqueles olhos castanhos acenderem em alegria.
Os dias na Primaveril não estavam sendo fáceis, mas ao longo das últimas semanas, Lucien e Elain haviam aprendido a respeitar o espaço um do outro e entender suas respectivas histórias.
Elain, a Archeron que usou sempre seu dom de observação para entender e escolher o melhor caminho para lidar com os conflitos daquela Corte. Lucien, a raposa astuta que sabe esperar e ver o melhor momento para agir quando sua mente é requisitada.
Ambos aprenderam a unir suas capacidades em prol de um objetivo maior: reerguer a Corte Primaveril.
Porém algo haviam nascido dessa convivência, uma cumplicidade, um entendimento mútuo. E mesmo que Lucien não quisesse mais se deter na ideia de Elain ser sua parceira, ver o brilho nos olhos da feérica despertou algo novo dentro de si.
Elain puxou com delicadeza o pequeno vaso das mãos de Lucien, trazendo para si à fim de examiná-la mais de perto.
– Nunca vi uma desta por aqui – seus olhos curiosos estudavam cada centímetro da pequena muda.
– Elas são muito comuns na Corte Noturna - a feérica ergueu os olhos novamente para ele à menção da sua antiga Corte. – Mexi uns pauzinhos e uma certa Grã-Senhora trouxe para mim.
– Feyre está aqui? - novamente o brilho de felicidade naqueles olhos castanhos.
– Não só ela – um sorriso tímido fugiu pelos lábios de Lucien ao vê-la tão radiante. - Nestha e Nyx também.
– Pelo Caldeirão! - Elain exclamou como se houvesse semanas que não via as irmãs.Sendo que havia apenas três dias. – Obrigada!
A feérica não segurou seu sorriso. Ver suas irmãs era sempre uma dádiva, principalmente agora que elas estavam caminhando para uma convivência pacífica. E Nyx... Nyx trazia uma alegria inexplicável para Elain, com aquelas bochechas gordinhas e as asas lindas, que cresciam cada vez mais a cada semana que passava.
Elain sentiu uma gratidão tão grande naquele momento que qualquer que fosse o erro de Lucien mais cedo, não era mais relevante. Antes de correr para dentro da mansão, a Archeron mais bela deu um beijo rápido na bochecha do futuro Grão-Senhor da Corte Primaveril.
Ela não parou para olhar para trás, mas podia jurar que viu de relance Lucien brilhar um pouco mais contra a luz do sol poente.
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One Shots
FantasyAqui vou deixar algumas one shots que já escrevi ou que vou vir a escrever, geralmente de algum casal/livro que eu goste muito. . Será uma por capítulo e os personagens principais ficarão destacados no nome do capítulo. . Não vou me responsabilizar...