CAPÍTULO III.

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A fisionomia de todos os oito filhos de Mary e William era composta por olhos negros e cabelos dourados, muito provavelmente por ambos serem loiros. George, Edward, John e Catherine, certamente foram agraciados por uma beleza descomunal, atributo que contribuía muito a favor deles em vários aspectos. Eleanor, Briana, Anne e August de modo algum poderiam ser considerados de semblante feio, pelo contrário, eram até bonitos, mas não o suficiente para receber tanto destaque quanto os irmãos.
Ninguém que conhecesse toda a família Blanchard poderia imaginar as razões para que tantos filhos em idade para se casar estivessem solteiros. Certamente a aparência não estava em questão, talvez, fosse o caráter ou os muitos requisitos para um parceiro, pensavam eles.

– Espero ter a companhia de todos vocês em breve, desta vez em minha própria casa. – dizia Eleanor aos irmãos, em frente a propriedade.

A carruaem de Mr. Howard já encontrava-se estacionada e pronta para seguir viagem. Os criados colocavam todas as malas no automóvel enquanto seus senhores se despediam.

Briana e Catherine ouviam de modo eufórico as muitas recomendações de seu pai sobre Londres, Edward aprofundou-se num assunto sobre jardins botânicos com o cunhado, Eleanor fazia promessas à Anne de que a levaria para um passeio incrível da próxima vez, enquanto John repreendia August por não se manter quieto.

– Juízo, minhas queridas. – dizia Mr. Blanchard após as três filhas e o genro acomodarem-se na carruagem – E não esqueçam de me escrever.

– Não esqueceremos, papai. – respondeu Briana um pouco mais alto do que costumava falar por já terem partido.

[...]

A viagem fora tão exaustiva quanto animada. Briana e Catherine empolgaram-se com as muitas histórias que o barão lhes contara durante todo o percurso, fazendo com que nem tivessem tempo de reclamar das muitas horas sentadas. Eleanor sentia-se indisposta para voltar aos seus compromissos sociais, mesmo que agora com as irmãs, tivesse com quem conversar.
E chegaram no cair da noite. Todos eles foram recepcionados amavelmente pelos criados, principalmente as irmãs Blanchard, que não conseguiram esconder a animação de estarem dentro de uma luxuosa propriedade em Londres com tantos empregados a seu dispor.

Catherine, que sempre fora tão comunicativa e apreciadora da escrita, lamentou não ter um diário para escrever suas experiências na capital, talvez lhe fosse útil futuramente no caso de ser velha demais para se lembrar com detalhes. Todavia, contentou-se em compartilhar seu ponto de vista sobre tudo com Briana, que fazia o mesmo com igual empolgação.
Não sabiam elas ao certo quanto tempo duraria sua estadia ali, e por isso buscavam aproveitar ao máximo aqueles ares. Eleanor – em nome das irmãs – cobrava todos os dias durante o jantar para que seu marido finalmente se dispusesse a fazer um baile para a alta sociedade, certo dia, porém, resolveu ele que atenderia ao pedido da esposa.

– Decida a data, querida. – disse Mr. Howard calmamente – Tem minha permissão para planejar o baile. Inclusive, disponibilizarei alguns criados para lhe ajudar nos preparativos.

– Ah! Estou tão feliz, meu querido Mr. Howard! Tão feliz!

– E não poupe despesas com nada. Não queremos que todas aquelas pessoas pensem que não podemos fazer um baile à altura.

– Como se não conhecesse a mulher com que se casou... Você verá que o baile que daremos será igualmente elegante, senão superior aos demais.

– Confiaria a minha vida à você. Creio já lhe ter dito isso.

Briana e Catherine que observavam a cena tão atentamente, agora suspiravam desejando um casamento com tamanho companheirismo.

Quase todos os instantes, o assunto em questão era o baile que viria, e não importava quantas vezes alguém tentasse se esquivar da conversa, logo se pegavam dando sugestões de decoração ou comentando sobre como seria maravilhoso que houvessem tantos parceiros de dança quanto o planejado.

– A música tocada influencia tanto quanto a aparência do parceiro, creio eu. – dizia Briana durante o chá da tarde com as irmãs – Está mais do que claro que uma música bem tocada pode encorajar os jovens a convidar moças sem pares para dançar. Não concordam?

– Não discordo. Muito embora eu tenha a impressão de que o problema está nos rapazes que são tímidos demais. – foi o que Catherine respondeu após lembrar-se do último baile que frequentou, onde um dos rapazes que teve certeza que lhe convidaria não o fez.

– Então vocês, minhas queridas irmãs, ficarão mais do que satisfeitas em saber que sexta-feira teremos um baile para ir. – interrompeu Eleanor – Ao menos contestarão que os jovens rapazes da alta sociedade não se deixam ser vencidos pela timidez.

– Um baile?! Bri, escutou o que ela disse? Eu amo tanto Londres!

– Eleanor está nos acostumando tão mal, que no final da temporada voltaremos à Whitby somente amarradas. – respondeu Briana com um sorriso contente.

– Os Jacobs, os anfitriões, já estão sabendo que terão duas convidadas a mais que o esperado. E expressaram seu contentamento com um: – disse Eleanor, agora esforçando-se para fazer a imitação de Mrs. Jacobs – "Sendo irmãs da senhora, Mrs. Howard, não espero que sejam menos do que graciosas mocinhas prendadas já que possui tanto requinte".

Briana engoliu seu chá enquanto observava Catherine quase engasgar com as palavras de Eleanor.

Se Eleanor possuía modos tão exemplares, muito certamente não era de berço. Qualquer possibilidade de que suas irmãs tivessem igual educação seria rapidamente descartada no instante em que elas se pisassem num baile tão glamoroso. Entretanto, esta não era nem de longe a preocupação de alguma delas, quanto menos de Mr. Howard, que pareceu nem perceber os modos da família a qual se unira.

A megera de WhitbyOnde histórias criam vida. Descubra agora