Apesar da dúvida penosa que sinto, na terça-feira, eu vou.Sou recebido com grandes sorrisos e abraços fervorosos no hospital e, diferente de estar no trabalho, onde eu não posso evitar de me perder em minha própria cabeça, perdi a noção do tempo com o novo livro de contos que achei perfeito para retornar. Luna disparou que sentiu saudades de mim e um coro de concordância preencheu a pequena sala de recreação com decoração lúdica e colorida, feita especialmente para refugiá-los.
- Eu também estava morrendo de saudades de vocês. Prometo que daqui em diante não deixarei de vim aqui nem que seja rapidinho, o que acham?
Eu não fazia ideia de que estar cercado daquela meia-dúzia de crianças, sentar no tapete felpudo amarelo e ler, um ato tão simples, modesto, pudesse fazer grande diferença na rotina deles.
Que o simples ato de levar histórias de cowboys e seres mágicos que moram num brejo, pudesse aliviar a tensão de estarem confinados num lugar tão amargo e triste, da desolação de ter que se manter longe da escola e dos amigos, de não poder brincarem sem qualquer preocupação, para enfrentar tratamentos penosos numa idade tão tenra, que deveria ser marcada por felicidade e tranquilidade.
Esse impacto ficou claro quando senti o coração encolher ao precisar me despedir deles e voltar para casa.
Eu não podia só pensar em mim. Não podia ficar preso em Joel. Eu, um homem adulto, preciso parar de usar desculpas para não encarar a realidade. Preciso tomar, de fato, a responsabilidade de levar um pingo de esperança e alívio para as crianças do hospital.
E preciso parar de ter medo.
[...]
- Pega seu casaco e vamos logo! - esbraveja Niall, recolhendo as tigelas com salgadinhos, deixando-as no balcão de sua cozinha.
- Já disse que não vou - sibilo enquanto enrolo uma mecha de cabelo da nuca com o indicador.
- É, já é a quinta vez que você diz que não quer ir. E das quatro primeiras eu nem perguntei nada.
O irlandês para na minha frente com a mão da cintura.
- Eu só perguntei o que você achava.
- Certo - ele suspira. - Não conheço Louis, mas acho que ele não foi tomar um milkshake com você só para te pedir algo. Ele poderia ter pedido no pub mesmo… Mas, vai saber, né. Mas também tenho certeza que ele não está afim de você. Você mesmo disse, um tempo atrás, que vocês eram amigos ou algo assim.
Abaixo os olhos, absorvendo as palavras de Niall. Uma parte de mim já refletira essas possibilidades nos últimos dias - não que eu só tivesse pensado nisso o tempo inteiro.
Sim, ele poderia ter pedido no pub. E, como seus amigos não tinham ido naquele domingo, Louis deve ter pensado bem, acho que não tem nenhum mal sair com ele agora.
- Vai ficar aí com essa cara de sapo até que horas? Pegue logo o seu casaco e vamos.
- Não quero ir - cruzo os braços.
- A quem você quer enganar, Styles? Não que ir, ótimo, beleza, mas se você falar mais uma única vez qualquer coisa sobre ele, juro que te expulso daqui.
- Está bem, está bem - eu levanto num salto - Você ganhou, vamos.
- Vai se foder.
[...]
Como não chegamos muito tarde, conseguimos achar uma mesa livre no meio do pub, não muito longe do palco nem do bar. As caixas de som ressoam um pop dos anos 2000. A decepção floresce em mim quando vagueio os olhos pelo palco vazio, provavelmente Louis saiu mais cedo.
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Dream a Little Dream of Me • L.S.
FanfictionAo despertar, meses após um acidente gravíssimo, Harry Styles acredita que ele e seu médico Louis Tomlinson são casados. Publicado: out/2021