doze

1.5K 253 82
                                    

O segundo passo foi dado: não volto ao hospital na semana seguinte.

Não consigo. 

Não consigo lidar com o fato de que qualquer outra criança ali possa morrer.

Se eu não for nunca mais, não vou saber. 

Se eu não for, ainda terei o doce consolo de poder acreditar que todas elas, Mariah, Benj, Blake, Joy, Luna, Kim, todas, terão o mesmo destino de Peter. 

Prefiro imaginá-las me dizendo “tio, tô curado” do que saber que elas tiveram um fim injusto.


[...]

Eu estava sentado no canto da cama, cobria o meu rosto com a mão enquanto chorava copiosamente. Louis estava ali, ajoelhado, com os braços ao meu redor, tentando me consolar. Eu repetia que não queria morrer. Ele beijava as mãos que eu usava para cobrir o rosto e me garantia que eu não iria. Louis me repetia que eu ainda tinha uma vida inteira pela frente…”


[...]


Eu não podia ficar deprimido. 

E não iria.

E não fiquei.

O que aconteceu com Joel, aconteceu. No fim, o que torna a perda suportável é saber que ele não está mais sofrendo. Se as crenças da minha avó estavam certas - não sei se dou tanto crédito a elas, mas não deixa de ser um conforto para a tragédia da situação -, agora o garotinha está feliz e em paz num lugar melhor.

Não voltei para o pub no domingo três.

Para não me deixar levar pela tristeza, para não acabar deprimido, por algum motivo decidi que começarei a fazer exercícios físicos. Além de deixar o corpo bonito, ajuda a produzir serotonina e proporciona mais sensação de calma e serenidade. E é disso que eu preciso para estar cem por cento bem de novo.

Na sexta-feira daquela mesma semana, vou ao supermercado e compro frutas e suplementos vitamínicos. Lydia é uma corredora nata, se existe alguém que leva corrida tão sério, este alguém é ela. Além de correr todas as manhãs, ela usa um relógio que monitora tanto seus passos quanto os batimentos do seu pulso, até porque todo o ano Lydia se inscreve na maratona de Londres que acontecerá breve. 

Combinei de acompanhá-la no sábado.

Quando terminamos, estou exausto, mas tenho a sensação de estar fazendo algo proveitoso com minha vida. Meu corpo pode até estar reclamando, mas eu estou exausto, ofegante e incrivelmente bem.

Vou para a casa de Niall, já que paramos por perto - ela não quis entrar… na verdade, ela ainda correria por mais meia hora... mas para mim já tinha sido de muito bom tamanho. Afinal, eu saí de um coma há meses atrás, porra, preciso ir devagar.

Niall e Declan estão tomando café da manhã quando entro e lhes conto os meus planos de correr todos os dias.

E de virar vegetariano.

- Eu não te dou um dia - desdenha Declan.

- Você não já tentou fazer isso antes, tipo, umas três vezes?

- Dessa vez vai ser diferente.

- Vai é? - duvida Horan.

- Vai. Nada como um coração partido para mudar a vida.

- Você deveria escrever cartas pra senhoras solteironas depois dessa - comenta Declan.

- Ei, Dec - me viro para ele e penso por um ou dois segundos antes de soltar a seguinte frase: - Sobre aquela parada de caras, você sabe, transar, não vai mais rolar, beleza? Não é você, sou eu.

Suas sobrancelhas se erguem ao passo que o olhar cai para a torrada no prato. Então ele assente e responde que “de boa” num fio de tom constrangido. Talvez pela presença de Niall. Mas quem se importa? Eu não. Afinal, Niall já sabe mesmo.

Declan estava certo que eu desistiria da corrida e do vegetarianismo, foram planos de calor de momento. Já no dia seguinte eu acordo tarde, sentindo todos os músculos das pernas reclamarem e prometendo a mim mesmo que jamais voltaria a correr em toda a minha vida. 

O vegetarianismo durou um pouco mais, quatro dias, até eu ser possuído por uma vontade louca e sabotadora de comer um hambúrguer de carne. 

Quanto aos suplementos vitamínicos, sempre esquecia de tomar. Além do mais, tinham um gosto terrível.

No fim, o importante é que eu não fiquei deprimido e não fui ao pub no domingo quatro.

Já no domingo cinco, depois de um sonho intenso...

Dream a Little Dream of Me • L.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora