cinco

3.1K 335 217
                                    


A última coisa que gosto é do clima que cai sobre a cidade nos meus primeiros dias fora do hospital. Mais uma vez eu desejei acordar algumas semanas mais tarde. A neve está derretendo e tem caído uma chuvinha incessante. As avenidas estão congestionadas e lentas e não se pode sair de casa sem, no mínimo, um casaco pesado, botas e duas meias no pé.

Lutando contra o clima frio e preguiçoso, um tumulto de pessoas enche a casa dos meus pais no dia um de fevereiro trazendo presentes e me desejando feliz aniversário.

É verdade que aproveitei mesmo meus últimos minutos de fama. Fiz minha primeira e única entrevista para um programa matutino de Birmingham dois dias depois do meu aniversário. Basicamente relatei meus últimos meses em coma - um completo vazio -, que eu esqueci o dia do acidente por inteiro e também desconfio que não lembrarei dos dois dias anteriores - talvez eu tenha perdido a memória de curtíssimo prazo, como supuseram no hospital -, que o jantar com o time de beisebol foi muito divertido e que eles foram acolhedores e gentis, assim como todas as pessoas que encontrei nesse meio tempo. Ah, não, não foi minha intenção uma grande comemoração de aniversário mas esqueci de avisar minha mãe sobre minha vontade.

- Nunca recebi tantas cestas de café da manhã. Flores. Cartas. Presentes. Sei que não é só pelo meu aniversário porque ainda hoje chegaram mais duas. E também,  em nenhum outro aniversário fui tão presenteado quanto esse! Tô amando!

Contei que eu vejo minha experiência como uma nova chance, uma nova oportunidade na vida. Estou revendo os erros do passado sob uma nova perspectiva. Estou refletindo sobre o que posso melhorar, como posso ser uma pessoa que tenha orgulho de si mesmo. 

- Você tem muito o que se orgulhar - afirmou Ashley - Estávamos todos torcendo por você.

Ressalto a gratidão que sinto por isso.

- Você se sente uma nova pessoa?

- Completamente. Há coisas do passado que eu jamais retornarei a fazer. Peço desculpas as pessoas que algum dia magoei, gostaria de voltar no tempo e não ter feito muitas coisas que fiz. Infelizmente, não posso. Ninguém pode. Mas podemos nós permitir nos tornar pessoas melhores, todos os dias temos essa chance. Não que seja necessário um acidente quase fatal para isso, mas no meu caso funcionou… Sim, meio que acredito que renasci. E vou fazer essa nova chance valer a pena, com toda certeza.

Fiquei orgulhoso por ter me saído bem. Os apresentadores, Ashley e Christopher, fizeram mais uma série de perguntas bobas antes de agradecerem a minha participação.

- Antes de ir, posso agradecer uma pessoa?

- Claro. Quantas quiser! - Christopher exclama com um sorriso de comercial de pasta de dentes.

- Se eu fosse agradecer a cada pessoa, ficaríamos o dia todo aqui. Já estou agradecendo elas pessoalmente e peço que não fiquem chateadas por não mencioná-las na TV. Mas, além dos meus pais, da minha irmã, amigos, familiares, duas pessoas foram muito importantes para mim, na minha recuperação. Uma foi Kelly Martin, a enfermeira que cuidou de mim, uma santa. Linda, paciente e cuidadosa como ninguém, já sinto falta dela me acordando para tomar remédio… Do outro vocês podem lembrar, Louis Tomlinson, meu médico… Nossa, se não fosse por ele, Deus sabe como eu estaria agora. Eles foram, são pessoas incríveis e nada do que eu diga será capaz de demonstrar minha eterna gratidão. Se vocês tiverem vendo, muito obrigado, Kelly e Louis! Vocês estarão no meu coração eternamente.

[...]

No início, a casa dos meus pais estava quase sempre cheia de pessoas que eu conheço, o que foi minguando com o passar do tempo. Assim como as flores, cartões, chocolates e cestas de frutas. Caixa de mensagens do celular lotada. Ligações. Eu mal tinha tempo para pensar, aproveitar um tempo sozinho lendo ou assistindo TV e agradeci quando finalmente tive um pouco mais de folga. 

Dream a Little Dream of Me • L.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora