seis

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Mais tarde, à luz da primeira semana doa primeiros raios do verão em Birmingham, Gemma, mamãe e eu vamos ao supermercado e enchemos alguns carrinhos com comidas e outros produtos que provavelmente não caberão nos armários de casa. Mamãe insiste que eu preciso de lençóis novos, cortinas, toalhas de mesa e coisas do tipo, então Gemma dirige até o shopping. Depois de tudo comprado, passamos quase duas horas na praça de alimentação para só então, finalmente, irmos para minha casa.


Gemma corta os legumes, eu faço o jantar e Anne arruma o meu quarto com todos os itens que compramos.

Depois do jantar, abrimos um vinho e decidimos que uma faxina não cairia nada mal. De fato não é necessário, mas era uma desculpa que minha mãe arranjou para ficar um pouco mais. Gosto disso, é bom ser mimado de vez em quando, só pra variar. Daqui a pouco até ela esquecerá do acidente e a minha vida retornará para mesma de antes.

Minha irmã precisa insistir para que mamãe e ela fosse embora, já que Gemma a deixará em casa antes de ir para a sua, do outro lado da cidade.

- Já chega, mãe. Não haja como se vocês morassem a um mundo de distância. Eu preciso acordar cedo, tenho aula amanhã. Aliás, você também tem que voltar ao trabalho. Já tá na hora.

Abraço-a e beijo-a muito, para que se sinta bem e segura. Faço isso para que eu mesmo não resista a pequena vontade de entrar no carro e ir com elas. Garanto a Anne que ficarei bem, que estou seguro, com certeza eu vou me alimentar bem e beber água sempre que lembrar. Que eu ligarei se sentir alguma coisa, qualquer coisa. Até mesmo uma dorzinha na mindinho do pé. Que eu mandarei mensagem sempre que puder.

É, algumas coisas nunca mudam. Foi exatamente como no dia em que me mudei para cá. O mesmo drama, os mesmos olhos relutantes. O mesmo abraço apertado, as mesmas palavras de ordens.

Mando um beijo quando o carro toma partida.

Finalmente privacidade.

[...]

Nas duas noites seguintes dormindo em minha cama, deliciosa e confortável, inquestionavelmente feita para mim porque nenhuma das camas que eu estive tem a mesma magia que ela, e talvez seja pela conexão transcendente que compartilhados que lembro dos sonhos de ambas as noites - claro que murmurando antes de abrir os olhos, só para garantir.

No primeiro, eu estava com um cigarro na mão, andando por um corredor curto mas amplo, tragando a nicotina. Havia um murmurinho de duas ou mais pessoas atrás de uma das portas. A conversa competia com sons estridentes. No primeiro momento pensei o barulho vinha de um teclado muito alto porém dois sons agudos, mecânicos e inconfundíveis me fizeram ter certeza que eram de uma máquina de escrever.

Uma das vozes se sobressaiu às outras propositalmente "Você pode desligar o rádio, querido?". Era um pedido para mim. Respondi que podia e segui até o final do corredor, descendo uma escada e indo para o primeiro andar. Não tinha notado nenhum som além dos que escutara em cima até chegar a sala. Lá, sei que uma música tocava, mas não lembro de como ela soava.

Tragando o cigarro, fui até o que provavelmente era o rádio - diferente de todos o que já vi na vida. Girei o botão no sentido anti-horário até que o silêncio reinasse.

A decoração da casa conseguia ser tão peculiar quanto o rádio. Não peculiar no sentido excêntrico nem extravagante. Não sei, o rádio e o monstro retangular do que imagino ser uma TV antiga. É tudo incrivelmente vintage. O tapete vermelho felpudo, as cortinas amarelas caindo sobre o estofado verde. Tudo num estilo art-pop, retrô ou sei lá o que.

Fui até a cortina, descobrindo uma janela bay de madeira, daquelas que se estendem à três partes. Não consegui ver a rua. Uma névoa cinzenta e macabra encobria a visão do lado de fora. Quando eu estava subindo as escadas rumando o segundo andar, acordei.

Dream a Little Dream of Me • L.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora