Capitulo 2

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"Caindo através da escuridão.Ela não grita nem pede por ajuda, perdeu a cabeça há muito tempo.Ela prefere cair."

– Jaden Hossler.

Nessa Barrett

Nunca levei minha madrasta a sério quando ela disse que um dia eu seria mandada embora por meu comportamento imprudente depois que ela encontrou um menino em meu armário, e nunca me importei realmente. Isso apenas alimentou minhas ações.

Então, um dia, roubei as chaves de seu precioso BMW Série 3 e dirigi direto para a porta da garagem.

Diane estava cansada da minha atitude e culpava o abandono crescente de meu pai em acreditar que eu poderia ser curada. Meu pai, o homem simples e passivo-agressivo que era, aceitou cada palavra áspera que saiu de seus lábios perfeitamente maquiados enquanto se sentava à mesa da sala de jantar, olhando fixamente para o vazio.

Eu nem sequer gostava do menino também. Tudo que eu queria era sentir algo. Qualquer coisa.

Perto dos dezenove anos, a gota d'água para minha madrasta e em um momento de nervosismo de meu pai, os dois concordaram em recorrer à lei após meu incidente com a BMW. Já que foi meu último aviso, eu teria sido jogada em uma instituição mental, mas meu pai implorou ao juiz que me mandasse para Woodsboro, o reformatório universitário mais distante para pessoas como eu.

Não me interpretem mal, sei que não sou normal, mas nunca pensei que houvesse outra pessoa como eu, especialmente uma faculdade dedicada ao meu... Tipo, se é que existe tal coisa.

Em que ponto eu havia chegado? Achei que sempre tivesse sido assim. Permitir que os meninos me usassem nunca tinha sido para seu proveito.

Tinha sido para o meu.

Eu queria sentir suas mãos em mim, suas bocas na minha e a ansiedade e luxúria como se isso fosse passar para mim. Isso nunca aconteceu, mas talvez, apenas talvez, acendesse um fogo dentro de mim tempo o suficiente para queimar. Dor, luxúria, raiva, paixão, eu aceitaria qualquer coisa neste momento. Meu coração está duro. O rigor mortis já havia se estabelecido em minha alma, se eu ainda tenho uma alma. Eu não tenho mais certeza.

Minha mala está meio vazia na beira da minha cama enquanto estou de pé sobre ela. Mesmo com uma breve lista de itens aceitáveis, não tenho nada que desejo levar. Sem fotos, sem apego a um travesseiro ou cobertor. Nenhum interesse em nada além de meus fones de ouvido que tenho certeza que confiscarão quando eu chegar. Abro minha mesinha de cabeceira para pegar uma caixa de preservativos, porque não estava na lista de "itens inaceitáveis", e enfio em um bolso secreto no fundo da mala.

Satisfeita, pego o topo da mala, fecho-a e passo o zíper sem pensar duas vezes. Eu não estou com raiva de Diane.

Se eu estivesse, isso significaria que tenho sentimentos. Honestamente, não a culpo. Se eu tivesse uma enteada como eu, também chamaria a polícia.

— Nessa,você está pronta? — Meu pai grita do final da escada.

Eu não respondo.

— Janessa Barrett Jett!

— Dois minutos! — Coloco a mala levemente embalada ao lado da porta do meu quarto e dou uma última olhada nas paredes nuas de uma velha prisão antes de entrar em uma nova. Minhas paredes estavam sempre vazias, assim como minha cama, minha cômoda e minha mesa. Sem personalidade. Depois de sair pela porta, será como se eu nunca tivesse morado aqui. Este espaço poderia rapidamente se tornar um quarto de hóspedes, e aposto que Diane já tinha uma pasta no Pinterest dedicado a ele.

— Ah, não. Você não pode usar isso. — Diane franze o rosto na parte inferior da escada. Seu cabelo loiro-claro curto não se move enquanto ela balança a cabeça ligeiramente de um lado para o outro. Ela sempre usa muito spray de cabelo. Pensando bem, acho que nunca a tinha visto sem o cabelo assoprado, alisado e borrifado no lugar. Mesmo quando ela fazia seus vídeos de treino de quinze minutos depois do jantar em seu quarto com a porta aberta, eu nunca tinha visto seu cabelo se mexer.

— O que há de errado com o que estou vestindo? — Meu queixo cai quando endireito minha camiseta preta enorme que diz "fofa, mas psicopata" sobre meu short jeans destruído, revelando minhas pernas. Alguém poderia pensar que estou nua por baixo, pois a camiseta é grande, mas eu não estou. Eu estou coberta. Prometo pai.

— Não tem nada de errado. Vamos embora. Já estamos atrasados para o aeroporto. — Disse meu pai, acenando para mim. Ele sempre evitou o confronto a todo custo, e às vezes eu me pergunto de quem ele tem mais medo, Diane ou eu? Nesse ângulo, finalmente noto a careca da qual ele estava reclamando no topo de sua cabeça. Nunca acreditei nele antes, mas agora não me importo o suficiente para apontar que ele estava certo. Ele tinha sido um homem bonito, mas mesmo com Diane por perto, a solidão havia sugado a vida dele. As bolsas ondulam sob seus olhos castanhos e suas bochechas estão encovadas.

O casamento fará isso com você.

Hurts so good• Nessa Barrett • Jaden Hossler 🏴‍☠️Onde histórias criam vida. Descubra agora