•'- Doces Mentiras & Café -'•

+=•Lyn•=+

      -Lyn? Lyn, acorde!

      Acordo com os gritos desesperados da minha chefe.

      -Por que está dormindo no jardim?

      -Ah, Emy!- Eu me levanto cambaleante de sono e esfrego os olhos- Foi mal. Eu quase não dormi esta noite, acordei uma hora antes achando que estava atrasada. Quando cheguei aqui, ainda eram 5:30- Eu a observo abrir a porta de entrada da cafeteria Sweet Lives & Cafe.

      -Com a cara nos livros até tarde de novo, não é?- Ela disse enquanto destrancava o último cadeado.

      -Eu preciso estudar se quiser ter ao menos uma chance de passar desse ano, não achei que estudar artes fosse tão cansativo...- Me aproximo da bancada e visto meu avental com manchas duvidosas de café.

      -Você está fazendo o melhor que pode, Lyn- Emy disse enquanto abria as outras portas do estabelecimento- Sua mãe ficaria orgulhosa.

      Mamãe já estava doente fazia quase 4 anos, ela sequer conseguia falar, quem dirá levantar-se. Quando Emilly me ofereceu o emprego de barista em sua cafeteria eu aceitei. Embora estivesse apreensiva, precisava de dinheiro para pagar a faculdade e o tratamento de minha mãe. Com o agravamento da doença, os orçamentos começaram a ficar apertados, tive que dobrar meus turnos. Mas Emy tem sido muito bondosa comigo, e um pouco exigente.

      -É, mas orgulho não paga uma faculdade... nem remédios, então ao trabalho!- Exclamo enquanto mudo a placa pendurada na porta de fechado para aberto.

      -Você é uma excelente garota, Lyn! Vai conseguir- Emy sorriu enquanto desaparecia cozinha a dentro.

      Faltavam menos de 15 minutos para a cafeteria começar lotar, com o início da semana, ninguém começa o dia sem uma xícara de café. É por isso que a segunda é o dia mais produtivo por aqui. Enquanto esperava os clientes, me apoiei na bancada e comecei a rabiscar nas últimas folhas do meu caderno. Alguns corações, xícaras e grãos de café depois, eu ouço o sino na porta anunciar a chegada de alguém.

      -Bom dia! Bem-vindo ao Sweet Lives & Cafe, como posso ajudar?- Digo ao garoto que entra e vem em minha direção.

      -Ah... olá- Ele balbucia de imediato- Hum... um expresso para viagem, po...por favor.

      -Claro! Em um minuto!- Eu me viro e começo a preparar o pedido.

      -É uma bela cafeteria...- Diz ele sentando-se num banco alto em frente ao balcão e olhando ao redor.

      -Ah! Você tem razão! Eu adoro trabalhar aqui- Decido puxar assunto- Você é novo na cidade?

      -Não. Eu moro aqui há alguns anos- Ele olha fixamente através da porta de vidro.

      -Nunca tinha vindo aqui?

      -Eu já tinha visto algumas vezes, mas nunca entrei- Responde o rapaz sempre olhando para fora, como se esperasse por alguém.

      -Entendo, de qualquer forma, seja bem-vindo!- Eu abro o largo sorriso de costume e entrego o pedido em suas mãos.

      -Valeu gracinha!- Ele pisca, deixa uma nota de dez dólares no balcão à minha frente e sai por onde entrou.

      O garoto parecia ter mais ou menos a minha idade. Era alto e magro. Cabelos negros brilhantes, uma pele tão branca quanto leite e pintada de lindas sardinhas. Um penteado bagunçado para o lado, mas ainda assim estiloso e... e...

      -Alooou! Com licença! Moça, ta me ouvindo?

      Que ótimo! Eu viajei...

      -Ah, sim! Sinto muito, no que posso ajudar?

      Passei o resto do dia fazendo mais e mais expressos e lattes, porém não conseguia tirar da cabeça aquele garoto. Por que estava tão apressado? E por que olhava tanto pra fora? Parecia apreensivo...

°•••◇•••°

      -Você parecia distante hoje, recebi três reclamações sobre o seu atendimento. São três a mais do que eu normalmente recebo- Emy pegou um pano úmido no balcão e me ajudou a limpar as mesas- Você é tão focada, por que hoje foi diferente?

      -Ah, eu... eu só estou preocupada com a provas- Minto.

      -Relaxa, Lyn- Ela pega uma xícara suja de uma das mesas e olha para mim- Você é uma das pessoas mais inteligentes que eu conheço, vai dar tudo certo. Você só precisa relaxar.

      -É... É! Você tem razão Emy, eu só tenho que respirar e relaxar... Valeu- Eu sorrio.

      -Tô aqui pra o que precisar!

      Eu e ela terminamos de limpar tudo, eu pego minha mochila e saio pra que ela possa fechar a cafeteria.

      -Até amanhã Emy!- Me despeço- Vamos lá, tenho mais livros pra devorar- Eu penso e tomo rumo pra casa, até que avisto um garoto caído no chão e parecia machucado.

      Me aproximo dele:

      -Você está bem?

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