-Você está bem?
Ainda com dificuldade eu levanto minha cabeça e olho para a direção de onde a voz vinha. Uma garota... Ruiva!
-Você é a gracinha da cafe...cafeteria- Digo rindo.
-É sou eu! Você... Você é aquele garoto que entrou logo cedo e pediu um expresso pra viagem não é?- Ela diz me ajudando a sentar.
-Eu mesmo- Respondo limpando o sangue que escorria de meus lábios com as costas da mão.
-Espera...
Ela abre a pequena mochila com estampa em jeans e pega um lenço bordado. Suavemente a garota o passa sobre meu queixo e limpa o sangue de meu rosto.
-Ah, valeu.
-O que aconteceu?- Ela me olhava com um doce olhar preocupado.
Era ruiva! Um cabelo vermelho como sangue. Uma linda pele morena e olhos verdes cativantes. Ela estava ajoelhada ao meu lado e olhava fixamente para o meu rosto aguardando uma resposta.
Eu não iria dizer a ela que estava devendo a um gangster e que seus capangas haviam vindo me cobrar. O que ela faria? Como reagiria? Eu nem a conheço, ela é só a garota que trabalha na cafeteria, ela não tem nada a ver com a minha vida.
-Ah! Não se preocupe com isso, eu tô bem...- Tento levantar, a garota segura meu braço e me ajuda.
Já de pé, eu atravesso o braço ao redor da minha barriga que ainda doía em consequência dos chutes que eu havia levado.
-Tem certeza que está bem? Não quer ir a um hospital?
Que fofa...
-Não, valeu. Eu estou bem, é sério- É melhor eu ir, não quero perder mais um ônibus- Eu coloco as mãos nos bolsos me viro e ando, ainda que mancando, em direção ao ponto que estava a alguns metros de nós.
-Ei espera!
Sinto uma mão segurar o meu braço. Era a garota ruiva, de novo.
-O que foi?- Digo num tom ríspido.
-Ah! Bem...- Ela coloca a mão na nuca, constrangida- Eu posso te dar uma carona.
O quê?! Essa garota tem algum problema?! Quem, em sã consciência, dá carona pra um estranho na rua?! E se eu fosse um bandido? Ou um assassino? Ou pior... um lobisomem?!
-Lobisomem?- A garota olha pra mim arqueando a sobrancelha.
Acho que pensei alto demais...
-Eu não acho que você possa ser um bandido, ou um assassino... nem um lobisomem!- Ela ria da minha cara enquanto falava.
-Ha Ha Ha! Engraçado...- Ironizo- De qualquer forma, você não pode dar carona pra um estranho.
-Ah! Qual o seu nome?- Ela diz repentinamente, mudando de assunto.
-An... É Jack...- Respondo, estranhando a mudança brusca.
-Sou Lyn! Muito prazer- Ela pega minha mão e chacoalha umas cinquenta vezes.
-Ta legal! Ta! Pra que isso?- Exclamo puxando meu braço das mãos dela.
-Agora não somos mais estranhos! Vem, eu vou te levar pra casa- Ela puxa o meu braço.
Eu não acredito que ela fez isso! Ela parece uma criança! Sorte dela que eu não sou perigoso, mas... e se não fosse eu? E se fosse outra pessoa realmente perigosa? Ela é tão inocente!
A garota me arrasta até um velho carro azul com a pintura descascada. Parecia antigo, mas conservado. Acho que ela percebeu que eu o observava, pois meus pensamentos foram interrompidos pela voz dela, dizendo:
-Era do meu pai.
-Ahn, o quê?- Digo, meio que acordando do transe.
-O carro. Era do meu pai. Ele amava esse carro, passava tardes inteiras na oficina. Era como um outro filho pra ele- Ela sorria, tentando esconder a sua vontade de chorar.
-Aí! Sem chororô! Vamos logo!- Já que ela não me deixaria voltar pra casa de outro jeito...
-Ah, claro! Vamos- Ela pega a chave e abre o carro.
O caminho todo a garota não calava a boca... parecia que nunca teve um amigo na vida!
-Eu vi você hoje lá na cafeteria e você parecia ter a minha idade. Quantos anos você tem?
-Hum... dezenove- Digo olhando pela janela.
-Eu sabia! Você estuda? Faz faculdade?
-Não...
-Como estava o café? Gostou? Gostaria que eu colocasse alguma coisa diferente na próxima vez?
-Se você não calar a boca não vai ter próxima vez!!- Explodo, estava cansado e com dor... e essa garota estava me tirando do sério.
Ela para de falar e volta a olhar a rua. Pude ouvir ela engolir em seco umas duas ou três vezes. Ela suspirava.
-Sinto muito...- Ela diz e quase que as palavras não saem de sua boca.
Ah, que ótimo! Por que estou me sentindo culpado? Eu conheci essa garota hoje, não é como se eu fosse virar melhor amigo dela ou algo do tipo. Mas ela me ajudou não é... eu fui tão grosseiro com ela... mas quem se importa? Eu não vou pedir desculpas!
-Não... desculpe, eu... eu não queria ter falado assim, só estou um pouco irritado... e cansado- As palavras escapam da minha boca. Por que eu disse isso? Eu não sinto muito! Ah que droga!
-Ah, ha ha!- ela ri nervosa- Tudo bem, eu falo demais as vezes... é por aqui?- Ela aponta a placa de um bairro, o meu bairro.
-É... é sim, pode parar aqui, eu ando até em casa.
-De jeito nenhum!- Ela exclama mudando sua expressão, eu acho que ela queria fazer cara de brava, mas era fofa demais pra isso, ha ha!- Você está machucado! Não pode andar tanto.
-Acredite gracinha...- Digo já abrindo a porta do carro- Não vai querer entrar nesse bairro, a menos que queira perder o tão importante carro do papai.
Ela me segue com o olhar enquanto saio do carro. Eu balanço a cabeça e finjo um sorriso em sinal de agradecimento, coloco as mãos nos bolsos e desapareço rua abaixo.
-A garota é boa. Ingênua, mas com um grande coração- murmuro comigo mesmo- Ela fala bastante, mas a voz dela...- Tento me lembrar- Suave e fof...
ESPERA! Por que eu estou pensando naquela garota?! Eu devia estar pensando em como vou arranjar 19 mil dólares em seis meses! Ah cara, eu tinha esquecido disso, onde eu vou conseguir esse dinheiro em tão pouco tempo?!
Meus pensamentos são interrompidos por uma buzina que soou ao meu lado. Eu me viro e...
-O quê?!!- A ruiva me seguiu?!- O que você ta fazendo aqui, sua maluca?!
-Você acha mesmo que eu ia deixar você andar machucado desse jeito? Se o bairro é tão perigoso, você não pode ficar sozinho nele, principalmente a essa hora- Ela olha no relógio do carro, eram quase sete da noite.
-Você não pode ficar aqui, garota!- Coloco as mãos no vidro que estava aberto e abaixo minha cabeça para vê-la dentro do carro- É perigoso você pode...
Um som alto interrompe minha fala.
Um tiro....
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•'- Doces Mentiras & Café -'•
RomantizmNum romance estrelado em uma cafeteria, a trama conta a história de dois jovens com vidas totalmente distintas, mas que se encontrariam num mesmo ponto a partir de diversas escolhas. Nessa narrativa, narrada por Jack e Lyn, haverão traições, amizade...