45 Capítulo

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Donatella Rossi












Se dormimos 3 horas foi muito, no relógio marcava 8h da manhã e eu e o Eros já estávamos de pé. Ele havia ido alimentar nosso filhote e preparava o nosso café da manhã na cozinha e eu limpava nosso quarto que estava uma verdadeira bagunça.

Comecei trocando as cobertas da cama que estavam sujas de sorvete e de porra e levei para o cesto de roupa suja. Após isso, fui varrer o chão e colher os cacos de vidro com uma pá, deixando a vassoura e a pá do lado para pegar o rodo com um pano úmido e passar em todo o chão apreguento, sorrindo e inalando o bom perfume de lavanda.

É. Eu dou uma ótima dona de casa.

Finalizando, pego a vassoura e a pá com os vidros e saio do quarto, rumando para o jardim, descansando a vassoura no seu devido lugar e jogando os vidros numa lixeira...

— Vejamos só. Está escrito vidro. _Estou realmente impressionada. A casa não negava ser do Eros. Ele era todo ajeitadinho com essas coisas que vinha a prejudicar o meio ambiente. Olha aqui a reciclagem.

Lavo minhas mãos na pia bem perto, as seco e torno a entrar na casa, fechando a porta dos fundos e seguindo para a cozinha, parando no batente da porta e cruzando os braços, tirando uma sandália e pousando um pé sobre o outro, observando suas costas fechadas com aquela tatuagem sombria, de um encapuzado amassando na mão um coração que era ligado ao seu pelo sangue.

Assombrosa.

Continuo com a inspeção detalhada pelo meu marido e do moletom verde militar que ele usa tenho certeza que a bunda dele é maior que a minha.

Ele tinha um corpo certamente invejável e o safado também treina. Ele acordou primeiro e treinava na academia do lado do Jardim, aqui mesmo na nossa casa. Eu vi ele pegando peso quando abri as janelas.

Nem preciso dizer o tesão que me deu, né?

Com uma jarra térmica na mão, ele virou-se e paralisou por me pegar no pulo flagrando-o.

Timidamente, prendo uns fios de cabelos atrás da orelha e encosto a cabeça no batente, o encarando e sorrindo, muito boba e apaixonada por esse homem tão encantador, charmoso, sensual e de beleza inigualável, não só fisicamente. O Eros era meu pacotinho completo. Bendita sorte eu tive.

Será que ele também pensa essas coisas ao meu respeito?

Me olho e por um instante perco o sorriso.

Mas eu sou tão... Eu. Donatella.

Eu não tenho um corpão carnudo, não tenho quadril largo e nem cintura bem fina. Minhas pernas não são grossas e minha bunda não é grande coisa. O que tenho e deixa a falta de atributos que citei em equilíbrio e também nem é tudo isso, é meus cabelos lisos, num loiro escuro e que me incomoda por ser assim, incapaz de segurar um penteado ou cachos, meu rosto que dizem que é perfeito só pela cor dos olhos, e meus seios que são até grandinhos para o meu corpo magro.

Lembro que quando fiz 16 anos e fui na praia com uma filha de um amigo do meu pai, estávamos nós duas no quiosque bebendo uma água de coco, ela havia ido ao banheiro e o seu primo, que ficou comigo na mesa, me disse a seguinte frase: "Você é tão bonita de rosto, se tivesse o corpo como o da sua amiga. Eu casava com você."

Nem preciso dizer que tirei sangue do seu nariz e fui expulsa do quiosque.

Era sempre assim, sempre: "Nossa! Ela é tão linda... de rosto."

Era uma merda. Porque no fundo a gente sente e machuca. Na verdade, machucava. Depois eu comecei a usar minhas roupas jogadas e vez ou outra agradava minha mãe quando iamos para os eventos. Eu tinha que usar vestidos de grife, pesados e justos e no pé um salto alto. Muitos começaram a reparar em mim, mas no fim das contas eu sei que era somente pelo meu nome.

LUZ SOMBRIA (2)Onde histórias criam vida. Descubra agora