17 - ESPÍRITO DO RELÂMPAGO

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— (s/n)...

— (s/n)...

— (s/n), minha querida. — A voz familiar soava distante à medida que minha consciência se acostumava ao seu timbre melodioso. — Está pronta para ouvir o que tenho para lhe contar?

— Mãe...? — Seu rosto gentil sorria, enquanto o dragão branco-dourado se aproximava e se deitava ao meu redor, de maneira protetora. — O que está fazendo aqui?

Seus olhos arregalaram, enquanto a gargalhada reverberava pela caverna banhada pela luz do luar.

— De vez em quando preciso cuidar da minha filha, não concorda? — Ela encostou o focinho na minha bochecha e suspirou. Sua animação se esvaindo a cada minuto. — (s/n)... Você precisa se preparar.

Franzi o cenho frente ao aviso e levantei o pescoço em sua direção, e a tristeza que vi em seus olhos me surpreendeu. Ela observava as árvores à entrada da minha caverna com a mente perdida em pensamentos.

— Não entendo. — Ela me encarou e seu semblante escureceu ainda mais.

— Senão, o mundo enfrentará perdas desnecessárias. — Ela continuou, me ignorando. — Amanhã será o seu aniversário. E você poderá entrar para nosso exército oficialmente.

— Mãe! — Tentei chamar sua atenção, mas a visão de seu rosto estava se perdendo em meio à névoa que invadia minha mente.

— Preste atenção! — Ela rugiu. — Não me resta muito tempo. (s/n)... Seu destino está entrelaçado ao de pessoas que ainda não existem. E é imperativo que você seja capaz de protegê-los. 

Acordei assustada, tentando recordar o sonho conturbado.

Mas os detalhes se dissiparam mais rapidamente do que minha mente conseguia assimilá-los.

Afastei o lençol e fui até a janela.

A manhã estava nublada e serena ao passo que um belíssimo dragão dourado surgia do lago. Esferas elétricas se desprendiam de seu corpo e pairavam no ar até se dissolverem, e a criatura mergulhasse novamente nas águas.

Recuei dois passos, fechando as cortinas.

Eu ainda deveria estar dormindo, melhor voltar para a cama. Deitei-me, puxando o lençol até a cabeça, mas um urro familiar preencheu meus ouvidos e eu saltei, tropeçando no tecido que envolvia meu corpo.

Corri o mais rapidamente que meus pés conseguiram me carregar. Irrompi para o ar gelado e úmido da alvorada. Atravessei a extensão da Floria Bridge sobre o Lake Floria não o encontrando em lugar algum.

Um estrondo fez a ponte balançar aos meus pés. Me segurei em seu parapeito de cordas e observei uma enorme criatura surgir das águas. Mesmo tão de perto, não pude acreditar no que via. Aquelas escamas brancas douradas me lembravam as de minha mãe. E só havia um outro dragão que as possuía.

— Farosh! — Gritei a plenos pulmões. Mas minha voz não conseguiu perfurar o barulho causado por sua ascensão. Libertei minhas asas e tentei me aproximar, as esferas elétricas não facilitavam meu trabalho. E a chuva que ele invocava, irrompia dos céus, retardando ainda mais o meu avanço. — Que inferno, Farosh!

Parei no ar, contemplando minhas opções. Era óbvio que minha forma híbrida atual não seria páreo para alcançar o Espírito do Relâmpago.

Bufei ao fechar os olhos e, depois de um século, tomei a forma completa de um dragão.

Minhas escamas azuis brilhavam com a chuva que escorria por elas. As asas, agora colossais, cortavam os ventos com eficiência e destreza. Meus olhos acinzentados percebiam, e o meu corpo desviava, dos globos dourados habilmente. Inspirei o ar, sentindo o frio preencher meus pulmões e, com satisfação soltei uma lufada de gelo que passou raspando pelo focinho do meu antigo treinador.

Ele interrompeu sua trajetória para focar no que havia lhe atacado. Sempre achei fascinante como ele conseguia se manter no ar sem possuir asas. Seu corpo se contorceu como o de uma serpente quando ele voou ao meu encontro.

— (s/n)...? — Sua voz era incerta, à medida que ele se aproximava. Mas quando seus olhos encontraram os meus, ele disparou pela chuva e me envolveu com seu corpo reptiliano, quase nos fazendo despencar.

— Vai com calma! — Gritei em meio aos sorrisos.

— É você mesmo! Criança... — O barulho do trovão o forçou a fazer uma pausa. — Você está viva! — Ele encostou a testa na minha, da mesma forma que meu pai fazia quando eu era criança.

— Sim... — As lágrimas se misturaram à chuva, borrando minha visão. — O que está fazendo aqui, Farosh? Pensei que não gostasse deste reino.

— Eu ainda detesto esse lugar. —Respondeu com desgosto. — Mas o rei e o Capitão da Guarda criaram uma força tarefa para te procurar.

— Por todos esses anos?

— Se fosse o suficiente para te ver mais uma vez, valeria a pena.

— Obrigada. — Pousei minha cabeça em sua pele, sentindo a energia atravessar meu corpo. — Você pode fazer a chuva parar por um momento?

— Claro. — Ele se desenroscou de mim, e serpenteou pelos céus.

As nuvens dançaram à sua volta, como se em um redemoinho. Em minutos, o sol despontou de trás das montanhas, anunciando o começo de mais um dia brilhante.

— Preciso voltar.

— Ótimo! O que estamos esperando? — Ele seguiu em frente, mas parou quando eu não o segui.

— Não para o Reino dos Dragões. — Senti o discurso se formando em sua mente, e o interrompi. — Preciso voltar para Faron Woods e avisar meus amigos.

— E quando estará pronta para partir?

— Em algumas horas. — Olhei em volta tentando ganhar tempo. — Me encontre no antigo portal. Estarei lá em breve.

— Esperarei.

Ele partiu antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa.

Fechei os olhos quando o sol me cegou.

Esse seria meu último dia aqui. Nunca pensei que sentiria falta desse lugar.

Mergulhei no ar, retornando para o estábulo. Aproveitando cada segundo na minha forma original, até materializar meu corpo hylian e pousar delicadamente na montanha em que tínhamos encontrado o templo no dia anterior.

— (s/n)! — Duas vozes se atropelaram ao me chamar.

Quando encontrei os pares de olhos azuis do Link e dourados do Sidon eu percebi que não era exatamente desse reino que eu sentiria falta.

Era deles.

INDIGNA - Fanfic: Sidon x Leitor (PT-BR)Onde histórias criam vida. Descubra agora