O preço do seu silêncio

Elite Ballet School

  Entrar em uma das melhores escolas de balé do mundo não foi fácil. Assim que aprendi a andar já me apresentaram a barra, minha mãe era obcecada pelo balé e decidiu que eu também devia ser. Afinal, se você não pode seguir seus sonhos, obrigue seus filhos a seguir. Meus pés são tão machucados que eu já nem sinto mais dor, tenho tantas cicatrizes nele que nem consigo contar. Me peso todos os dias, não posso engordar nem uma grama sem ouvir um discurso de como engordar prejudicaria minha carreira. Apesar de todos os problemas, eu amo dançar, é o que eu sei fazer, é o que me destinaram a fazer. Enquanto danço esqueço meu nome, meu endereço, tudo, é como se estivesse voando para um lugar em que só houvesse paz e sossego.
  Nasci e cresci em Londres, amava cada cantinho daquela cidade, mas assim como todas as outras coisas da minha vida precisei mudar por causa do balé. Não venho de uma família rica, minha mãe é professora em uma escola pública e meu pai é corretor de imóveis, então o dinheiro nunca daria para pagar as despesas do balé. Sempre precisei treinar mais que todas as meninas da classe para fazer merecer a bolsa que ganhei na companhia da cidade, isso fez com que eu adquirisse muita técnica o que foi essencial para conquistar minha vaga Elite Ballet School (EBS).
  Quando fiz minha inscrição para a EBS não imaginava que iria passar, afinal é a melhor companhia de dança da Europa e uma das melhores do mundo, mas eu passei, consegui uma bolsa e um patrocinador, isso significa que alguém muito rico viu talento na minha audição e resolveu me bancar. O patrocinador é anônimo, então eu não posso sequer agradecer a oportunidade, mas por um lado isso é bom, minha mãe não iria dar sossego ao pobre coitado.
  Há um mês me mudei para Paris, mamãe e papai me deixaram no aeroporto de Londres, já havia viajado sozinha antes, mas nunca me senti tão aterrorizada quanto no dia, era como se existisse mil borboletas no meu estômago. No avião repassei algumas coisas básicas do francês para não passar vergonha, não que isso tenha ajudado, porque assim que saí já passei vergonha para chamar um táxi para o alojamento, mas o motorista foi super compreensível e tentou se comunicar comigo em inglês. Graças ao bom Deus na EBS o idioma usado é inglês, e apesar de usarem o francês com bastante frequência nos ensaios eu consigo me comunicar com a todo mundo. 
  O alojamento é uma casa enorme e antiga com vários quartos, uma sala principal com televisão e videogame (como se alguém realmente tivesse tempo para isso) e banheiros coletivos em cada corredor de quarto. Assim que cheguei uma inspetora já me informou das regras, que são muitas, mas as principais e puníveis com expulsão são: nada de drogas, álcool e sexo. Depois de uma semana eu percebi que essas regras não amedrontavam os alunos, porque era exatamente o que acontecia, principalmente a última, minha colega de quarto que o diga. O nome dela é Rose, ela é até legalzinha, mas quase não fala comigo, só nos encontramos à noite porque ela é de uma classe de nível mais alto, então nossas únicas conversas são para dar boa noite.
  A companhia fica a poucos metros do alojamento, o prédio é enorme e extremamente luxuoso, de um lado fica o prédio escolar, para os bailarinos que ainda não se formaram e do outro ficam os estúdios de ensaio, como já tenho 19 anos e já me formei só uso o lado dos estúdios. Os primeiros dias foram um terror, minha professora, Sra Maya,  é a figura personificada do capeta, na minha primeira aula ela já me chamou de esmolambada na frente de todo mundo por causa da minha sapatilha que estava gasta, precisei gastar minhas economias para comprar uma nova para voltar no outro dia. Não fiz nenhuma amizade nas primeiras semanas, ninguém sequer olhava na minha cara, quando finalmente eu tomei coragem para falar com um bailarino que ficava do meu lado na barra, e começamos a conversar todos os dias, o nome dele é Ethan e agora é meu melhor e único amigo na EBS.