Capítulo 7

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— Isso não devia ter acontecido, PUTA QUE PARIU, o que eu estou fazendo? -Disse Antonie me colocando no chão.
Ele colocou as mãos na cabeça cobrindo os olhos e começou a andar de um lado para o outro.
— Marie, isso nunca mais vai acontecer, ninguém pode saber disso. - Falou olhando nos meus olhos.
— Eu sei Antonie, não sei o que aconteceu aqui e como aconteceu, mas não vou contar para ninguém, não se preocupe. - Respondi com um pouco de raiva.
Peguei a minha bolsa e já ia sair quando ele segurou meu braço e disse:
— Não me odeie por isso, eu só não posso... não posso.
Soltei meu braço e saí. O fato do Antonie não ter dito nada além de como ele estava arrependido me chateou um pouco, porque aquele tinha sido literalmente o melhor beijo da minha vida, no entanto eu entendia a reação dele, se alguém soubesse disso estariamos arruinados.
Decidi ir para o alojamento para fazer a ligação semanal com meus pais e descansar um pouco.

— Sim mamãe está tudo bem, estou dançando com o melhor bailarino da turma. - Disse já impaciente com as mil perguntas que ela fazia.
— Querida, eu só estou preocupada com você.
— Não mãe, você está preocupada com a dança, não é sobre mim.
— E a dança não está relacionada com você?
— Ei querida, como está seu francês? - Perguntou papai interrompendo o assunto anterior.
— Melhorando papai, ando treinando bastante.
Conversamos mais um pouco e desliguei falando que iria almoçar. Resolvi sair para comer em algum lugar, como não conhecia muitos lugares ainda decidi chamar o Ethan para ir, mas ele não atendeu. Então, tomei coragem e liguei para o Gabriel, ele falou que ia me esperar na porta do alojamento para irmos a um restaurante.
— Salut Mar. - Disse ele me abraçando.
— Salut. -Respondi meio seca.
Começamos a andar e ele olhou para mim meio na dúvida sobre o que estava acontecendo.
— Qual o problema? Está tudo bem com você? - Ele questionou com uma sobrancelha erguida.
— Comigo sim, você tem alguma coisa que queira me contar? -Falei dando a chance dele mesmo me dizer a verdade.
— Não que eu saiba. -Respondeu com uma cara de dúvida.
Não aguentei e falei tudo que tinha ficado sabendo e perguntei por que ele tinha mentido para mim.
— Marie, você era a única pessoa naquela merda de companhia que não sabia do meu passado podre, que olhou para mim pelo o que eu sou agora. Eu não aguento mais ser visto como o bosta que largou a namorada numa clínica, eu não sou mais aquela pessoa, ninguém me perguntou o quão fudido eu estava naquela época e eu entendo que não merecia, mas eu só queria que alguém tivesse ao menos se importado. - Ele desabou quase chorando.
— Tudo bem Gabriel, eu só queria a verdade, nada disso muda o que eu penso sobre você. Na verdade tinha mudado, mas agora eu sei o seu lado da história, seu real lado, e eu te entendo, não vou te julgar por uma coisa do passado. - Falei segurando sua mão.

Entramos no restaurante, era chique e parecia caro, fiquei preocupada com o preço que pagaria aqui, mas Gabriel percebeu minha cara e falou para eu ficar tranquila que o dono era seu tio e ele nunca cobrava. Não fiquei muito confortável com isso, mas ele insistiu. Então pegamos uma mesa e assim que dou uma olhada ao redor do restaurante meus olhos se cruzam com o de Antonie em uma mesa do outro lado do restaurante com uma mulher na sua frente, incrivelmente elegante. Gabriel percebeu meu olhar e falou:
— Sim, é o professor Antonie, a maioria dos professores frequentam aqui.
Olhei para ele tentando disfarçar minha expressão de surpresa.
— Entendi, a mulher também é professora da EBS? - Perguntei fingindo não estar tão interessada.
— Nunca vi ela lá. Deve ser alguém que ele está saindo, ouvi dizer que ele é bem mulherengo. - Respondeu Gabriel com desdém.
— Vamos pedir? - Perguntei para mudar logo de assunto.
— Sim, o garçom está vindo.
Olhei novamente para mesa de Antonie enquanto Gabriel estava olhando para o cardápio, Antonie já não olhava mais para mim, tinha os olhos fixos na mulher na sua frente, não sei o motivo, mas senti uma pontada no peito.
— Mar, vai querer o que? - Perguntou Gabriel chamando minha atenção para o garçom que estava do meu lado.
— Uma salada Niçoise s'il te plaît.
Enquanto esperávamos os pedidos ficamos conversando, o Gabriel falou sobre a carreira da mãe, como ela o pressionava, falou sobre o pai e outras coisas que não consegui prestar muita atenção porque minha mente estava em outra mesa.
—Mas me fale sobre você Marie.
—O que você quer saber?
—Sobre sua vida em Londres, sobre você antes de vir para cá.
—Eu danço desde que me entendo por gente, amava Londres, não tinha muitos amigos, mas eu conseguia me divertir lá, saí com alguns garotos, mas nenhum me levou às nuvens, minha mãe é obcecada com minha carreira, meu pai é neutro.
—De repente me deu vontade de investir na carreira de astronauta. -Ele falou com um sorriso bobo.
Eu sorri de volta. Gabriel era lindo, gentil, legal e era possível, Antonie era uma ilusão que nunca poderia acontecer, não podia me deixar levar por uma aventura que não daria certo, que poderia me levar ao inferno.
—Eu apoio essa sua decisão. - Respondi olhando nos seus olhos.
A comida chegou e comemos enquanto conversávamos sobre os testes, as coreografias e a concorrência. Quando terminei falei com ele que ia ao toalete. Passei pela mesa do Antonie e me esforcei para não olhar para ele, quando ia fechar a porta do toalete alguém colocou o pé e entrou.
— Ei está ocupa... - Parei de falar quando o Antonie entrou e fechou a porta atrás dele.
— O que é aquilo? - Ele perguntou com uma cara de raiva.
— Aquilo o que? Você está maluco Antonie? Precisa sair daqui.
— Marie, aquele garoto não é bom o suficiente para você, tem um péssimo histórico.
— Não estou acreditando nisso. -Respondi rindo de raiva.
— Não ria, estou falando sério.
— Cuida da sua vida Antonie. -Disse tentando tirar ele de frente da porta para sair.
Quando cheguei perto dele ele me segurou e virou me pressionando contra a porta.
— Me diz o que você quer Antonie, porque até algumas horas atrás isso aqui não aconteceria nunca mais. - Disse com a respiração ofegante.
— Eu quero você, porra Marie, não consigo te tirar da cabeça. -Ele respondeu e pressionou seus lábios contra os meus e eu retribui porque precisava daquilo quase como precisava de oxigênio.
Quando nossas bocas se afastaram eu disse:
— Antonie, você estava certo, isso não pode acontecer. - Disse pegando na maçaneta e saindo.
Não podia me deixar levar pelas emoções que sentia quando estava perto dele, Antonie seria meu céu e meu inferno, eu só precisava do céu e conseguiria isso com o Gabriel, só precisava de tempo para sentir por ele o que sentia pelo Antonie.

O preço do seu silêncio Onde histórias criam vida. Descubra agora