Eu realmente não sei definir o que está rolando entre o Gabriel e eu, depois do beijo fomos ensaiar e nos beijamos mais um milhão de vezes, mas não conversamos sobre o que seria esse nosso relacionamento e espero que ele não queira discutir isso tão cedo, ainda não sei o que sinto por ele.
Estava a caminho do alojamento, e como é sexta a maioria das pessoas foram se divertir, eu só quero descansar. Quando cheguei na porta do meu quarto Ethan estava sentado lá, olhando para mim com uma carinha de cachorro abandonado.
— Amour, je suis désolé. Não queria te pressionar, eu fiquei preocupado, me desculpe mesmo.- Disse com uma carinha que não resisti.
— Tudo bem, mas não faça isso de novo, eu estou bem. -Falei aceitando o abraço de urso dele.
— Não me meto mais. Agora, qual vai ser a boa da noite? Vamos chamar o pessoal para sair? - Perguntou animado.
— Não estou nada afim, estou muito cansada. Que tal você entrar e assistirmos um filme e fofocarmos?
— Bonne idée amour, vamos.
Entramos e eu falei para o Ethan esperar que eu só iria tomar um banho e que ele podia ficar à vontade porque a Rose tinha ido passar o final de semana com a família, ele levou o à vontade bem a sério, quando eu voltei ele estava só de meias e cueca.
— ETHAN, se a inspetora Delphine te pega assim aqui estaremos ferrados. - Disse enquanto deitava do seu lado na cama.
— Calmer mon amour, Cérbero sabe que sou super gay e ela nem vai saber que estou aqui, deve estar cochilando na poltrona da sala de recreação. Acabei de me lembrar que preciso te atualizar sobre o caso Gen e Gabriel.
— Ele me contou sobre isso enquanto estamos ensaiando e (...)
— E o que? O que aconteceu?
— Olha, promete que não conta para ninguém?
— Vocês transaram na companhia?
— NÃO, meu Deus Ethan, quem faz isso?
— Todo mundo que estuda lá. - Falou como se fosse óbvio.
— Mas não foi isso, ele me beijou. Ele me contou toda a história da Gen e depois ele chorou e depois nos beijamos, foi isso.
— Mon amour tu es si innocent, ele te contou toda a história dele. Olha, eu amo o Gabriel, dançamos juntos desde os 6 anos, mas ele não é um príncipe.
Por um minuto eu tive um pouco de raiva, porque todo mundo ali se conhecia tão bem e eu não sabia nada sobre eles.
— Então qual a verdadeira história? - Perguntei quase desistindo de querer saber, não queria ter outra imagem do Gabriel.
— Para você entender toda a história é preciso contar tudo sobre cada um deles. Genevieve Bianchi, filha do casal Bianchi, os donos majoritários da maior empresa de vinhos da Itália, que posteriormente se tornou a maior da França sob os comandos dos pais dela. Menina rica, pais distantes, Gen entrou na companhia com 4 anos, a mais nova a entrar, ela ainda estava aprendendo a andar. Como você pode imaginar os pais a colocaram para se livrarem dela, mas depois a dança virou uma espécie de troféu para eles, então colocam muita pressão sob ela. Gabriel Muniz Gautier, a mãe brasileira, pai francês, são super influentes na sociedade francesa. A mãe foi uma famosa bailarina, Heloísa Muniz, dançou nas melhores companhias da Rússia, o pai é empresário. Assim como os pais da Gen, eles colocam muita pressão sob ele. Tá acompanhando?
— Sim sim, continua.
— Todos nós crescemos juntos, praticamente todos os bailarinos sofrem pressão dos pais, mas nenhum era como os pais da Gen e do Gabriel. Com os anos eles se apoiaram um no outro, como aliados, só eles entendiam o que passavam. Lá pelos nossos quatorze anos começamos a usar entorpecentes, mas era só em festas. Só que a Gen e o Gabriel começaram a usar drogas mais pesadas, como maconha, cocaína, encontraram nela um jeito de fugir da realidade de merda que eles viviam. Eles namoravam e se drogavam juntos, nessa época o desempenho deles foi um lixo e os professores começaram a notar. O Gabriel percebeu que mais cedo ou mais tarde isso ia chegar nos ouvidos dos pais, então deu um jeito de contornar a situação e culpar só a Gen. Ele conseguiu largar as drogas, o mais estranho é que para ele foi tão fácil quanto começar, pensamos que durante o tempo que a Gen estava na reabilitação ele iria ficar deprimido, só que na realidade ele ficou muito diferente disso(...)
— Fala Ethan, como ele estava?
— Amiga, ele deve ter fodido com quase a companhia inteira. Enquanto ele estava trepando com todas as bailarinas que o quisessem, e eram muitas, a Gen estava na merda. Quando ela voltou, ele disse que fez aquilo por amor, mas ela e nem ninguém acreditou nisso.
— PUTA MERDA, como sou burra, não acredito que cai na lábia dele.
— Não se sinta usada, ele mudou muito, até a Gen "perdoou" ele. O Gabriel é uma boa pessoa, só cometeu um erro porque estava desesperado, claro que não justifica, mas ele tenta melhorar pelo menos.
— Está tentando melhorar me contando uma história mentirosa?
— Pergunta difícil, eu disse que ele não era um príncipe, mas também não é um monstro.
Passei as próximas horas pensando em tudo que ouvi, o Ethan apagou do meu lado, mas eu não conseguia dormir com tudo aquilo na cabeça. Se o Gabriel tinha feito isso com a Gen, uma pessoa que ele cresceu junto, o que seria capaz de fazer com alguém que mal conhece? Mas e se ele mudou e eu estou o condenando a uma coisa que eu nem presenciei? Qual a relação entre eles atualmente? Se odeiam ou se toleram? Eram tantas perguntas que eu não conseguia parar de pensar.
Decidi descer na cozinha para beber um chá, por coincidência a Gen estava na janela da cozinha fumando.
— Bonne nuit. - Eu disse entrando.
— Bonne nuit, sem sono? -Perguntou ela.
— Sim, estou com insônia e resolvi vir beber um chá.
Ela não disse mais nada, continuou olhando para a escuridão que estava lá fora. Peguei o chá e já estava saindo quando não me aguentei e perguntei:
— Gen, você odeia o Gabriel pelo o que ele fez com você?
Ela olhou para mim e pensou por um tempo.
— Eu já estava quebrada a muito tempo, o Gabriel só terminou de me destruir. Não o culpo por ter me culpado por tudo sozinha, eu mesmo faria isso se ele pedisse, eu o culpo por ter me traído em todos os aspectos quando ele era a única pessoa que eu tinha.
Ficamos em silêncio por um tempo e foi como se eu sentisse toda a dor e vazio que existia dentro dela.
— Mas como eu disse mais cedo, eu já superei isso e não eu não o odeio, ele era tão fodido quanto eu.
— Obrigada por me dizer. -Sorri para ela e fui em direção a porta.
— E fala para o Ethan parar de fofocar da minha vida. -Disse ela com um sorriso de canto e voltou a fumar.Acordei às sete da manhã de um sábado, para qualquer pessoa normal isso é loucura, mas eu queria usar o dia para ensaiar e espairecer. Levantei devagar para não acordar o Ethan, me arrumei e fui para a companhia.
O porteiro me falou que a companhia estava praticamente vazia e que eu teria muito espaço livre para usar, mas como sempre fui para o estúdio B. Me alonguei e comecei a ensaiar, revisei cada passo que tinha aprendido essa semana, sem o Gabriel ficava mais difícil, mas não queria lidar com ele hoje.
Quando parei, e só parei porque já quase não tinha ar no pulmão, percebi que já tinham passado três horas, não queria ir embora ainda, então sentei para descansar.
— O que faz aqui em um sabádo Marie? - Perguntou Antonie surgindo das cinzas.
— Meu Deus, quando você vai parar de me assustar assim?
— Minha aparência é assim tão terrível?
— Na verdade é o oposto disso, quer dizer você não é feio, é bem bonito na verdade, quer dizer...
— Eu entendi Marie, você também é muito bonita. Na verdade é a criatura mais encantadora que eu já tive o prazer de ver.
Eu quase cuspi a água que estava na minha boca nesse momento.
— Por algum acaso você está me testando? - Perguntei.
— Testando para o que?
— Não sei, algum teste do tipo "sua aluna daria em cima de você, veja se ela merece ser expulsa".
— Não existe nenhum teste assim mon chéri. Mas se existisse, você seria pega por ele?
— Com toda certeza. - Falei rindo, mas um segundo depois percebi a merda que fiz e tentei contornar a situação.
— Quer dizer não, eu posso expli...
Ele chegou bem perto de mim e colocou o polegar na minha boca, como sinal que eu parasse de falar.
— Já te disseram que você fica linda quando está nervosa? -Ele perguntou tão perto do meu rosto que se eu me movesse dois centímetros nossas bocas encostariam.
Inexplicavelmente eu sentia meu coração bater mais rápido perto do Antonie, eu sentia todo meu corpo formigar de desejo, eu queria mais dele, eu sabia que era errado, mas eu precisava de sentir ele. Então o beijei com todo o fogo que existia dentro de mim e ele retribuiu como uma floresta inteira em chamas. Ele me levantou e eu enrosquei minhas pernas na sua cintura e ele me escorou no vidro da sala e me beijou intensamente. Até a noite passada eu pensava que o melhor beijo da minha vida pertencia a Gabriel, mas eu ainda não conhecia as chamas de Antonie Bernard e temia a mera possibilidade de ficar longe delas agora que as conheci.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O preço do seu silêncio
RomanceMarie Green sonha em ser uma bailarina renomada, quando ela passa para uma das melhores escolas de balé no mundo ela vê esperança nesse sonho. Nesse ambiente ela vai viver aventuras, conhecer pessoas e se envolver em um relacionamento que pode coloc...