Capítulo 6

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Pego um colchão de solteiro que fica guardado atrás do meu guarda-roupa e o pus no chão, lado-a-lado com minha cama, coloco um lençol e um segundo lençol para que se cubra já que a noite está quente, além de um travesseiro.

Com a cama pronta, tiro minha camiseta, tênis e calças para voltar a dormir, ficando apenas de cueca (Charles não veria a minha seminudez de qualquer forma). Sento na cama e espero Charles terminar seu banho. Ouço o chuveiro ser desligado e demora mais dez minutos para que ele abra a porta do banheiro. Ele desliga o interruptor da luz do banheiro antes de sair. Deve ter ouvido o interruptor quando liguei.

– Aqui. – digo para que ele venha para o quarto.

– Onde eu posso colocar? – pergunta entrando no quarto enchendo o ambiente com cheiro de sabonete e shampoo, segurando suas roupas dobradas no braço direito, segurando seus tênis com a outra mão e com a toalha no ombro.

– Vou colocar em cima da cadeira. – levanto e pego suas roupas, pondo em cima da cadeira da escrivaninha, a toalha nas costas dela e seus tênis no chão ao lado.

Foi então que entre as suas roupas acabo vendo sua cueca. Cinza. Boxer. Suspiro e tento tirar da mente que um cara está sem cueca no meu quarto.

– Quer alguma coisa? – pergunto me voltando até ele tentando me concentrar no seu rosto.

Ele não iria perceber meu olhar indiscreto, mas minha consciência não permite que eu faça tal coisa sem a sua percepção.

– Não. Está tudo bem. – responde, mas percebo um sorriso desconfortável no seu rosto.

– Fala. Do que você precisa?

– Bom... Água! – admite.

– Vou buscar. Volto já.

Vou até a cozinha e pego uma jarra de água gelada, bebo um copo (não faço frete grátis) e encho novamente. Subo de volta ao quarto e entrego o copo para ele, que está encostado na parede, entre a porta e minha cômoda.

– Obrigado. – agradece ele.

Enquanto Charles toma o primeiro gole, acabo olhando como ele ficou com minhas roupas. Descalço, mostrando seus pés brancos incrivelmente bonitos, suas pernas cobertas por uma fina camada de pelos castanhos claros ainda úmidos do banho, percebo que na sua canela direita tem uma fina e longa cicatriz, minha camiseta coube muito bem nele e o calção... sem cueca... Desvio o olhar.

– Então... – fecho a porta para que nossa conversa não acabe acordando meus pais. Encosto o ombro na porta virado para sua direção. – Você disse que não quer que sua mãe saiba dessa noite.

– É! – disse dando mais um gole na água.

– Por quê?

– Foi ideia dela.

– A boate?

– Sair com amigos. Mas a verdade é que não tenho amigos. Ela não entende isso, por mais que eu fale. – disse com uma ponta de irritação na voz.

– E com quem você saiu hoje, então?

– Colegas da escola e alguns amigos deles. Bons colegas são diferentes de bons amigos. No fundo ninguém se importa uns com os outros. Coisas do Ensino Médio. Não me surpreende o que aconteceu essa noite.

Ficamos em silêncio por um instante, ele de cabeça baixa segurando o copo com os dedos longos e eu encarando seu rosto com olhos fechados, que agora está suave e sereno.

– Meu filho! – falo em um sussurro.

– O que?

– Você tinha me perguntado se eu também tinha perdido alguém próximo a mim, naquele dia no Shopping. Foi meu filho! – confesso em um tom quase inaudível.

Azul e Outras CoresOnde histórias criam vida. Descubra agora