Capítulo 12

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– Aonde nós iremos hoje? – pergunta Charles enquanto o ajudo a prender o capacete.

– Pensei em você me levar para sair.

– Como assim?

– É só dizer o lugar que nós vamos até lá.

Ele parou por um momento e comprimiu os lábios pensativos.

– Certo. – disse sorrindo. – Vamos para o norte.

Não sei onde estamos indo, Charles apenas fala mais ou menos o caminho em que devemos ir e eu sigo as instruções descritas por ele. É um trabalho em conjunto, onde ele conhecia o lugar e sou os olhos. Como o capitão de um navio e seu fiel tripulante. Nos perdemos duas vezes até encontrar uma estrada de chão que sobe um morro alto saindo da cidade.

É um momento gostoso entre nós dois, com seu corpo colado ao meu, ouvindo sua voz abafada pelo capacete e por cima do barulho do motor da moto. Vez ou outra ele mexe seu polegar roçando o dedo no meu abdômen com suas mãos firmes se pretendo a mim e a cada vez que ele faz isso, sinto como se fosse um pequeno gesto de carinho e tento resistir a vontade de tirar uma das mãos do guidom da moto e afagar as costas da sua mão.

Depois de 20 minutos morro acima, paramos em frente a uma porteira de arame quase oculta entre a vegetação.

– Tem certeza que podemos entrar? – pergunto cauteloso enquanto desço da moto.

– Tenho. Bom... Já faz quase dez anos que não venho aqui, mas nunca foi um problema. – responde coçando a nuca.

– Nossa... Agora me sinto muito melhor.

Atravessamos a porteira e, com nossas mãos firmemente entrelaçadas, seguimos uma trilha entre a vegetação alta e as árvores com suas copas cheias e cercados pelo som de grilos, que anunciam o início da noite. Olho para o céu e vejo os últimos raios de sol sumindo no horizonte.

– Se eu soubesse que íamos nos enfiar no mato a noite, teria trago uma lanterna.

– Não se preocupe. – diz ele com o queixo erguido. – Eu te guio de volta. Andar no escuro é a minha especialidade.

– Disso eu não duvido. – comento rindo.

Depois de quinze minutos de caminhada e dobrarmos a direita na bifurcação da trilha como Charles orientou, seguimos a procura de uma grande rocha na qual nós teríamos que escalar, em meio ao fraco brilho do crepúsculo. Mas a caminhada até lá é longa. Mais que eu imaginava.

– Você por acaso vai me estuprar e largar meu corpo em alguma vala? – perguntei.

– Não. Por quê? – ele ri.

– Você sabe que eu não falei pra ninguém para onde estava indo, afinal nem eu sabia. E você me traz para o meio do mato em plena noite. Só pode querer me estuprar e me matar em seguida. – dou de ombros.

– Para que eu vou querer te estuprar se eu sei que você... – interrompe a frase como se tivesse se arrependido do que teria dito.

– "Pra que eu vou querer te estuprar se eu sei que você vai querer transar comigo por vontade própria?" – completei sua fala sorrindo. – Você está se achando muito, garoto. – empurrei-o levemente com o ombro.

– É você q-quem está falando. – gaguejou envergonhado, confirmando minha suposição.

Tenho certeza que ficou vermelho, a claridade já não permite perceber a mudança da cor da sua pele.

– Não. É você quem está falando. – digo rindo. – Mas saiba que você tem toda a razão. Não preciso ser obrigado a fazer isso.

Azul e Outras CoresOnde histórias criam vida. Descubra agora