Capítulo 20

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– Pronto. – avisei assim que termino o desenho.

Charles vem engatinhando na cama até mim, tateia o lençol da cama até encontrar minha perna e senta ao meu lado, encostando seu braço no meu.

Dou um beijo no seu rosto e entrego o caderno.

– Olha. – falo segurando sua mão, fazendo seus dedos delicados encostarem nas linhas em relevo no papel. – Essa é a cabeça. O braço. – deslizei seus dedos. – A mão. A perna. O pé com os dedos. – mudo sua mão de lugar. – O sol. E esse é o cacto. Consegue ver?

– Sim. – fala. – É desproporcional.

Largo sua mão e ele começou a passar seus dedos por todas as linhas do papel novamente.

– É propositalmente desproporcional. – explico. – Representa o trabalho braçal do povo nordestino, onde a mão de obra é mais importante do que a inteligência e esperteza do povo. Por isso a cabeça pequena e os membros grandes. É uma excelente critica social.

Olho seu rosto e fico admirando sua beleza. Engraçado como há algumas poucas semanas, quando a Cris o levou ao shopping e nós conversamos verdadeiramente pela primeira vez, eu descrevi beleza dele como comum, mas agora percebo como estava enganado. Charles sem dúvidas é o homem mais bonito que vi em toda minha vida. E seus olhos azuis sem focar em nada em específico e a boca semiaberta mostrando a pontinha dos dentes em concentração no desenho, fazem seu rosto ser mais atraente do que naturalmente já é.

Talvez minha opinião tenha mudado conforme os meus sentimentos para com ele mudaram, afinal quanto mais gostamos de alguém, mais bonito esse alguém fica para nós. E não acho que isso seja algo ruim. Muito pelo contrário.

Sim, eu definitivamente gosto do Charles.

Dou outro beijo no seu rosto e meu coração falha ao ver seus olhos se apertando em fendas com seu sorriso em reação.

– E agora?

– Vem. – falo apoiando minha mão na sua cintura e puxando seu corpo para mim, fazendo-o sentar no espaço entre minhas pernas, colando meu peito nas suas costas e encaixando meu queixo no seu ombro.

Charles pôs a folha em cima das suas pernas e eu coloco o rolo de arame e o alicate sobre seu colo e começamos a trabalhar.

Faço o trabalho dos olhos e guia, onde ele segura o pedaço de arame, eu seguro sus mãos e vou ajudando a moldar o arame até ir formando as figuras desejadas.

Primeiro fizemos o braço, seguido do tronco junto com o pé, fizemos o sol e o cacto. Cada peça separada das outras. Depois de todas as formas dobradas e cortadas, colamos o quebra-cabeça com a cola quente e no final ficamos com três peças: a pessoa, o sol e o cacto. Por fim fizemos um retângulo com o arame, que representa a moldura do quadro.

O projeto foi tão complicado como imaginávamos. Ficamos boas três horas até a conclusão do trabalho.

Apesar de difícil, foi muito divertido, pois ficamos nos conhecendo ainda melhor. Sem falar que ficar tão próximo dele, sentindo seu cheiro de sabonete e em contato com sua pele macia e morna, não é nenhum um sacrifício.

– Ficou muito bom. – falo dando um beijo no seu pescoço.

– Ficou igual?

Olho o nosso Abaporu.

– Bom... A cabeça tá um pouco estranha e o dedão do pé ficou maior que deveria... Mas melhor não fica. – concluo.

Ele riu e estica sua mão até meu rosto e acaricia minha bochecha com a ponta dos dedos. Abraço ele por traz bem forte e enterro meu rosto no seu pescoço, aspirando seu cheiro.

Azul e Outras CoresOnde histórias criam vida. Descubra agora