2 • Jung Hoseok

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A casa a frente era arrumada, principalmente se levasse em conta o caos que significava ter uma criança e um cachorro.

Jung Hoseok era um escritor que estava com vinte e cinco anos e um bloqueio criativo infernal. Sentia vontade de enfiar sua cabeça na privada e dar descarga.

Hoje exclusivamente, a vontade era fazer isso com a cabeça do vizinho da frente.


Queria pegar essa raiva e desconta-la nas teclas do seu computador, precisava acabar esse capítulo.

Essa não era sua profissão dos sonhos, nunca teve tempo pra pensar em alguma.

Na sua "aventura" dos dezoito anos acabou engravidando uma moça e só soube disso quando ela apareceu avisando que iria colocar aquele bebê para adoção.


Tinha um emprego na livraria do shopping na época, e o salário era deprimente, ainda que o local fosse legal, seu pai era apenas um professor de literatura, sua mãe uma costureira caseira, e sua irmã tinha acabado de entrar para faculdade.

Nunca tiveram boa condição financeira e Hoseok se viu perdido.

Para o bem daquele bebê, para que pudesse ter tudo e nada faltasse, para lhe dar uma chance, sabia que devia concordar.


Seu erro no momento foi ter pedido para vê-lo uma única vez.

Quando aquele rosto sereno abriu os olhos, redondos, brilhosos, enormes. Tudo desmoronou.

Era como se carregasse uma galáxia inteira em seu olhar.

Foi o melhor erro que cometeu em sua vida.


Escolher ficar com o bebê sabendo que ele não teria mãe seria delicado, seus pais surtaram, que pais não surtaria?

Era mais uma boca, mais uma vida e sabiam a restrição com que viviam.

Jiwoo foi pior, além do mesmo discurso dos pais, reforçava a inutilidade em não ter se prevenido.

Ele tinha.

Mas com sua sorte fantástica, havia sido aquele 2% que o preservativo tem como cota de ineficácia.


Entretanto, todos amavam Jungkook.

Eram avós maravilhosos, tia maravilhosa, Namjoon – seu melhor amigo, era um padrinho maravilhoso, mas Hoseok sabia que não poderia ficar para sempre na casa dos pais.

A preocupação trouxe consigo insônias, e as insônias trouxeram consigo criatividade.

Uma criatividade que nunca pensou que teria.


Começou com histórias curtas, fantasiosas, histórias que gostaria de ter vivido e que nunca viveria.

Com o tempo passaram a surgir histórias de terror, de romance. Eróticas...

Algumas plataformas pagavam por isso e foi assim que o fluxo iniciou.

Quando uma editora o procurou para publicar uma de suas histórias, não acreditou na sorte.

Obviamente não era nenhum Stephen King, mas pode largar o emprego na livraria para se dedicar a isso.

Foi aí que o autor "J-Hope" nasceu.


Aprendeu que precisava controlar finanças, pois era uma boa profissão, entretanto instável. Aprendeu que precisava aproveitar todo ciclo de criatividade, nem que fosse para guardar um enredo. Já que todos passam por momentos de entrave.


E assim o ciclo de conquistas fechou quando pode finalmente alugar uma casa para si e seu filho.

O presente que ganhou de Namjoon havia sido um poodle caramelo: Holly. E Jungkook parecia em êxtase com esse acréscimo.


Mas Hoseok sentia que algo ainda faltava.

Sempre teve essa sensação.


Daria um bom livro familiar que inicia sua jornada em um novo lar, certo? A família feliz.

Isso se não fosse o seu famigerado azar. O azar em questão tinha um metro e meio, era branco e ranzinza.

Seu vizinho veio como um aviso para que lembrasse que nada é ou será perfeito, nunca.


Metido. Sério. Insuportável. Frio. Insuportável. Ignorante. Já falamos insuportável?

Tinha a casa mais bonita da rua sem saída que moravam. Tinha um carro do ano confortável com banco de couro, mas não, Hoseok não era e nunca seria invejoso.

Ele podia estar pintado de ouro que ainda o acharia IN-SU-POR-TÁ-VEL.


E naquele dia, quando mais uma vez Holly fora acusado de invadir seu quintal, o Jung pode reafirmar isso.

Tudo bem, não era insensível.

Holly de alguma maneira desconhecida, amava aquele escroto.

A felicidade do seu cachorro era vê-lo nem que fosse pela janela. Era como se estivesse apaixonado pelo vizinho, Hoseok se sentia traído.


Não tinha tamanha devoção do cachorro para si. E ele quem comprava sua ração!

Mas Min Yoongi com seu jeito INSUPORTÁVEL de ser, havia conquistado seu animal.

Como se não fosse o bastante, Jungkook também gostava dele. O venerava.


Achava ele bonito, falava que o carro dele era igual ao do Homem de Ferro.

NÃO TINHA NADA A VER!

Além do que o Homem de Ferro tinha vários carros.

Tudo bem que precisava concordar que Yoongi era sim bonito. Não mentiria.


Talvez fosse o seu tipo ideal? Talvez.

Talvez Hoseok gostasse de caras baixinhos? Talvez.

Talvez gostasse do seu corpo compacto? Talvez.

Talvez aquelas pintinhas na bochecha e no nariz o distraísse? Talvez.

Talvez tivesse olhado mais de uma vez para a bundinha linda dele? Talvez.

Foram algumas vezes. Quem sabe umas doze?


Não se arrependia!

Às vezes sim. Naqueles momentos como os de agora que queria socar a cara bonitinha dele.

Esses momentos eram especiais para se arrepender de achar o vizinho atraente.

A única certeza que Jung Hoseok tinha era a de que odiava Min Yoongi.


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Até a próxima.

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