– Mandou me chamar, chefe? – Harry adentra a sala de seu patrão com um sorriso cansado estampando seu rosto enquanto segura vários papeis esperando por correção ortográfica. Ele não consegue deixar de olhar em volta, olhar para todos os livros de capa suja e observar, lentamente, a fumaça do cigarro do homem careca sentado à sua frente desfazer-se pela janela. Ele não consegue deixar de pensar que deve estar tão bagunçado por dentro como essa sala está agora.– Styles – O homem começa, o francês forte e alto chamando a atenção de Harry. – Gosto muito de você. Sabe disso, certo rapaz?
Harry esboça um sorriso e balança positivamente a cabeça, agradecendo mentalmente por Toulouse ter, basicamente, habitantes que falam extremamente lento. Se não fosse por isso, ele não entenderia uma palavra do que seu chefe fala.
– Pois bem – Ele continua. – Tinha oferecido as duas linhas na página final do jornal, você sabe, para evitar as críticas. Acontece que muitas pessoas gostaram, recebemos inúmeros elogios à sua escrita, aparentemente os franceses gostam desse clichê chamado amor e decepção.
Styles, inconscientemente, para de ouvir o que o homem tanto fala. Seu sorriso torna-se maior e, com o coração acelerado, pronuncia repetidamente merci, afinal, apesar de saber que leva jeito para a escrita, fazia tempo que não era elogiado por isso.
– Mas não estou aqui para inflar seu ego! – A voz do homem torna-se alta novamente. – Vou direto ao ponto: tenho uma tarefa para você, Monsieur. Preciso que faça uma crítica sobre a nova exposição do museu des angustins...Foi para isso que veio aqui, certo? – O homem pergunta mais para si mesmo, acendendo outro cigarro.
Talvez seja porque tudo visto pelos olhos verdes é imensamente mais forte, mas, após ouvir as palavras do homem, Harry sentiu como se toda a espera tivesse valido a pena. Ele não sabia se a linha de chegada estava perto ou não, mas era como se ele tivesse passado os últimos meses vivendo no automático e essa notícia tivesse despertado o Harry de tempos atrás. O Harry que sonhava em ser livre, em ter um lar e disposto a seguir seus sonhos.
– Não vou te pagar nada, Styles. Você fará essa tarefinha para mim, posso contar com você, certo? Quem sabe as pessoas gostam do que você tem a dizer – O chefe concluí, indicando com a mão que aquele assunto estava encerrado.
Harry caminha em direção a porta, meio acordado e meio sonhando, ouvindo as injunções finais. "Duas semanas e nem pense em passar disso. Vá naquele museu quantas vezes for preciso, nossos leitores estão caindo e eu preciso de algo bom", a voz do homem soava como uma música bem baixinha em seus pensamentos.
Ele entrara naquela sala comparando-se com um lugar bagunçado. Talvez fosse hora de começar a organiza-lo.
Desde que o carregamento da nova exposição tinha sido colocada no seu devido lugar, Louis não conseguia parar de checá-lo. Os quadros de um de seus artistas contemporâneos favoritos, Christian Schloe, combinavam com as paredes laranjas de uma forma inimaginável. Louis deduzia que os diretores do museu tinham finalmente escutado as suas recomendações, já que ele havia falado com um dos responsáveis sobre essa coleção na semana passada.
– Finalmente algo contemporâneo – Louis comenta em voz alta, conferindo se os nomes das obras estavam no lugar certo.
– Talvez seja melhor trabalhar aqui agora – Liam, um de seus colegas, desabafa. – Pelo menos eles são mais coloridos.
Louis gostava da companhia de Liam e de ter alguém para conversar em inglês, apesar de, às vezes, não entender o verdadeiro motivo dele estar ali. Pelas conversas que tiveram, o colega havia graduado em música e odiava a área de humanas, principalmente história, com todas as forças.
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Coïncident
FanfictionHarry é um escritor que busca pela oportunidade certa, com a saudade de casa ocupando suas veias sanguíneas; já Louis vive a sua vida dos sonhos, tirando a parte das frustrações - com pessoas e desejos - que aparecem em seu caminho. O mundo pode ser...