Casa: 1. edifício de formatos e tamanhos variados, geralmente de um ou dois andares, quase sempre destinado à habitação. 2. família; lar.
Desde que saíra da casa que passara toda sua infância em Holmes Chapel, da casa fortificada por tijolos brancos, inundada pelo perfume preferido de sua mãe e revestida por carinho, Harry procurava por todo o sentimento que sentia quando estava lá. Mas o mais irônico de tudo, talvez, é que ele procurava por algo em branco, uma tela vazia; quer dizer, ele deveria ir em busca de um ambiente grandioso que ele gastaria todo o seu salário para manter, ou atrás de algo simples e confortável que ele poderia passar as tardes assistindo filme e comendo pipoca?
Ele sempre manteve a primeira ideia em mente, talvez superficialidade fosse algo fácil de conviver. Mas a verdade? A verdade é que esse pensamento era tão "não-Harry" que nem a auto sabotagem dava certo. E essa ideia foi totalmente por água abaixo quando, buscando soluções irracionais para problemas racionais, ele procurou a definição da palavra "casa" e o tópico dois chamou sua atenção. Família. Ele não tinha mais uma família, não com ele em todos os momentos. Porém, o significado explicava muito sobre algo que ele tentava buscar: um círculo de pessoas que não são ligadas pelo sangue, apenas um grupo que tenha coisas em comum, afinal, isso também é família.
Agora, estático em frente à porta do seu minúsculo apartamento na França, ele não poderia ter a mente ocupada por outra coisa. Um filme passando mentalmente em sua cabeça, o torturando cada vez mais com lembranças de momentos que não estão prestes a acontecer. Ele pode sentir o clima frio típico da sua cidade natal, jura até que veste seu sobre-tudo preferido; ele pode ouvir a voz de sua mãe, Anne, falando no telefone com Gemma, sua irmã, as alterações dos timbres sempre foi algo que o arrancou sorrisos sinceros; ele está prestes a realizar a ação de girar a maçaneta...
Mas não é lá que ele está.
O tempo torna-se um frio desconfortável, que nem mesmo um casaco próprio para isso faria jus; não há voz de Anne ou Gemma, há apenas o barulho de buzinas e sirenes e de pessoas conversando extremamente alto - consequências de morar em um cruzamento em um dos centros mais movimentados. Não existe nem uma maçaneta para girar, apenas uma porta pesada e rústica esperando para ser puxada.
Quando olha para baixo, não é sua pasta cheia de manchetes esperando para serem corrigidas que o encara, mas sim uma mala imaginária contendo saudade e nostalgia. E o mais estranho dessa situação, não é a maneira poética e subjetiva que Harry vê o mundo, mas sim, o fato de que, quando ele abre a mala, não há nada dentro. E ele sempre passa um tempo exageradamente longo olhando para memórias que estão aos poucos sumindo, afinal, quanto mais tenta segurá-las, mais rápido elas se desfazem.
Entrando no apartamento devagar, uma luz de otimismo futuro entra pela janela da sala. Harry gostaria de agarrá-la e sanar sua curiosidade: para onde ela o levaria? Entretanto, a impressão é de que cada vez a luz fica menor; o otimismo fica menor. Ou talvez seja só o inverno se aproximando.
Parando para analisar a sua vida, Harry pensa que as coisas não poderiam ser diferentes. Ele foi para a França com uma promessa: tornar-se um crítico de jornais, alguém conhecido por dar opiniões. Talvez soe estranho, mas em Tolouse as pessoas ainda leem as notícias impressas. Esse era seu sonho e, quando recebeu a proposta assim que terminou a sua faculdade de literatura, ele jurava que havia conseguido. Com expectativas criadas ele se mudou para um lugar desconhecido, mas isso não era um problema, Harry gostava de ir para lugares em que era desconhecido. Ele só não considerara que talvez as coisas não acontecessem tão rápidas como nos filmes.
Um ano se passou, expectativas foram quebradas e, apesar dos olhos verdes sempre sonhadores e singelos, ele não sabia o que buscava mais. Ele estava longe de ser um crítico, estava mais para "o melhor amigo do chefe", que também pode ser chamado de um "faz tudo". Conheceu pessoas, essas que viraram colegas, depois amigos e agora eram desconhecidos. Ele jurava não se incomodar, jurava ser alguém que sempre preferiu a própria companhia, mas agora, ainda parado no centro de sua sala desarrumada, localizada em um apartamento com a pintura marcada pelo tempo, com uma mala de nostalgia&saudade em mãos e as vozes de seu pensamento ficando cada vez mais alta, ele percebe que não ter um lar, não ter uma família, o machuca muito mais.
A questão da vida é justamente ser síncrona. Uma pessoa pode estar passando por uma situação ao passo que outra também está. Harry pensava em sua família, assim como Louis. Ambos viviam revivendo momentos que não iriam mais voltar, ou até mesmo momentos que nem chegaram a acontecer.
Ler a dor não sentida, te faz sentir. E é isso que Louis fazia no momento, enquanto folheava o jornal sentado em seu sofá confortável do outro lado da cidade. Ele não sentia como se pertencesse àquele lugar, mas aprendera a chamá-lo de lar. O que havia chamado sua atenção era uma prosa bem pequena impressa no canto inferior da folha, ele não conseguia ver o começo, a tinta provavelmente estava acabando quando fora impresso, mas o final era bem claro:
"[...] Silêncio, muitas vezes, machuca pessoas. Não suprir o que é gerado em cima de você machuca, por isso amar pode ser complicado, principalmente porque, às vezes, pessoas não leem o amor da mesma forma; porém, você é responsável pelo o que faz, não pelo o que o outro entende. Ao mesmo tempo que é eternamente responsável por aquilo que cativa".
Louis não sabia ainda, mas esse era um pequeno trecho das mini-reflexões diárias que, com muita insistência, Harry conseguira publicar. Ele não era alguém que achava-se apto para escrever, mas subjetividade estava em sua vida em todos os momentos, então ele apenas juntou o útil ao agradável.
Apesar disso, o que Louis sabia, é que ele odiou a citação. Não porque era mal escrita, na verdade, fazia tempo que ele não lia algo tão bom nos jornais, mas sim porque era como se o mundo tivesse mandando uma indireta para a situação que ele vivia no momento.
Tudo começou com quatro anos de idade. Crianças são propícias a serem mimadas, mas não era esse o problema de Louis. Ele lembra como se fosse ontem, sua mãe, Jay, recontando essa história no Natal, a família reunida como se fosse realmente uma tradição.
Uma criança, filha de um desconhecido, pegou seu brinquedo favorito emprestado. Ele só o fez com muita relutância, tinha certeza que a menina de cabelos loiros o quebraria. E dito e feito: não só quebrou, como o escondeu e Louis só o achou dias depois. Quando soube, quis voltar ao lugar que tinha visto a tal da menina. Ele virou sua amiga e, durante os seis meses que foram amigos, ele sempre perguntou do seu brinquedo, apenas esperando uma confissão ou pedido de desculpas. Ela nunca o fez, mas o fato é que, desde esse momento, o traço mais marcante de Louis estava sendo traçado: ser rancoroso.
Durante todas as suas relações, ele foi alguém rancoroso. Não que ele gostasse de ser assim, mas os motivos para mudar também não venciam na lista de prós e contras. Ele conhecia pessoas e, se elas faziam algo banal, ele as cobraria até o fim, mesmo que isso acontecesse somente em seus pensamentos.
E o texto apagado do jornal apenas fazia tanto sentido, porque era o que sua vida no momento ditava. Criando expectativas ou não, amando ou deixando de amar, ele tinha cativado, não pessoas, mas sentimentos. Ele cativou um sentimento horrível como o rancor, agora era responsável por ele e por todas as decepções e afastamentos repentinos que eles causavam.
E, como dito, ele dizia não ligar, dizia ser acostumado em estar sozinho... Mas sentindo uma dor que não era sua e lendo uma história quase apagada pelo azar, ele percebe que ser assim, viver uma vida verossímel - apenas com eventos que se aproximam da realidade, porque ele os vive por tanto tempo que a chance de estarem distorcidos é enorme - o machuca muito mais do que gostaria.
E é isso que faz Harry Styles e Louis Tomlinson serem simultâneos; serem coincidentes.
...
Me digam o que acharam, por favor!! A citação é obra da sea (@/harryestfnl) que, inclusive, está escrevendo uma história linda demais - entrem no perfil dela pra ler!!
Vejo vocês semana que vem, talvez 🤍.

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Coïncident
FanficHarry é um escritor que busca pela oportunidade certa, com a saudade de casa ocupando suas veias sanguíneas; já Louis vive a sua vida dos sonhos, tirando a parte das frustrações - com pessoas e desejos - que aparecem em seu caminho. O mundo pode ser...