Capítulo Um

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Lucas , a alma racional

Sábado , 18 de agosto de 1990

12 dias para o novo semestre





Lucas estava falando sério quanto a biblioteca. Passou as últimas férias lá e se orgulhava disso.

O ritmo marcado pelo carimbo de tinta azul caneta. A responsável dava uma carimbada no livro , uma carimbada na lista de livros , uma carimbada no papel de carta dobrado.

Adorava a forma de como o castelo bruxo era arquitetado com pilastras brutas de pedra ao mesmo tempo delicadas com os arcos da janela , o estilo gótico da biblioteca com suas longas estantes e silêncio absoluto, é um pouco poético.

Adorava os tons escuros dos móveis e da vela de cera em cima da mesa , a iluminação era feita delas flutuando no alto. Se alguma interferência a mágica do lugar chegasse ali com toda certeza ia por fogo em todos os livros. Ou não... Não tem muito como saber.

Ele estava encarando o globo em cima da estante com alguns livros grossos de capa dura organizados por assunto , e girava por si só.

Silêncio... ó doce silêncio solilóquio. Seu tempo para aproveitar isso estava acabando.

Em breve teria que voltar a ajudar o primo nos seus estudos dos animais na cabana. Era péssimo nisso.

Se bem que aprender sobre os pássaros não era tão ruim , conseguiu entender finalmente que tudo ali existia por um motivo. Pegou certa facilidade em identificar uma coruja irritada por não ter sido paga , pois era completamente diferente de uma mortalha avisando que vem uma baita chuva pela frente. Cada gorjeio é um gorjeio único. O cava-charco era bonzinho também , meio difícil de identificar no meio do pantanal , mas depois que conseguiu ficava procurando um em todo terreno enlameado.

Foi o caipora , ser infeliz , que o fez detestar entrar na floresta e descobrir outros segredos. Imprevisível , sem lógica e risonho. A personificação da imbecilidade e zombaria sem sentido. Só uma coisa ficou clara : Eles não colocaram essas coisinhas de guarda porque eram bons , colocaram eles de guarda porque eram maus. Logo , é bom que estejam a vista para que coisas piores não cheguem tão perto. Lembrou-se de um ditado-paródia do tio :

" Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá , mas se encontrar um desses bichos é melhor sair de lá "

Gostava de como tudo cheirava a livros limpos , e o som do passar de folhas da bibliotecária. Passava sempre desejando ler os livros proibidos se perguntando que tipo de história macabra tem lá , quantas crianças morreram e porque morreram , gostava de visualizar uma história em casa um deles , um nome , um personagem e um vilão. Todos os vilões pareciam com o professor de criaturas , curiosamente todos mortos no final.

Era um hábito que não conseguia parar , quando pedalava com a caixinha de engraxate para conseguir uma grana extra para si fazia a mesma coisa com os prédios e janelas. O que estava ali atrás ? Uma família boa , uma briga por times , um cachorro solitário uivando para o sofá, ou só uma poça de sol que sobrou no fim de uma tarde esperando os donos da casa retornarem para ser apreciada.

Ficou encantado com as imagens das paredes se movendo quando tinham vontade , o teto do salão de entrada era uma cúpula grande e os entalhes brigavam uns com os outros , portugueses e índios se desentendendo pelos corredores e formando alianças. Por vezes acompanhou o desfecho de cutuques e dedos médios nas paredes correndo pela sala , a bibliotecária costumava mandar que parassem ameaçando fazer com que fiquem parados como os normais fazem.

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⏰ Última atualização: Aug 28, 2022 ⏰

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