A peça que faltava no quebra-cabeça

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Magnus

Três meses, duas semanas e cerca de... eu brinquei com a pulseira do meu relógio, enquanto olhava para a hora, duas horas. 

Eu não tinha a intenção de controlar quanto tempo se tinha passado desde que acordei da cirurgia, mas não conseguia parar de contar os dias desde que toda a minha vida tinha mudado.

Ou desde que me apercebi disso, melhor dizendo.

— Magnus? Você ouviu o que eu disse?

Pisquei para minha mãe, cujos olhos se estreitaram enquanto ela fazia uma rápida inspeção para garantir que eu não estava desmoronando.

Pelo menos ela não seria capaz de dizer que algo estava errado pelo lado de fora, pois eu tentei sorrir para acalmá-la.

— Desculpe, o que você estava dizendo?

— Eu estava te perguntando se você tem certeza que não quer que eu te dê carona amanhã? Para o acampamento de Música?

Balançando a cabeça, tomei um gole do meu café. 

— Não, não é tão longe do meu apartamento. Eu irei a pé, mãe.

— Mas são alguns quilômetros. E vai estar tão abafado.

— Não tem problema.

Um suspiro escapou dela enquanto ela batia os dedos contra sua caneca, e eu podia perceber que ela estava tentando segurar a língua. E eu esperava que ela o fizesse. 

Meus nervos já estavam à flor da pele com as duas horas que passei sob seu intenso escrutínio durante o café da manhã de domingo, e não demoraria muito mais para me levar ao limite. 

O problema era que eu conhecia minha mãe muito bem. Ela estava louca para dizer outra coisa, para me convencer de que estava sendo teimoso e que deveria fazer o que ela achava melhor.

Como previsto, um minuto depois, minha mãe falou novamente.

— Eu simplesmente não percebo porque você não deixa seu pai ou eu darmos carona para você. Não seria nenhum problema.

— Porque é desnecessário, e eu tenho duas pernas que parecem estar funcionando bem.

Sua carranca se aprofundou. 

— Magnus... Eu sei que você não está pronto para dirigir novamente, então gostaria que nos deixasse te ajudar. Honestamente, eu me sentiria melhor se você me deixasse...

— Mãe. — Eu disse, batendo na mesa com a mão, e minha voz saiu mais afiada do que eu pretendia, a fazendo se assustar. Esfregando minha testa, controlei minha irritação e, quando falei novamente, me certifiquei de que meu tom fosse mais suave. — Eu entendi.

— Claro. Claro que você entendeu. — Ela mordeu o lábio e suas mãos tremeram quando ela levantou a caneca de cerâmica lascada que minha irmã mais nova, Catarina, e eu tínhamos dado a ela há mais de uma década que dizia "A Melhor Mãe do Mundo". 

E ela era. Realmente, era. 

Ela tem sido uma santa durante as semanas intermináveis de recuperação, me ajudando a voltar ao meu apartamento, me encontrando um emprego temporário de verão...

Suspirando, estendi a mão sobre a mesa para pegá-la e, quando ela baixou a caneca, colocou a mão na minha. 

— Eu sinto muito, mamãe. Eu não quero discutir com você. Eu só quero que as coisas voltem ao normal.

Se lembre de mim (Malec)Onde histórias criam vida. Descubra agora