Sacada

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Uma semana já havia se passado desde que Richard me jogou na cara sobre nosso relacionamento sem sexo. Ele me procurou na escola, queria saber se poderíamos conversar, eu o evitei, juro que sim, mas o garoto era insistente demais e como a perfeita boba que eu sou, resolvi dar a chance de uma última conversa, mas estava convicta de que nós dois éramos uma conta sem um resultado positivo. Marquei com ele aqui em casa, achava mais seguro dessa maneira, já que ele não tinha um autocontrole muito confiável.

- Vocês pareciam se dar tão bem Nola. - As duas únicas pessoas que me chamavam por esse apelido eram minha mãe e Aidan, por incrível que pareça.

- Eu percebi que queremos coisas diferentes mãe. - Não queria mentir pra ela, mas tampouco queria entrar no assunto sexo.

- É você quem sabe meu amor, faça o que te faz feliz. As vezes o caminho da felicidade é tortuoso, mas é só um percalço para que você a alcance, afinal, não tem graça quando é fácil demais não é?

- É. - Concordei sorrindo.

- Acha que estou filósofa demais? - Perguntou-me de brincadeira.   

- Acho dona Lexi. - Ri. - Mas sua filosofia me ajuda muito.

- Que bom.

-Vai sair hoje? - Perguntei.

- Como você sabe?

- Ah, é que... Você pintou as unhas e está evitando lavar a louça.

- Nola, Nola. Você me conhece mais do que eu mesma mocinha.

Sorrimos em concordância, lavei a louça para minha mãe, enquanto ela varria o chão da cozinha. Um retrato de meu pai e eu ornamentava o topo da geladeira, eu sentia tanto a falta dele, mas ele resolveu nos abandonar. Me pegava pensando nele, no sorriso largo e as rugas que formavam ao redor de seus olhos quando sorria. Lembro de esperá-lo no pátio, ansiosa. Em um desses dias, esperei até adormecer, mas ele não voltou. E no dia seguinte, e no dia seguinte... Até que naturalmente fui parando e esquecendo dele, certas vezes tenho que olhar fotos para relembrar seu rosto, é como um estranho conhecido em minha vida.

Durante treze anos minha mãe praticamente se absteve de homens, hoje ela sairia com um, não sei se isso me deixava mais feliz ou apreensiva.

- Quem é ele? - Perguntei, concentrando-me em ensaboar a louça direito.

- É um cara lá da Yoga. - Sua voz parecia meio sonhadora, mas eu não a olhei para comprovar o fato. - E antes que digas que ele é gay por estar na Yoga, ele não é, na verdade, ele é o professor.

Larguei a louça e me virei para encará-la.

- Uau. Ele é assim... Do tipo gostosão?

- Sim. - Ela bateu palmas. - E tem uma elasticidade...   

- Mãe! - Me virei para a pia, morrendo de vergonha.

- Vamos lá Nola, acho que tens idade o suficiente para conversar sobre isso. - Mantive o silêncio. - Agora fiquei curiosa. - Ah não. - Você e o Richard nunca...? - Deixei cair o prato que segurava. - Acho que isso responde a minha pergunta. - Ela parecia frustrada. - Mas acho que você poderia ter conversado comigo.

Lavei as mãos cheias de espuma e resolvi esclarecer as coisas com ela.

- Poupe-se disso mãe. Eu ainda sou... É... Virgem. - Sério, queria me enterrar. - Foi por isso que terminei com Richard, ele queria e eu não me sentia pronta. - Sentei-me na mesa, ela fez o mesmo.

- Você fez o certo. - Ela apoiou o queixo na mão fechada em punho. - Tenha paciência, não deixe nenhum homem lhe persuadir. Quando alguém gostar de você realmente, ele vai conseguir esperar o tempo necessário para tê-la.

𝐁𝐨𝐫𝐧 𝐓𝐨 𝐌𝐞 | 𝐀.𝐆. ❪ 𝐬𝐥𝐨𝐰 𝐮𝐩𝐝𝐚𝐭𝐞𝐬 ❫Onde histórias criam vida. Descubra agora