O sol da manhã hostilizou meus olhos sensíveis, pus o travesseiro na cara, impedindo que toda aquela luz acabasse de vez por me sentenciar a eternidade na cama. Ao abrir os olhos, senti pela primeira vez o que as pessoas chamam de ressaca, a cabeça a ponto de explodir, a garganta ressecada, os olhos que embora abertos pareciam batalhar para permanecerem fechados.
Levantei de uma só vez, pois se dependesse de minha vontade, meu corpo só levantaria se grudado ao colchão. E o restante da ressaca ainda fazia outros efeitos, minha coordenação motora não era das melhores, pois, antes mesmo de entrar no banheiro devo ter tropeçado em meus próprios pés por duas vezes seguidas. Me apoiei na pia e com mais pasta que o necessário, escovei os dentes para tirar aquele gosto de álcool. O chuveiro me parecia convidativo, mas hoje amanheceu excepcionalmente frio e minha cabeça doeu ainda mais só em pensar no choque térmico assim que saísse da água quente. Então somente joguei uma água no rosto e encarei o mesmo no espelho, algumas olheiras arroxeadas eram visíveis e o restante de maquiagem escorria por minhas bochechas, meus lábios vermelhos estavam bem vivos como se tivesse passado batom, toquei-os de leve com a ponta dos dedos frios, fechei os olhos com a lembrança breve da boca de Aidan na minha, os abri tão rapidamente, tentando me certificar que não fora apenas um sonho.
Mas não, eu sabia que não, porém, fora só um encostar de lábios. Talvez algo que ele fez por impulso, e eu não queria me agarrar a algo tão vil. Percebi que vestia um pijama, mas não me recordo de tê-lo colocado, aliás, não lembro nem como cheguei até meu quarto. Lavei o rosto uma vez mais e desfiz os nós dos cabelos com os dedos, troquei minha roupa por um conjunto de moletom bem quentinho e confortável azul bebê, meu celular marcava exatas duas e meia da tarde. Eu nem acreditava naquilo, nunca havia acordado tão tarde, calcei um par de meias grossas e desci as escadas com um cuidado excessivo, me apoiando no corrimão com força.
A TV estava ligada e vi minha mãe sentada de costas pra mim, algum programa idiota de fim de semana prendia sua atenção. Ainda assim, com aquela telepatia horrível que só saberei quando for mãe ou eu fazia mesmo barulho ao descer os degraus, sua voz ecoou no ambiente.
- Até que enfim Browning. - A voz dela tinha um toque de humor, mas em se tratando de dona Alexa, não poderia afirmar com certeza.
Me esgueirei até seu lado, ela abriu os braços e me aconcheguei em seu colo como uma criança pequena. Ela me abraçou e cheirou meus cabelos.
- Pensei que não iria acordar nunca. - Disse-me, mantendo os braços em meu entorno.
- Antes que me dê sermão, lembre que você me liberou.
Saí de seu abraço e me esparramei no sofá ao seu lado.
- Pensei que você seria mais precavida. - Me olhou curiosa. - Aliás, como você ficou bêbada? Não vi você bebendo tanto na festa.
- Bebi mais no final. - Justifiquei sem graça. - Não sei o que me deu. Talvez o fato de estar sozinha. - Menti descaradamente, mas não podia contar sobre meu querido vizinho.
- Tudo bem, todo mundo já pegou um porre na vida e o seu nem foi nada demais. Você é uma bêbada boazinha e consegue cooperar um pouco. Nem tivemos muito trabalho para levá-la pro quarto. Tome mais cuidado na próxima. - Ela piscou.
- Tivemos? - Ignorei seu último aviso.
- Ah sim. Você sumiu da festa sem me avisar mocinha, fiquei preocupada. Perguntei de você pra todo mundo e nada, então resolvi vir te procurar aqui em casa e graças a Deus Aidan veio junto e carregou você pro quarto. - Meu coração bateu tão forte que o senti latejar em cada maldito poro. - Esse rapaz não existe. Sabe, ele se preocupa muito com você, já veio aqui duas vezes a sua procura, acho melhor você ir até lá falar com ele depois, agradecê-lo por ter lhe carregado, e você pesa muito. - Ela caiu na risada com a piadinha de que eu estava gorda, tentei algo como um sorriso, sem saber se estava funcionando.
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𝐁𝐨𝐫𝐧 𝐓𝐨 𝐌𝐞 | 𝐀.𝐆. ❪ 𝐬𝐥𝐨𝐰 𝐮𝐩𝐝𝐚𝐭𝐞𝐬 ❫
FanfictionAidan Gallagher e Enola Browning. Dez anos de diferença de idade. Ele a pegou no colo ainda recém-nascida. A viu dar seus primeiros passos, balbuciar as primeiras palavras e a viu passar por tantas e diversas experiências ao longo dos anos. Ele viu...