SOUTHAMPTON, INGLATERRA. 10 DE ABRIL DE 1912, 11:49h
95 horas e 51 minutos antes do naufrágio
"Então vem sempre aquela voz me dizer: O começo é sempre hoje!"
- Trecho de "Frankenstein" (1818), romance de Mary Shelley, registrado no caderno secreto de citações das autoras favoritas da srt.ª Lily R. EvansAinda dentro do automóvel, acompanhada por Snape, é claro, a srta. Lily Evans vislumbrou o "Navio dos Sonhos" assim que estacionaram em comitiva depois de quase atropelarem um fotógrafo distraído. A grande onda de buzinados abriu uma lacuna onde antes haviam pessoas que, ao julgar pela aparência, embarcariam na terceira classe.
À frente, automóveis semelhantes ao que ela estava eram erguidos em direção à grande embarcação. Pessoas de todas as classes se agitavam no porto de Southampton acenando para alguém embarcado. Gaivotas sobrevoavam estranhadas a tripulação de uniforme escuro que estava a bordo berrando comandos aos seus subordinados. O material metálico que reluzia contra a luz do Sol do meio-dia quase feria os olhos verde-esmeralda de Lily.
Milissegundos após os estalos das portas sendo abertas, Fabian, um dos motoristas gêmeos que os guiaram, a estendeu a mão enluvada para me oferecer apoio, em um gesto de cavalheirismo, ao mesmo tempo em que Snape escondia o relógio de bolso e praguejava algo sobre a quantidade excessiva de pobres desafortunados que nos rodeavam.
Quando a srta. Evans deixou o automóvel, usava um chapéu roxo ridículo – que não consideraria ridículo caso não fosse presente de seu adorado prometido. Suas roupas conversavam em tons de bege e branco, cuidadosamente selecionadas por sua mãe, assim como as luvas ligeiramente limpas e sapatos impecáveis. De acordo com ela, entes de saírem em direção ao porto, mais cedo, Lily estava impecável.
A grande embarcação da White Star Line, diante deles, a desencorajava. O RMS Titanic era o mais novo brinquedinho construído por uma das principais empresa da família de Severo, a Snape Industries Limited. Ele nunca esteve tão feliz em se gabar por algum feito (embora, convenhamos, ele não tenha participado de absolutamente nada em sua construção, nem ao menos esteve presente no decorrer do processo de desenvolvimento do projeto do navio).
Lily o odiava por isso.
Realizariam uma rota direta que partia de Southampton, Inglaterra, até Nova Iorque, nos Estados Unidos da América.
Um traço de desânimo lhe abateu a expressão imparcial depois de se lembrar daquilo.
Embora a srta. Evans nutrisse uma paixão profunda pelo mar, seria uma longa viagem, tendo em vista que toleraria as frivolidades de sua irmã Petúnia e de sua mãe, Margaret, assim como as investidas nada sutis de Snape, seu futuro noivo indesejado que provavelmente lhe faria um pedido de casamento assim que estivessem a bordo. Absolutamente ninguém na Terra era merecedor de tamanho castigo.
E por pensar nas diabas, se puseram Margaret e Petúnia próximas a ela.
– Chegamos bem na hora! Está animada? - Inquiriu Snape, e ela quis vomitar quando ele entrelaçou um braço no dela e sorria.
Lily não se deu ao trabalho de responder. Aquilo se tornaria um monólogo, eventualmente. O homem adorava se ouvir falar. Lily também o odiava por isso. E foi exatamente como ela previu. Ele falou, falou e falou, sempre próximo a ela, o tom de voz orgulhoso como o de alguém que havia descoberto ouro na Califórnia. Em um minuto e meio, o homem falou sobre o material muitíssimo resistente do navio, sobre a altíssima qualidade dos motores e sobre tempo recorde em que a construção havia sido feita.
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Remanescentes • JILY/Titanic⚓
Roman d'amourA última coisa que lady Lily Evans esperava viver a bordo do RMS Titanic era uma aventura trágica ao lado de um pobre desenhista desafortunado e alguns novos amigos. Estória inspirada no filme "Titanic" (James Cameron, 1997).