One

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Point Of View - Sn (seu nome)

Caminho a passos leves pela minha casa, descendo as escadas lentamente enquanto meu pai me espera na ponta da escada. Ele sorri e estende a mão. Encaro sua mão no ar e ignoro, caminhando em direção a porta e ouvindo seu suspiro cansado de quem atura essas birras a mais de três anos.

- Filha... - ele começa.

- "Você precisa me acompanhar", "Você já tem vinte anos", "Você precisa conhecer as pessoas com quem vai trabalhar futuramente" e eu já disse para você que eu vou reabrir a escola da mamãe. - disparo como num loop, sempre o mesmo discurso todas as noites que tenho que ir para esses cassinos, e mesmo assim, é como se eu fosse a menininha rebelde ou como se ele simplesmente fosse surdo.

- Tudo bem, eu já te entendi, vamos logo - ele passa por mim com as mãos nos bolsos, seus sapatos com pequenos saltos emitindo um suave barulho, ando atrás dele em silêncio.

O caminho até o cassino foi assim, silêncio. Ele já desistiu de me fazer entender faz tempo, nem tenta mais, mesmo cansado de ter que ouvir as mesmas lamentações de saudades todas as vezes, ele não desiste de me levar, porque é assim que ele sabe que me mantém perto. Me obrigando a estar perto.

A minha mãe morreu num acidente de avião enquanto viajava com seu antigo grupo de dança, na época eu tinha uns oito anos. Desde então o meu pai me mantém trancada, não a sete chaves, a vinte e uma. A música era o sonho e a vida da minha mãe, e é o meu sonho e a minha vida, é o meu combustível, me dá mais ânimo para viver em um mundo cheio de corrupção e dinheiro sujo. Já o meu pai, o senhor James não tem sonho ou vida, ele tem um trabalho pra ganhar o que ele ama. Dinheiro.

O meu pai me trata como uma princesa, eu tenho dois carros, três motos, um apartamento na cidade vizinha, um aquário, três cachorros... mas tem uma coisa que ele me diz que nunca dará enquanto não cumprir com suas condições... A chave da escola da mamãe.

Minha mãe vivia dentro daquela escola, o chão de madeira macia, um espelho que preenchia uma parede inteira, um espaço com pelo menos trezentos metros qudrados, era tudo muito confortável, tudo muito limpo, tudo muito vivo, tudo muito meu...

Aquilo tudo era para mim... Aquilo é pra mim e algum dia vai ser meu, nem que eu tenha que procurar no céu e no inferno por aquelas chaves. Como filha única, acabou que eu fiquei responsável por tudo o que lhe pertencia, por escolha dela, uma casinha de praia, um carro antigo e alguns milhões muito bem guardados na minha conta no banco e... as benditas chaves.

Seguindo as condições de meu pai, eu tenho que herdar sua empresa, ou seja, lidar com tudo aquilo que ele faz porque ele ama dinheiro, e, me casar com um homem que ele escolha. Um sacrifício por amor ao meu sonho? Talvez, mas eu posso esperar um pouco mais até ver se consigo amolecer aquele velho coração amargurado.

♤♡◇♧

Velhos, barrigudos, fumantes e pinguços, meu campo de visão era infectado por muitos desses, um padrão deles. Alguns com copos nas mãos, outros com putas no colo, outros jogando sinuca, poker, ou apenas conversando mesmo, se é que vocês me entendem. Conversar sem tirar a mão do coldre é um sinal de que alguém está devendo alguma coisa.

Os mafiosos ficam tranquilos porque sabem que não podem criar alvoroço dentro de cassinos. Cassino é ilegal afinal, e ninguém quer causar um caos e ter que chamar a polícia para passar meses puxando a ficha criminal de cada um aqui dentro. Levaria um tempão, pelo menos até que eles paguem por todos os crimes, é, pelo menos uns 70 anos, no mínimo.

Meu pai ameaça se afastar de mim e me agarro ao seu braço.

- Ah, agora você quer ficar perto - a voz rouca do homem idoso chega aos meus ouvidos em tom de sarcasmo.

Fogo e Gasolina - Josh BeauchampOnde histórias criam vida. Descubra agora